Resumo de filosofia: David Hume



David Hume

Figura 1 - David Hume - Allan Ramsay - 1754 - Scottish National Portrait Gallery - Edimburgo, Escócia - Allan Ramsay [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Painting_of_David_Hume.jpg">via Wikimedia Commons</a>

 

Em textos anteriores, trabalhamos as teorias de filósofos modernos como Francis Bacon e até John Locke. Neste texto, abordaremos as teses do escocês David Hume (1711-1776), conhecido como um Empirista radical. Ele se preocupou em desenvolver teorias acerca da natureza humana, da força do hábito e afirmava que só se podia adquirir conhecimento a partir da percepção. Dessa forma, analisaremos como essas ideias auxiliaram no desenvolvimento filosófico do século XVIII que contribuíram para o que veio a ser o Iluminismo. 

David Hume (1711-1776) foi um filósofo escocês que desenvolveu um empirismo radical e tinha um forte viés cético na sua forma de pensar. Escreveu várias obras, sendo as principais o Tratado sobre a natureza humana, publicada em 1739, e a Investigação sobre o entendimento humano, de 1748. O ponto principal era que Hume defendia que o homem em seu estado de natureza era maior do que o “homem filósofo” preocupado com os questionamentos metafísicos. Produzia, dessa forma, a ciência da natureza humana sob o ponto de vista cético. De maneira geral, o homem adquire conhecimento por meio das percepções do mundo, e elas são divididas em dois pontos:

- Impressões: que podem ser simples ou complexas e se relacionam diretamente à experiência. Elas são impressas na mente e são rememoradas ao longo do tempo a partir do ato de sentir.

- Ideias: que são lembranças, memórias, portanto são resquícios das impressões marcadas no ser humano. À vista disso, atesta a inexistência de ideias inatas, já que elas são provenientes das impressões. As ideias podem ser complexas e são associadas a partir de tais características: a proximidade no tempo e no espaço; a semelhança entre si; e a causa e efeito. Além disso, o conhecimento é o amálgama entre as ideias e os fatos, que são dados que não precisam de lógica para serem compreendidos, pois são o que são.

A natureza humana era o centro das atenções de Hume, até mais do que outras ciências. Para ele, sentir e pensar se relaciona com a força entre a percepção – que é mais intensa – e a lembrança – que é mais fraca. Coloca a sensação humana como condição do ato de pensar e das ideias.

Ao construir suas teses, o autor escocês retoma tanto as teorias de Francis Bacon (1561-1626) quanto do filósofo inglês George Berkeley (1685-1753). Deste, Hume adotou, entre outras, a tese de que as ideias ganham significado quando atreladas a uma palavra, podendo recordá-la mais facilmente a posteriori. Para ele, não existem ideias universais no sentido de que sejam apreendidas igualmente entre todos. Com a ideia é uma representação da impressão, que por sua vez é individual, ela é particular, tem significado único. As ideias gerais, que são definidas por uma palavra, por exemplo, são absorvidas pela força do hábito de ouvirmos, falarmos e repetirmos o nome que atinge nossa memória.

Utilizamos essa ideia universal a partir do significado que alcança ao relembrarmos algo associado ao hábito. Vejamos um exemplo: a palavra mesa não diz respeito a uma materialidade específica, pois esta não existe. O substantivo se refere a uma reunião de impressões particulares que, pelo uso constante, pela repetição, adquire um significado geral. Portanto, quando uma pessoa fala sobre a mesa, a outra só consegue entender porque ela já possui uma impressão dentro dela que a permite a compreensão.

A mente humana possui impressões e ideias que Hume as categoriza entre “relações entre ideias” e “dados”. As primeiras não necessitam de provas, possuem lógica, já as últimas são baseadas na experiência, nas sensações. Além da questão das ideias, o autor também se tornou notório devido a sua reflexão acerca da causa e efeito. Apesar de se relacionarem, um não depende do outro, pois são ações únicas em si. Hume usa o exemplo de duas bolas de bilhar. Se uma atinge a outra, pode-se inferir que a ação da primeira movimentou a segunda, mas o ato de deslocamento desta é particular. Dessa forma, ele entende que só se conclui qualquer tipo de análise de causa e efeito a partir do empirismo, da experiência. O resultado desses experimentos que ocorrem na vida deve ser aproveitado imediatamente para que haja compreensão. O tempo é fundamental neste caso e é uma das características das ideias.

A teoria das percepções e impressões também se estendem à compreensão da moral e valores. Para ele, a razão não é o motor do homem haja vista que a impressão se sobrepõe ao ato de imaginar. Assim, a paixão, que é uma sensação própria da natureza humana e impressão interna, tem muito mais força do que a racionalização. Dessa maneira, ele critica as teorias de que o homem é um ser guiado pela racionalidade, pois entende que a natureza exerce maior influência

David Hume, portanto, quebra a constante do ato de se filosofar da forma como era costumeiro, e deixa de lado a metafísica para se concentrar na natureza humana. René Descartes (1596- 1650) (LINK - Descartes – Filosofia Racionalista) fizera algo parecido, mas Hume levou essas ideias a outro nível.

 

No Vestibular...

 

David Hume foi um dos principais nomes do empirismo britânico e criou uma tese radical sobre a força da experiência se comparada com a razão. Ele deve ser entendido em comparação com outros nomes da época que trabalharam essas questões. Os vestibulares cobram esse conteúdo de forma mais superficial nas primeiras fases, e mais aprofundado nas segundas fases.

 

1. (Enem PPL 2018) Quando analisamos nossos pensamentos ou ideias, por mais complexos e sublimes que sejam, sempre descobrimos que se resolvem em ideias simples que são cópias de uma sensação ou sentimento anterior. Mesmo as ideias que, à primeira vista, parecem mais afastadas dessa origem mostram, a um exame mais atento, ser derivadas dela.

HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano. São Paulo: Abril Cultural, 1973.

Depreende-se deste excerto da obra de Hume que o conhecimento tem a sua gênese na

a) convicção inata.    

b) dimensão apriorística.    

c) elaboração do intelecto.    

d) percepção dos sentidos.    

e) realidade transcendental.    

 

2. (Uel 2017) Leia o texto a seguir.

Podemos definir uma causa como um objeto, seguido de outro, tal que todos os objetos semelhantes ao primeiro são seguidos por objetos semelhantes ao segundo. Ou, em outras palavras, tal que, se o primeiro objeto não existisse, o segundo jamais teria existido. O aparecimento de uma causa sempre conduz a mente, por uma transição habitual, à ideia do efeito; disso também temos experiência.

Em conformidade com essa experiência, podemos, portanto, formular uma outra definição de causa e chamá-la um objeto seguido de outro, e cujo aparecimento sempre conduz o pensamento àquele outro. Mas, não temos ideia dessa conexão, nem sequer uma noção distinta do que é que desejamos saber quando tentamos concebê-las.

Adaptado de: HUME, D. Investigação sobre o entendimento humano e sobre os princípios da moral. Seção VII, 29. Trad. José Oscar de Almeida Marques. São Paulo: UNESP, 2004. p. 115.

Com base no texto e nos conhecimentos acerca das noções de causa e efeito em David Hume, assinale a alternativa correta.

a) As noções de causa e efeito fazem parte da realidade e por isso os fenômenos do mundo são explicados através da indicação da causa.   

b) A presença do efeito revela a causa nele envolvida, o que garante a explicação de determinado acontecimento.   

c) A causa e o efeito são noções que se baseiam na experiência e, por meio dela, são apreendidas.   

d) A causa e o efeito são conhecidos objetivamente pela mente e não por hábitos formados pela percepção do mundo.   

e) A causa e o efeito proporcionam, necessariamente, explicações válidas sobre determinados fatos e acontecimentos.   

 

 

Gabarito: 

Questão 1 - [D] – Para Hume, o conhecimento ocorre a partir da experiência, que são as impressões e as ideias, sendo as primeiras relativas aos sentidos enquanto as últimas são representações mentais das primeiras.

Questão 2 - [C] – Uma das características da tese de Hume é a relação entre causa e efeito. Para ele, significa a inferência de que um objeto existe pela existência do outro que o antecede. Essa relação causal é baseada na experiência, então, a ligação entre os objetos só pode ocorrer empiricamente.

 

Resumão

 

David Hume (1711-1776) - empirismo radical com viés cético

- 1739 - Tratado sobre a natureza humana

- 1748 - Investigação sobre o entendimento humano

- Ciência da natureza humana

- Conhecimento se relaciona diretamente à experiência

Impressões: se relacionam diretamente à experiência

Ideias: são lembranças das impressões marcadas no ser humano

- As ideias gerais são absorvidas pela força do hábito

- Reflexão acerca da causa e efeito: apesar de se relacionarem, um não depende do outro, pois são ações únicas em si.