Resumo de geografia: Invasões estrangeiras – França Antártica e França Equinocial



Invasões estrangeiras – França Antártica e França Equinocial

Figura 1 - Mapa francês da baía de Guanabara - Pierre Duval - c. século XVII - https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/4/4d/Rio_1555_Fran%C3%A7a_Ant%C3%A1rtica.jpg

No início do século XVI, Portugal “descobriu” o Brasil e a Espanha começou a se apossar de territórios indígenas por toda a América. A expansão colonial dos países ibéricos despertou interesse de outras nações, dando início a um período de confrontos e conflitos no Oceano Atlântico. Algumas delas conseguiram se estabelecer nas colônias, como foi o caso da França, em dois momentos diferentes, e da Holanda, ambas no Brasil. Veremos as invasões francesas conhecidas como França Antártica (1555-1567) e França Equinocial (1612-1615).

O início da colonização portuguesa no Brasil não saiu como esperado. A falta de produtos com alto valor comercial, como prata e ouro, no território retardou o estabelecimento de um governo colonial por aqui. Como já vimos em Expedições colonizadoras e Presença da Coroa o Brasil, com o cultivo da cana-de-açúcar, a metrópole passou a expandir seu controle administrativo na colônia. Porém, isso não significa que foi fácil a dominação territorial. Além dos confrontos com os nativos, o Brasil sofreu diversas tentativas de invasões por outros países entre os séculos XVI e XVII, sendo que algumas delas foram bem-sucedidas por um período de tempo.

Uma das questões que afligiram os portugueses foi a dimensão da colônia e a dificuldade em administrá-la por igual. Enquanto as capitanias do Nordeste prosperavam junto da cana-de-açúcar, as mais ao Sul estavam mais vulneráveis. Quando Tomé de Sousa foi Governador Geral, uma das medidas instauradas foi a de patrulhamento da costa, para evitar qualquer invasão. Duarte da Costa, ao assumir, eliminou as expedições, agravando a situação das capitanias do Sul.

Em 1555, Nicolas de Villegagnon, cavaleiro de Malta, deixa a França com destino ao Brasil, onde aportou em novembro do mesmo ano, mais especificamente na ilha de Sergipe, na Baía de Guanabara. Villegagnon tinha a missão de se instalar no território e criar um local seguro para a exploração e a liberdade religiosa. A Europa vivia as consequências da Reforma Protestante e da Contrarreforma católica, que deflagrou diversos conflitos entre calvinistas, católicos, protestantes, luteranos em vários países. Na França, o enfrentamento de huguenotes (burguesia calvinista) e a nobreza católica levaram a episódios sangrentos como o massacre de São Bartolomeu em 1572.

Ao aportarem no atual Rio de Janeiro, criaram o Forte de Coligny, inspirado no almirante Gaspar II de Coligny, estadista e huguenote francês, que foi assassinado duas décadas depois no massacre citado acima. Era o início da França Antártica. A primeira reação francesa em relação aos nativos era de temor, pois a reputação de belicosos era conhecida. Notícias sobre o Novo Mundo já chegavam à Europa e faziam parte do imaginário dos exploradores. Porém, os nativos viviam seu conflito particular com os portugueses. Tamoios e tupinambás, mais numerosos na região, e outros índios se uniram na que foi chamada de Confederação dos Tamoios, que abarcou povos desde Bertioga até Cabo Frio em uma união contra os seus dominadores. Portanto, assim como povos mexicas no México que ajudaram Hernán Cortés contra os astecas, os índios brasileiros auxiliaram os franceses a se estabelecerem no país.

Muita documentação foi produzida nessa época pelos cronistas oficiais da missão, como André Thevet, que coletou e registrou diversas espécies da fauna e flora brasileiras. Produziu, também, relatos de viagens nos quais descrevia a relação com os indígenas e o curto período que se manteve por aqui.

Figura 2 - Como esses selvagens estão lutando uns contra os outros (Comme des sauvages font guerre les uns contre les autres) – André Thevet – uma das várias imagens criadas pelo franciscano – século XVI.

Em 1560, o governador geral da colônia era Mem de Sá, que resolveu atuar mais incisivamente contra a invasão francesa para que não perdessem o controle territorial. Na primeira tentativa, conseguiram tomar o forte de Coligny, um grande baque para os franceses, mas que não significou a derrota total. A ação do governador foi reconhecida pela coroa, que enviou recursos e mais reforços. Em 1563, Estácio de Sá, sobrinho de Mem de Sá, capitaneou nova investida contra os franceses, esforço que foi aprofundado em 1565 com a criação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro, embrião da que se tornou capital e uma das grandes cidades da colônia e, posteriormente, do país. A partir desse momento, a Coroa portuguesa passou a prestar mais atenção no local, enfatizando a necessidade de se povoar e administrar aquela porção de terra. Ou seja, queriam priorizar a colonização de fato em todo o Brasil.

A luta era contra os franceses e seus aliados indígenas continuou por mais tempo, agora com mais aporte de Portugal. Contudo, a vitória só veio quando os portugueses conseguiram neutralizar os índios, por meio de armas, pela aliança com nativos inimigos da Confederação e pela conversão dos tamoios paulistas. Estes foram catequisados pelos jesuítas liderados por Manuel da Nóbrega e José de Anchieta e se retiraram do combate, prejudicando enormemente os franceses, que foram derrotados, definitivamente, por Estácio de Sá e suas tropas, em 1567.

Décadas depois, já no século XVII, a França fez uma nova investida nos territórios portugueses, agora no Norte do país. Entre 1580 e 1640, a colônia ficou sob comando de Felipe II da Espanha devido à União Ibérica. O poder português estava enfraquecido e a região norte, acima do hoje é o Rio Grande do Norte até o Pará, era completamente inóspita em relação à administração colonial. Ou seja, a influência do Governo Geral não chegava ali. Com o tempo, o interesse francês em estabelecer uma colônia foi novamente colocado em prática. Daniel de la Touche, general da marinha francesa, aportou numa ilha ao norte que foi nomeada como São Luís, no atual Maranhão, a França Equinocial.

Assim como na França Antártica, uma das medidas tomadas pelos franceses foi se aliar aos índios locais. Contudo, a forma como foram se estabelecendo, tomando posse territorial, fez com que essa aliança fosse logo quebrada. Felipe II, por sua vez, incentivava os portugueses a explorarem cada vez mais a região, para que o interesse no rio da Prata diminuísse. Os dois países ibéricos se uniram e, sob o comando de Alexandre de Moura e Jerônimo de Albuquerque, expulsaram os invasores pouco tempo depois da dominação.

A região, apesar de bem servida de rios de planície que facilitam a navegação, apresentava dificuldades reais de ser ocupada. Isso significa que também era complicada a fiscalização e controle do local. Por conta disso, ainda no período da União Ibérica, o rei espanhol ordenou priorizar a colonização do que se tornou o Grão Pará, para combaterem qualquer tipo de tentativa estrangeira de invasão.

 

O vestibular cobra com mais frequência as invasões estrangeiras em comparação aos primeiros anos portugueses na colônia, ou a falta de atuação mais sistemática. Faça um quadro comparativo com as invasões holandesas, que ajudará bastante no aprendizado.

1. (Fgvrj 2017)  Navegamos pelo espaço de quatro dias, até que, a dez de novembro, encontramos a barra de um grande rio chamado de Guanabara, pelos nativos (devido à sua semelhança com um lago) e de Rio de Janeiro pelos primeiros descobridores do local. [...] o Senhor de Villegagnon, para se garantir contra possíveis ataques selvagens, que se ofendem com extrema facilidade, e também contra os portugueses, se estes alguma vez quisessem aparecer por ali, fortificou o lugar da melhor maneira que pôde. Os víveres eram-nos fornecidos pelos selvagens e constituídos dos alimentos do país, a saber, peixes e veação diversa, constante de carne de animais selvagens (pois eles, diferentemente de nós, não criam gado), além de farinha feita de raízes [...] Pão e vinho não havia. Em troca destes víveres, recebiam de nós alguns objetos de pequeno valor, como facas, podões e anzóis.

THEVET, André. As singularidades da França Antártica. Belo Horizonte/São Paulo, Itatia/Edusp. 1978, p. 93-94.

O frei franciscano André Thevet esteve em terras brasileiras entre 1555 e 1556, junto com outros franceses comandados por Nicolas de Villegagnon. A leitura do trecho do relato dessa expedição permite

a) constatar a aceitação, pelo reino francês, da partilha do Novo Mundo realizada por portugueses e espanhóis.   

b) identificar as diferenças entre as práticas coloniais e o tratamento dispensado aos indígenas pelos portugueses e franceses.   

c) perceber as diferenças culturais entre os povos indígenas e os conquistadores europeus.   

d) reconhecer a necessidade da escravidão africana como base para a montagem das estruturas produtoras coloniais.   

e) diferenciar as orientações religiosas dos protestantes franceses das referências católicas ibéricas.   

2. (Fmp 2016)  Ao longo do período colonial da História do Brasil, o Império Português foi vítima de assédio e de tentativas de invasão de seus territórios ultramarinos por parte de diversas potências rivais. Alguns exemplos de invasões estrangeiras na América Portuguesa estão listados a seguir:

1612 - Estabelecimento da França Equinocial

1624 - Tentativa derrotada da invasão holandesa a Salvador

1630 - Tomada de Recife e Olinda por invasores holandeses

A interpretação dos dados acima permite identificar que uma causa direta de todas essas invasões estrangeiras foi a

a) fuga da Corte portuguesa para a América   

b) vitória francesa na Guerra dos Sete Anos   

c) conclusão da Reconquista da Península Ibérica   

d) guerra de Restauração Portuguesa contra a Espanha   

e) criação da União das Coroas Ibéricas   

Gabarito: 

Questão 1 - [C] – Analise as diferenças entre a cultura indígena e europeia. Esse choque entre civilizações foi retratado com frequência pelos viajantes e cronistas que vieram para cá.

Questão 2 - [E] – Faça a relação entre as invasões estrangeiras ocorridas no Brasil no século XVII, sobretudo durante o período da União Ibérica.

 

França Antártica – 1555-1570 – perseguição religiosa na França – chegada no Rio de Janeiro.

Conflito com os nativos, ao mesmo tempo em que fizeram aliança com alguns povos indígenas – Confederação do Equador

- Neutralização por parte dos portugueses – expulsão dos franceses.

França Equinocial – 1614 – São Luís do Maranhão – aliança com os índios

- Acabou com a colonização do Grão-Pará.