Resumo de historia: Igreja na Idade Média



Igreja na Idade Média

Figura 1 - Crucificação - Afresco na Cappella degli Scrovegni - Giotto - c.1300 - Giotto di Bondone [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Giotto_Cruxifixion.jpg">via Wikimedia Commons</a>

Na Idade Média, a Igreja Cristã foi era a única remanescente do Império Romano que se consolidou e se desenvolveu. Seu papel junto aos reinos foi fundamental para o crescimento da influência eclesiástica, que também foi um dos motivos para os principais conflitos que surgiram no período.

Em 325, ocorreu o Primeiro Concílio de Niceia, que delineou os primeiros dogmas da entidade. Nesta primeira reunião, 318 bispos participaram e o objetivo principal era a resolver a questão do Arianismo, crença surgida por meio do bispo Ário, que pregava que Jesus Cristo não era igual a Deus/Pai, causando atritos dentre o clero. No concílio, foi estabelecido o conceito de que tanto o Pai quanto o Filho eram consubstanciais e esta se tornou uma das bases da doutrina cristã, e, aqueles que acreditavam no Arianismo seriam hereges.

Vê-se o poder da cúpula da Igreja Cristã em restringir os credos e criar regras que deveriam ser seguidas por todos. Além disso, desde o Édito de Milão em 313 e, sobretudo com o de Tessalônica em 391, o Cristianismo deixou de ser apenas uma crença e se tornou uma religião agregada ao Estado. É importante entender que no primeiro, foi instituída a liberdade religiosa, ou seja, todas as religiões tinham espaço de culto nos territórios imperiais, o que foi negada no segundo, quando o Cristianismo se tornou a religião oficial do Império. O crescimento se deu desde o momento em que Constantino doou terras e dinheiro para a construção de templos, iniciando o patrimônio eclesiástico que se tornou gigantesco na Idade Média.

O fortalecimento da Igreja, contudo, não impediu que o Arianismo se espalhasse entre os povos germânicos, mostrando que não desapareceram mesmo com o Credo de Niceia. A instituição estreitou ainda mais seus laços com a conversão de Clóvis I, rei franco, em 496. Esse foi um exemplo, mas outros reinos se associaram aos eclesiásticos na tentativa de consolidarem seus domínios e, também, ganharem legitimidade perante à população. Ao longo da Idade Média, a Igreja focou em medidas de conversão para os germânicos em vários pontos da Europa, na busca pelo princípio de unificação do reino de Cristo.

Os conflitos internos não cessaram, sobretudo com os cristãos do oriente. No século VIII, ocorreu o movimento Iconoclasta, que condenava a adoração a imagens sacras por considerar idolatria. Em 754, os bispos do Império Bizantino convocaram o Concilio de Hieria, no qual proibiram qualquer tipo de veneração a ícones. Os representantes do Ocidente não foram convidados, causando atritos ainda maiores com Roma. A alta cúpula não adotou a medida e condenou a o cesaropapismo, condição do Imperador de controlar a política eclesiástica local e ser a representação de Deus na Terra. Em 1043, por exemplo, o patriarca Miguel Cerulário condenou abertamente a Igreja, a ponto de ser excomungado pelo bispo Humberto, em 1054, estabelecendo a crise.

Figura 2 - Mapa sobre o Cisma do Oriente.- own work [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Great_Schism_1054_with_former_borders.png">via Wikimedia Commons</a>

Foi o início da primeira cisão da Igreja Cristã, ocorrida em 1054, o Cisma do Oriente, em que houve a criação da Igreja Católica Apostólica Romana e da Igreja Ortodoxa Grega, com sede em Constantinopla. Os motivos para a separação eram, também, políticos. A alta hierarquia bizantina se sentia desprezada pela Igreja, sentimento que aumentou com o apoio dado por Roma ao Sacro Império Romano Germânico. Apesar da cisão, o imperador ainda pediu ajuda ao Papa quando Constantinopla e Jerusalém foram invadidas pelos turcos, o que deu início às Cruzadas.

O poder católico ganhava forças desde o século IV com o desenvolvimento da patrística e, posteriormente, da escolástica, que aprenderemos nas aulas de Filosofia. Isso demonstra a força da Igreja como detentora do poder político, religioso e cultura na época. O teocentrismo ganhou cada vez mais espaço com o crescimento da importância e poder da Igreja. Deus se tornou a medida de tudo e de todos, para qualquer momento ou decisão.

A estrutura da entidade tinha várias divisões internas. Entre o clero havia o secular, que atuava diretamente com a sociedade civil, desde afazeres litúrgicos até cobrança de impostos; e o regular, aqueles que acreditava no lado mais espiritualizado da ordenação, então se retirava para a vida monástica. Portanto, era nos mosteiros que se desenvolviam as atividades intelectuais importantes para a filosofia medieval e o surgimento das ordens religiosas.

A relação entre a Igreja e o Estado entrou em crise na chamada Querela das Investiduras, em 1075. O Sacro Império Romano Germânico tinha o costume de indicar pessoas para assumirem cargos eclesiásticos. Dentro da própria Igreja havia os que eram contrários a essas medidas, pois corrompiam os princípios cristãos. A Abadia de Cluny, por exemplo, se orgulhava por se distanciar dessas ações. Começou dentro dela pedidos para reforma política eclesiástica. Em 1059, o Papa Nicolau II criou o Colégio de Cardeais, decretando que apenas os religiosos poderiam escolher os participantes. Em 1073, assumiu o Papa Gregório VII, que deu início à Reforma Gregoriana, a qual designava somente ao Papa o poder de nomear e destituir cardeais, que governariam a Igreja.

Henrique IV (1050-1106), imperador do Sacro Império, reagiu à diminuição de poder e influência dos seus bispos, e exigiu a deposição do Papa. Gregório VII não se intimidou e o excomungou, aumentando ainda mais o conflito. O monarca convocou um sínodo que elegeu um novo chefe para a Igreja, Clemente II (c.1029-1100). A crise durou décadas, culminando no exílio forçado de Gregório na França e, também, em invasões militares na Itália, feita pelo Sacro Império. em 1122, foi assinada a Concordata de Worms, ou Dieta de Worms, na qual decidiram eu apenas o Papa tinha autoridade de nomeação de bispos e os reis se encarregariam das suas questões políticas. Mesmo assim, as relações entre Estado e Igreja não diminuíram. Se no medievo a entidade católica se consolida, também se torna a principal parceira dos reis absolutistas na modernidade.

 

A Igreja Cristã foi a instituição mais estável durante toda a Idade Média, pois atingiu todos os reinos de uma forma ou de outra. Portanto, saber das relações construídas com os eclesiásticos é importante. As crises políticas dentro da Igreja também são questões que devem ser analisadas.

1. (Fac. Pequeno Príncipe - Medici 2018) Leia o excerto a seguir.

[…] Os povos ainda pagãos que se tornarão cristãos ao longo da Idade Média serão convertidos a oeste por Roma e a leste por Constantinopla.

Dessa forma, estabelece-se na Europa uma ruptura, essencialmente religiosa, mas correspondente sem dúvida às diferenças mais gerais e mais profundas entre os europeus do Oeste e os europeus do Leste. Outras diferenças virão, ao longo da história, agravar essa ruptura, mas, dos dois lados, somos cristãos.

LE GOFF, Jacques. Uma breve história da Europa. Petrópolis: Vozes, 2010.

Uma das instituições mais poderosas do planeta, a Igreja Católica Apostólica Romana passou por conflitos internos que culminaram em rupturas, algumas delas definitivas.

Analise as afirmativas abaixo.

I. Instituído como religião oficial desde o Império Romano pelo imperador Teodósio, o cristianismo gerou discussões irreconciliáveis e a divisão, durante o mesmo governo, do Império Romano em Ocidental, com sede em Roma, e Oriental, com sede em Constantinopla.

II. O clero do cristianismo bizantino não se submetia ao Papa, e sim ao Imperador. Surgiram também diversas heresias, como a negação da virgindade de Maria. Tal quadro se agravou até a ruptura com Roma e a criação da Igreja Cristã Ortodoxa.

III. Um dos maiores problemas enfrentados pelo cristianismo foi a crise moral de parte do clero, principalmente durante o século XVI; os abusos de poder; a compra de cargos; a venda de indulgências, levando ao surgimento da chamada Reforma Protestante.

IV. A corrupção e a desmoralização de uma parcela do clero católico levaram a um processo chamado de Cisma do Oriente no século XVI, quando, após anos de tensão, a Igreja Católica dividiu-se em Igreja Católica Apostólica Romana e Igreja Cristã Ortodoxa, que negava a autoridade papal, além de condenar a prática da simonia.

Marque a alternativa que contém TODAS as afirmativas CORRETAS.

a) II e III.    

b) I e II.    

c) I e III.    

d) II e IV.    

e) III e IV.    

2. TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Para responder à(s) questão(ões), considere o texto abaixo.

O que singulariza o pessimismo de Machado de Assis é a sua posição antagônica em relação ao evolucionismo oitocentista, ao culto do progresso e da ciência. Frente às ingenuidades do cientificismo, o sarcasmo de Brás Cubas reabre a interrogação metafísica, a perplexidade radical ante a variedade do ser humano. Um artista como Machado levou mais a sério do que os arautos do evolucionismo cientificista o golpe que Darwin tinha desfechado contra as ilusões antropocêntricas da humanidade.

MERQUIOR, José Guilherme. De Anchieta a Euclides. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977, p. 171-172.

(Puccamp 2018) A visão da Alta Idade Média como “Idade das Trevas”, pela historiografia, trazia uma percepção desse período como o avesso do progresso e da ciência. A denominação “Idade das Trevas” foi associada a alguns eventos e características desse período, caso

a) da superexploração dos camponeses, da expansão desenfreada das cidades, da mortandade ocorrida ao longo da Guerra Santa.   

b) das perseguições aos hereges, da proliferação das ordens mendicantes armadas, da destruição sistemática de castelos e abadias.   

c) do declínio da cultura antiga, a destruição do Império Romano pelas invasões bárbaras, do controle da difusão do conhecimento pela Igreja Católica.   

d) da Guerra dos Cem Anos, do processo de cercamento no campo, da violência dos servos contra seus suseranos.   

e) das consequências da Revolução Puritana, do fracasso das Cruzadas, da proliferação de bandoleiros e foras da lei.   

Gabarito: 

Questão 1 - [A] – Em 1054 houve o Cisma do Oriente com o surgimento da Igreja Católica Apostólica Romana e Igreja Ortodoxa Grega. Foi o primeiro grande abalo da Igreja, o segundo foi a Reforma Protestante no século XVI.

Questão 2 - [C] – A Igreja Católica foi responsável pelo teocentrismo do medievo, uma das características que motivou a alcunha de “Idade das Trevas” feita pelos renascentistas.

 

Igreja Católica na Idade Média

- 325 – Primeiro Concílio de Niceia

- 391 – Édito da Tessalônica

- Movimento iconoclasta

- Cesaropapismo

- 1054 – Cisma do Oriente – entre Igreja Católica Apostólica Romana e Igreja Ortodoxa Grega

- Patrística e Escolástica

- Teocentrismo

- 1075 – Querela das Investiduras

- 1122 – Concordata ou Dieta de Worms