Resumo de filosofia: A Democracia grega, os Sofistas e Sócrates



A Democracia grega, os Sofistas e Sócrates

Figura 1 - Discurso fúnebre de Pericles - Philipp von Foltz - 1877

Como vimos em Introdução aos estudos Filosóficos link, a filosofia grega tem como ponto de mudança cronológica e temática a figura de Sócrates (469 a.C. – 399 a.C.). Seu método transformou o campo filosófico. Para compreendermos a sua importância, temos que destacar o contexto histórico ateniense e quem eram os intelectuais que dialogavam com Sócrates, os Sofistas.

A cidade-estado de Atenas ascendeu culturalmente a partir do século V a.C., no governo de Péricles (c.495 a.C. – 429 a.C.), no que convencionou-se chamar de período Clássico. A Democracia se desenvolvera e se tornara o sistema político dominante. Péricles deu início ao processo de reconstrução após a invasão dos persas nas Guerras Médicas, e incentivou o aprimoramento artístico nos templos e na ágora. Trataremos com mais detalhes no texto sobre a História da Arte grega. A chegada da democracia auxiliou para a mudanças das premissas filosóficas. Apesar de ser o “governo do povo”, esse sistema permitia um número restrito de participantes, pois os cidadãos eram apenas homens atenienses, acima de 18 anos, com renda, o que excluía uma fatia considerável da sociedade, como mulheres, crianças, escravos. Quem era cidadão tinha o direito de se expressar em relação os representantes políticos e defender seus pontos de vista. Isso requeria, portanto, uma destreza na oratória, na articulação dos pensamentos. É nesse momento os sofistas se destacam, pois eram exímios oradores que passaram a ensinar essa arte para quem quisesse. A palavra sofista vem de sophia e/ou sophos, que significa sabedoria. Sophiste, por sua vez, quer dizer tanto “aquele que é sábio” quanto “aquele que lida com a sabedoria”. Ou seja, eram pessoas com uma alta erudição que vendiam seu conhecimento para os que queriam aprimorar sua retórica para participarem dos debates políticos.

Figura 2 - Demócrito e Protágoras - Salvatore Rosa - c. 1663 e 1664 - Hermitage Museum

O ato de se comunicar era valorizado naquele momento, e os sofistas disseminaram a possibilidade de alcançar esse status. Dentre esses homens, um dos principais foi Protágoras de Abdera (480 a.C. – 410 a.C.), que cunhou a ideia de que o “homem era a medida de todas as coisas”. Isso significava tornar o indivíduo referência para a qualificação de tudo. Desse modo, o homem passa a dizer o valor das coisas, do que é verdade ou mentira, transformando o conhecimento a partir do relativismo. Não quer dizer que poderia mudar a realidade, pois isto não era competência humana, mas conseguiria construir uma retórica com início do seu ponto argumentativo e explicativo. Trouxeram um novo caminho para a filosofia, que passou a se preocupar com temáticas sobre o homem, a cidade e a sociedade. Diferente dos pré-socráticos que pensavam na physis, nos fenômenos naturais. Sócrates surgiu nesse contexto de crescimento da pólis e de destaque dos sofistas. Desenvolveu o método de questionamento de tudo o que era tido como verdade absoluta, ou o que não era problematizado, inclusive os deuses, por exemplo.

Antes de tudo, é importante apontar que veio de uma família simples, filho de pai artesão e de mãe parteira, que o ajudou a construir um dos principais conceitos da sua metodologia. Viveu de perto a Guerra do Peloponeso , na qual Atenas saiu derrotada, afetando o sentimento geral da população. A característica principal de Sócrates residia no fato de acreditar que tudo deve ser questionado. É dele a máxima “Só sei que nada sei”, ou seja, parte do princípio de que todo o conhecimento objetivo e racional de tudo era impossível. Questionava, inclusive, os deuses, o que causou sérios problemas no futuro. Por que aceitavam o comportamento das divindades, como estupro e morte, se estes são condenáveis para os humanos? Ele não fazia uma apologia ao crime, o que ele tentava instaurar era o ato de inquirir o que era conhecimento dado sem reflexão.

Figura 3 - Sócrates e seus alunos - Johann Friedrich Greuter - c. séc. XVII

A razão deveria guiar o pensamento e o comportamento. Para isso, as indagações eram fundamentais, e deveriam ser precedidas pela busca do conhecimento interno. O homem deveria voltar-se à sua voz interna, à sua essência, para aí descobrir sua verdade e, também, passar a questionar o mundo. Esse é o processo do “conhece-te a ti mesmo”, entender-se como ser humano para encontrar sua consciência. Assim, deixa de lado a individualidade proposta pelos sofistas, pois o homem era parte de uma sociedade e deveria agir como tal. Vemos, então, que a verdade era o alvo, para isso desenvolveu seu método que tinha como base a ironia e a maiêutica.

A partir do questionamento, ele incitava o interlocutor a emitir uma resposta que ele, Sócrates, interpelaria com a ironia, que era o ato de refutar aquela resposta ao mostrar a contradição que existia nela. Como o filósofo se colocava numa postura humilde de saber que nada sabe, conseguia desarticular o argumento do outro, geralmente baseado em algum tipo de verdade absoluta. Dessa forma, o interlocutor absorveria a sua posição de desconhecimento do assunto ou do objeto para segui, então, o caminho da sabedoria, que era permanecer em constante processo de diálogo consigo e com o mundo a sua volta. Depois disso vem a maiêutica, do grego maieutika, que significa “parir” o conhecimento, a sabedoria e aqui vemos a relação com sua mãe. O fato dela ajudar no nascimento foi inspirador para Sócrates delinear sua ideia de que o conhecimento deve ser construído a partir de si e do questionamento do mundo.

A partir do momento em que a dúvida é instaurada, a pessoa passa a refletir acerca do tópico ou da temática. Para isso, ela precisa se despir do relativismo sofista ou do preconceito para “dar à luz” ao saber. Dessa forma, Sócrates estimulava as pessoas a descobrirem o mundo não só natural, mas o humano, as organizações sociais, os sentidos. Na prática, é o ato de não aceitar respostas prontas e procurar você mesmo o significado das coisas. Essa postura de Sócrates incomodava a sociedade ateniense. Ele era visto como um louco perturbador da paz, além de ser perigoso para o status quo. Foi acusado pelo político Ânito e pelo poeta Meleto, de corromper os jovens por meio da indução ao questionamento, além de pregar contra os deuses. Entre o exílio e a morte por envenenamento, escolheu a última. Apesar da sua morte e de não ter deixado registros escritos, Sócrates influenciou os dois principais filósofos, entre tantos outros, da Antiguidade: Platão e Aristóteles.

Sócrates é considerado um dos principais filósofos antigos por começar um novo movimento. Sua oposição aos sofistas é um ponto importante de destaque. O vestibular cobra suas ideias, seu método e os conceitos criados que tanto inspiraram outros nomes como Platão e Aristóteles. Vejam as questões.

1. (Upe-ssa 2 2017)  Sobre a temática da Filosofia na História, analise o texto a seguir:

Há, pois, uma inseparável conexão entre filosofia e história da filosofia. A filosofia é histórica, e sua história lhe pertence essencialmente. E, por outra parte, a história da filosofia não é uma mera informação erudita acerca das opiniões dos filósofos. Senão que é a exposição verdadeira do conteúdo real da filosofia. É, pois, com todo rigor, filosofia. A filosofia não se esgota em nenhum de seus sistemas, senão que consiste na história efetiva de todos eles.

MARIAS, Julián. Historia de la Filosofia. Madrid, 1956, p. 5.

Assim, é CORRETO afirmar que, na tradição histórica da filosofia,

a) o racionalismo e o empirismo têm estritas relações com a solução integral do problema da vida na religião.    

b) os naturalistas pré-socráticos se preocuparam exclusivamente com a subjetividade e a matéria religiosa.   

c) o famoso lema “conhece-te a ti mesmo – torna-te consciente de tua ignorância” caracterizou o pensamento filosófico de Sócrates.   

d) o período da filosofia moderna é conhecido por se preocupar com as verdades reveladas.   

e) o período medieval teve como preocupação central a singularidade em relação ao sujeito do conhecimento.   

2. (Pucpr 2017)  Na primeira parte da Apologia de Sócrates, escrita por Platão, Sócrates apresenta a sua defesa diante dos cidadãos atenienses, afirmando que: “(...) considerai o seguinte e só prestai atenção a isto: se o que digo é justo ou não. Essa de fato é a virtude do juiz, do orador (...)” (PLATÃO, 2000\2003, p.4). A partir da análise do fragmento, qual é, segundo Sócrates, a virtude do juiz, do orador, a que se refere o texto em questão?

a) Lidar com a mentira.   

b) Dizer a verdade.   

c) Tergiversar a verdade.   

d) Convencer-se das acusações.   

e) É deixar-se guiar somente pela defesa.    

Gabarito: 

Questão 1 - [C] – Análise do texto é a base para responder a questão. Uma das ideias de Sócrates é o reconhecimento da própria ignorância para se buscar a verdade.

Questão 2 - [B] – A virtude é parte da consciência moral, então o processo de reflexão é importante para adquirir a verdade. 

 

Sócrates: surge no momento da democracia ateniense. Posição contrária aos sofistas. “Conhece-te a ti mesmo” – base do conhecimento de si e, também, do mundo. Busca pela verdade. “Só sei que nada sei”.