Resumo de geografia: Guerra do Paraguai



Guerra do Paraguai

Figura 1 - Batalha de Campo Grande - Pedro Américo - 1871 - Museu Imperial, Petrópolis/RJ - Pedro Américo [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Batalha_de_Campo_Grande_-_1871.jpg">via Wikimedia Commons</a>

No Segundo Reinado, além do  Movimento Abolicionista, da Imigração e do crescimento econômico oriundo do ciclo do café LINK, também ocorreu o maior conflito do país e do continente sul-americano, que foi a Guerra do Paraguai (1865-1870) ou, para os países latinos, a Guerra da Tríplice- Aliança. Veremos os antecedentes, o conflito e como ele foi visto pela sociedade. Esse fato histórico teve diversas interpretações ao longo do tempo, o que demonstra o caráter subjetivo da História, a partir de uma realidade.

Figura 2- Disputas na Província Cisplatina - Hoodinski [<a href="https://creativecommons.org/licenses/by-sa/3.0">CC BY-SA 3.0</a>], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Territorial_disputes_in_the_Platine_region_in_1864.svg">via Wikimedia Commons</a>

Os antagonismos vividos na Província Cisplatina foram importantes para o início da guerra. Isso ocorre desde o processo de independência das antigas colônias espanholas na América do Sul. Lembre-se que a emancipação deles, sobretudo do Vice-Reino do Rio da Prata, ocorreu de forma irregular, com diversos combates entre o que se tornou a Argentina, Uruguai, Paraguai e Bolívia. Bem como, o relacionamento com o Brasil não era tranquilo. Desde as brigas entre Portugal e Espanha pelas fronteiras até a questão Cisplatina no século XIX, a situação na região era instável. A posição brasileira de imposição das suas vontades políticas auxiliou na piora da diplomacia entre as nações.

Com a independência do Uruguai, em 1828, observou-se a formação de duas frentes políticas em destaque: os federalistas que tinham as autonomias provinciais como prioridade, já que não queriam se submeter a Buenos Aires; a capital argentina encabeçava os unitários, que buscavam a unidade da região sob suas regras, principalmente no que concerne aos impostos e taxas. A independência uruguaia ocorreu após o conflito entre Brasil, Argentina e políticos locais, os blancos e colorados. Tudo ocorreu por causa do interesse plural sobre o Rio da Prata, inclusive da Inglaterra, que também teve atuação na Guerra do Paraguai.

Mesmo com a emancipação na década de 1820, os problemas continuaram. Em 1863, o país viveu uma guerra civil entre os dois partidos, novamente com interferência do Brasil e da Argentina e aqui entra a questão do Paraguai. O domínio de Buenos Aires também não era bem-visto pelos políticos do país, que, no início da década de 1810, passaram a não aceitar as ordens da antiga capital do Vice-Reino. Como represália, o acesso ao rio fio cortado, ilhando o comércio paraguaio, que elegeu o ditador José Gaspar de Francia (1766-1840) como governante.

É importante esse detalhe para desmistificar a ideia do desenvolvimento do país, uma das interpretações sobre o período. O Paraguai foi descrito como um grande rival da Inglaterra por ser autossuficiente, e isso poderia influenciar seus vizinhos. Porém, essa visão já foi revisada pelos historiadores e hoje sabemos que o país era dependente de capital externo como os outros, e a política também era dominada por militares. No período da ditadura de Francia, houve expropriação de bens eclesiásticos e obsoletos, formando fazendas ligadas ao governo e arrendadas a pequenos proprietários. Essas medidas não foram mantidas por futuros governos, inclusive, a partir da década de 1840, a relação com o mercado externo foi restabelecida.

Figura 3 - Batalha do Avaí - Pedro Américo - 1872-1879 - Museu Nacional de Belas Artes - Rio de Janeiro - Pedro Américo [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Americo-ava%C3%AD.jpg">via Wikimedia Commons</a>

Em 1862, quem assumiu a presidência foi Francisco Solano López (1826-1870), filho do então governante Carlos António López (1790-1862), e apoiava a criação de uma aliança entre os países sul-americanos de menor expressão para, então, evitar a interferência brasileira e argentina. Com isso, procurou se aproximar do Uruguai, apoiou os blancos e se aliaram aos federalistas. O Paraguai voltou a ter acesso facilitado ao mar, contrariando a vontade dos unitários, que formavam um grupo com Brasil, portenhos e colorados. 

Figura 4 - Francisco Solano López - Desenho de Angelo Agostini - 1870 - A Vida Fluminense, nº 117 - Angelo Agostini [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Francisco_Solano_Lopes.jpg">via Wikimedia Commons</a>

Devido à situação belicosa, Solano López decidiu invadir o Mato Grosso, o que não se concretizou, assim como o pedido para atravessar a província argentina de Corrientes para atacar o Rio Grande do Sul. Em 1864, as relações diplomáticas com o Brasil foram cortadas após prender o navio Marquês de Olinda. O conflito foi iniciado, portanto, pelo Paraguai, que logo perdeu apoio tanto dos federalistas argentinos quanto uruguaios.  Isso demonstra a visão autoritária do ditador, pois na prática, suas atitudes voltaram-se contra o seu país. Em 1865, foi assinado o Tratado da Tríplice Aliança entre Uruguai, comandado pelo colorado Venancio Flores (1808-1868), Argentina e Brasil, que exigiam rendição de Solando López para negociarem com o Paraguai.

Figura 5 - Rendição de Uruguaiana, 1865  - Victor Meirelles - c. 1870 - Victor Meirelles [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rendi%C3%A7ao_de_uruguaiana_1865_victor_meirelles.jpg">via Wikimedia Commons</a>

Era notória a visão de que se a tivesse uma guerra, a Aliança derrotaria o adversário facilmente, pois as diferenças demográficas, de recursos e de poder eram gritantes. Contudo, ela durou 5 anos e com vastos prejuízos para todos os lados. Vários conflitos sangrentos foram travados nesse período como a Batalha de Riachuelo, em 11 de junho de 1865, liderada pelo almirante Tamandaré (1807-1897). Mesmo com a invasão ao Mato Grosso e ao Rio Grande do Sul, a partir de 1866 a maioria dos embates aconteceram em solo paraguaio. Vale destacar que mesmo os aliando tendo mais força e vitórias, não conseguiram colocar muita vantagem em relação aos paraguaios.

A situação mudou em 1868 quando a liderança da Aliança passou para as mãos de Luis Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias (1803-1880). Deste momento em diante o Brasil passou a batalhar praticamente sozinho, pois a Argentina passava por problemas internos graves e o Uruguai não tinha o mesmo recurso dos aliados. Ele deu nova estrutura ao exército brasileiro, que, finalmente, em 1869 invadiu Assunção, capital do Paraguai. Com a doença de Caxias, o marido da Princesa Isabel (1846-1921), Luis Filipe Maria Fernando Gastão, o Conde D’Eu (1842-1922), assumiu o comando brasileiro, que venceu um Paraguai já sem forças econômicas e militares. Em 1º de março de 1870, Solano López foi morto pelas tropas tupiniquins, na Batalha do Cerro-Corá, finalizando a guerra.

Figura 6 - Fotografia de famílias paraguaias desabrigadas durante a Guerra do Paraguai, 1867. Fundo Documental: Polidoro da Fonseca Quintanilha Jordão - Arquivo Nacional - Brazilian National Archives [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:F

As transformações ocorridas no Brasil foram notáveis. O Exército e a Matinha cresceram em número de recrutas e em investimento. Em 1866, foi promulgada a lei que concedia alforria aos escravos que se alistassem, mas priorizaram os que foram traficados ilegalmente após 1850. O Paraguai sofreu um atraso gigantesco, com a perda de metade da sua população, de territórios e do processo de modernização que ocorria anteriormente.

O Brasil não perdeu tantos soldados, mas aumentou a dívida com a Inglaterra. A opinião pública acerca do conflito não era positiva e, mesmo com a vitória, ajudou a piorar a situação da monarquia no final do Segundo Reinado.

 

A Guerra do Paraguai, por ser o único conflito de larga escala vivido pelo Brasil, é muito importante no contexto do Segundo Reinado. Entender os antecedentes e as consequências do conflito tanto em relação à política interna e externa o preparará ainda mais para o vestibular. Enxergá-lo em seu aspecto macro facilita na compreensão do conteúdo.

1. (Fuvest 2019) Observe as imagens das duas charges de Angelo Agostini publicadas no periódico Vida Fluminense. Ambas oferecem representações sobre a Guerra do Paraguai, que causaram forte impacto na opinião pública. A imagem I retrata Solano López como o “Nero do século XIX”; a imagem II figura um soldado brasileiro que retorna dos campos de batalha.

Sobre as imagens, é correto afirmar, respectivamente:

a) Atribui um caráter redentor ao chefe da tropa paraguaia; fixa o assombro do soldado brasileiro ao constatar a persistência da opressão escravista.    

b) Denuncia os efeitos da guerra entre a população brasileira; ilustra a manutenção da violência entre a população cativa.    

c) Reconhece os méritos militares do general López; denota a incongruência entre o recrutamento de negros libertos e a manutenção da escravidão.    

d) Personifica o culpado pelo morticínio do povo paraguaio; estimula o debate sobre o fim do trabalho escravo no Brasil.    

e) Fixa atributos de barbárie ao ditador Solano López; sublinha a incompatibilidade entre o Exército e o exercício da cidadania.    

2. (Enem 2014) 

De volta do Paraguai

 

Cheio de glória, coberto de louros, depois de ter derramado seu sangue em defesa da pátria e libertado um povo da escravidão, o voluntário volta ao seu país natal para ver sua mãe amarrada a um tronco horrível de realidade!...

AGOSTINI. “A vida fluminense”, ano 3, n. 128, 11 jun. 1870. In: LEMOS, R. (Org). Uma história do Brasil através da caricatura (1840-2001). Rio de Janeiro: Letras & Expressões, 2001 (adaptado).

Na charge, identifica-se uma contradição no retorno de parte dos “Voluntários da Pátria” que lutaram na Guerra do Paraguai (1864-1870), evidenciada na

a) negação da cidadania aos familiares cativos.   

b) concessão de alforrias aos militares escravos.   

c) perseguição dos escravistas aos soldados negros.   

d) punição dos feitores aos recrutados compulsoriamente.   

e) suspensão das indenizações aos proprietários prejudicados.   

Gabarito: 

Questão 1 - [D] – Essa questão pede análise de imagem, a interpretação correta é que a alta taxa de mortalidade na guerra, sobretudo de paraguaios, foi culpa de Solano López. Além disso, houve a participação de negros lutando pelo Brasil, mas a escravidão ainda era o principal sistema econômico.

Questão 2 - [A] – Os escravos, primeiro os que foram traficados ilegalmente, receberiam a alforria após lutar a guerra, mas somente os soldados, a família ou familiares continuavam na mesma situação.

 

Guerra do Paraguai (1865-1870) - Segundo Reinado - Guerra da Tríplice- Aliança

- Argentina + Brasil + Uruguai X Paraguai - Francisco Solano López (1826-1870)

- 1865 - Tratado da Tríplice Aliança

- 1865 - Batalha de Riachuelo

- 1868 - Duque de Caxias (1803-1880).

- Conde D’Eu (1842-1922),

- 1º de março de 1870 - Batalha do Cerro-Corá - Solano López foi morto