Resumo de filosofia: Schopenhauer e Kierkegaard – o Idealismo alemão e o Existencialismo



Schopenhauer e Kierkegaard – o Idealismo alemão e o Existencialismo 

Conforme observamos nas obras de Kant e de Hegel, a Filosofia se dedicava aos estudos do sujeito e as consequências dessas ações para si e para o mundo. Hegel era considerado o maior filósofo da sua época, e foi fortemente criticado pelo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) e pelo dinamarquês Søren Aabye Kierkegaard (1813-1855). Foram autores que ganharam notoriedade durante o século XIX e XX e veremos suas teorias acerca do indivíduo, da vontade e da liberdade.

Figura 1 - Arthur Schopenhauer - 1852 - Jacob Seib [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Schopenhauer_1852.jpg">via Wikimedia Commons</a>

 

Schopenhauer nasceu na Prússia no final do século XVIII, filho de comerciantes abastados e isso foi motivo de desgaste no relacionamento com sua família, que exigiu que assumisse os negócios. Com a morte do pai, decidiu abandonar a carreira dele e estudar filosofia. Viveu uma vida de dificuldades financeiras e falta de reconhecimento da Academia. Sua teoria, contudo, se tornou grande influência para autores como Nietzsche (1844-1900) e Freud (1856-1939). Sua obra seminal foi O Mundo como Vontade e Representação, publicada em 1818.

Para Schopenhauer a realidade é impenetrável ao conhecimento humano, portanto, o que vemos de real é uma representação do mesmo, pois nós não temos a capacidade de conhecer a verdade em si. Ele enquadra no tempo e no espaço essas representações, o que mostra a influência de Kant em seu pensamento. Além disso, “o mundo como vemos” tem referência tanto da filosofia e religiões orientais, como Hinduísmo e Budismo, e de Descartes.

O indivíduo, neste caso, é movido pela vontade, conceito fundamental no seu pensamento, algo inconsciente que rege a vida. O instinto é algo importante na forma de enxergar como o ser humano age. Nós temos agência, mas o que guia nossas ideias é a vontade. Esta é, portanto, a essência da vida, o combustível que faz tudo caminhar.

Um ponto importante é que a vontade causa sofrimento, pois nossos desejos não são satisfeitos ao longo da vida. Schopenhauer discute que a vida é um processo de dor e de busca pelo contentamento, que nunca ocorre de forma plena, pois quando conseguimos o que queremos vivemos o tédio, e o ciclo começa novamente. Por isso que para se alcançar a liberdade e a felicidade de fato, o indivíduo deve se despir do querer. Para ele existiam 3 níveis para se eliminar o desejo:

- Estético: quando nós deixamos de querer o material e entendemos a essência e a ideia dele. Por exemplo, uma escultura pode ser desejada pelo objeto em si, mas quando conseguimos abstrair e, por meio da arte, compreender a sua importância.

- Ético: quando nasce a consciência de que somos parte de um todo e não apenas um indivíduo, diminuindo a ação do ego para entender que o ciclo de prazer e sofrimento permeia toda a humanidade.

- Ascético: quando o indivíduo alcança o desapego do mundo material e consegue anular o desejo.

O mundo como representação, por ser meu, atinge o nível do sensível e é um fenômeno, que é a ilusão que cobre a realidade das coisas, como se fosse um “véu de Maya” que esconde a realidade. Somente quando se percebe que esta é a vontade, que, por sua vez, é a força motriz, ele se liberta.

 

Figura 2 - Søren Kierkegaard - Niels Christian Kierkegaard - c.1840 - La Biblioteca Real de Dinamarca [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:S%C3%B8ren_Kierkegaard_(1813-1855)_-_(cropped).jpg">via Wikimedia Commons</a>

 

Kierkegaard, por sua vez, era um filósofo dinamarquês que não teve repercussão em vida, mas alcançou prestígio entre os filósofos posteriores. É importante destacar que estudou teologia por anos e esse relacionamento com Deus é fundamental em sua teoria. Foi um dos principais críticos de Hegel, pois este focava tanto na abstração da consciência histórica que deixava de lado a discussão sobre a existência, o maior tema da filosofia, de acordo com o autor. Por isso que Kierkegaard é considerado o “pai” do Existencialismo.

Escreveu algumas obras, entre as principais estão Aut-Aut, em 1843, na qual descreve os modos de vida, além de Tremor e tremor, de 1843, Migalhas de Filosofia, de 1844, O conceito de angústia, de 1844 e a Apostila conclusiva não científica, de 1844. Seu foco também residia no indivíduo. Se baseava em dois grandes pilares estruturantes: a Liberdade e o Propósito na vida. Ele acreditava que todos tem vontade própria e são donos das próprias ações.

Antes de pensar grandes ideias, ele tentava entender a existência individual, destacando a subjetividade das escolhas. A vontade, como Schopenhauer, é que determinava a moralidade do sujeito. Porém, essa liberdade de escolha é angustiante e desesperadora. A angústia é constitutiva da existência e nos coloca em um espelho, enfrentando nós mesmos. A partir dela, podemos desenvolver um senso de responsabilidade e consciência. Para entendermos melhor, criou o chamado modo de vida, uma espécie de regra ou caminho pelo qual o sujeito deve passar para chegar na fase plena.

- Estético: é a busca pura pelo prazer. O foco na vida é satisfazer os próprios desejos sem se importar com consequências.

- Ético: um passo à frente do estético porque já possui alguns valores como justiça, moralidade, política. O indivíduo passa a se enxergar como parte de um grupo e medir as consequências das suas ações.

- Religioso: é o estado mais evoluído, quando o indivíduo se entende por completo e aceita as graças divinas.

O papel de Deus é fundamental porque é a partir da compreensão de que a vida e tudo o que temos vem Dele, que é figura constante. Esse aceite da figura divina traz a liberdade e o fim da angústia, pois acabam as ilusões. Kierkegaard é considerado existencialista porque enxerga que o modo de ser do indivíduo é a existência e a escolha do que quer ser. 

 

No Vestibular...

Tanto Schopenhauer quanto Kierkegaard passaram a ser cobrados com mais frequência nos vestibulares há pouco tempo. Os conceitos de desejo, vontade, existência são os pontos que apareceram nas provas, mas é importante entendê-los no contexto em que esses autores formularam suas ideias.

 

1. (Uem 2017) “Sören Kierkegaard (1813-1885), pensador dinamarquês, é um dos precursores do existencialismo contemporâneo. […] Para Kierkegaard, a existência é permeada de contradições que a razão é incapaz de solucionar. Critica o sistema hegeliano por explicar o dinamismo da dialética por meio do conceito. Ao contrário, deveria fazê-lo pela paixão, sem a qual o espírito não receberia o impulso para o salto qualitativo, entendido como decisão, ou seja, como ato de liberdade. Por isso é importante na filosofia de Kierkegaard a reflexão sobre a angústia que precede o ato livre.”

ARANHA, M. L. de A. Filosofar com textos: temas e história da filosofia. São Paulo: Moderna, 2012, p. 461 e 462.

A partir do excerto acima, assinale o que for correto.

01) A compreensão filosófica sobre o sentido da vida não pode ser apenas racional, mas também existencial.    

02) O pensamento de Kierkegaard sobre a liberdade é determinista, pois nossas decisões são inconscientes.    

04) Entre os sentimentos humanos destaca-se a angústia, pois ela possui uma dimensão prática e, ao mesmo tempo, filosófica.    

08) As paixões representam as ilusões dos sentidos, razão pela qual Kierkegaard critica o sistema de Hegel.    

16) As determinações da existência, longe de serem claras, são enigmáticas e acarretam incertezas.    

 

2. (Enem 2016) Sentimos que toda satisfação de nossos desejos advinda do mundo assemelha-se à esmola que mantém hoje o mendigo vivo, porém prolonga amanhã a sua fome. A resignação, ao contrário, assemelha-se à fortuna herdada: livra o herdeiro para sempre de todas as preocupações.

SCHOPENHAUER, A. Aforismo para a sabedoria da vida. São Paulo: Martins Fontes, 2005.

O trecho destaca uma ideia remanescente de uma tradição filosófica ocidental, segundo a qual a felicidade se mostra indissociavelmente ligada à

a) a consagração de relacionamentos afetivos.   

b) administração da independência interior.   

c) fugacidade do conhecimento empírico.   

d) liberdade de expressão religiosa.   

e) busca de prazeres efêmeros.   

 

Gabarito: 

Questão 1: 01 + 04 + 16 = 21 – O item [1] está correto porque o Existencialismo compreende que a vida humana se dá a partir da condição da existência do homem, de forma que apenas a razão não é suficiente para entender o indivíduo. O item [4] está correto porque Kierkegaard coloca o existencialismo como foco da sua teoria filosófica, além de defender as escolhas que o sujeito pode fazer, além de apontar a angústia que a liberdade pode trazer. O item [16] está correto porque o autor reconhece as contradições da existência e que elas são incertas e enigmáticas.

Questão 2 – [B] – Schopenhauer, ao criticar a satisfação dos nossos desejos vê que a felicidade só é alcançada quando controlamos as paixões, uma tradição estoica.

 

 Resumão...

Arthur Schopenhauer (1788-1860) - Alemanha

- O Mundo como Vontade e Representação, publicada em 1818.

- O real é uma representação

- O real se enquadra no tempo e no espaço

- O indivíduo é movido pela vontade - essência da vida - fenômeno

3 níveis para se eliminar o desejo:

- Estético

- Ético

- Ascético

Søren Aabye Kierkegaard (1813-1855) - Dinamarca

- Existencialismo

- Aut-Aut, em 1843

- A Liberdade e o Propósito na vida

Modo de vida

- Estético

- Ético:

- Religioso