Resumo de historia: Filosofia Helenística



Filosofia Helenística

Figura 1 – Laocoonte e seus filhos - Agesandro, Atenodoro, Polidoro – c. 40 a.C. – Museu do Vaticano – Exemplo da arte do Período Helenístico - Photograph: User:Jastrow (2003)Auteur : Jastrow [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Laocoon_Vatican.jpg">via Wikimedia Commons</a>

O nome Filosofia Helenística, ocorrida entre os séculos IV a.C. e III, é uma generalização feita por causa do Período Helenístico em que os pensadores viviam. Lembre-se que era o momento do fim das pólis gregas, do domínio do Império Macedônico e da cultura helenística e do helenismo. A relação de várias culturas influenciou novos pensamentos filosóficos e o surgimento de novas escolas.

O helenismo, como ficou conhecido o amálgama entre as culturas grega e oriental, ocorreu no Período Helenístico. Além disso, foi fundamental para os pensadores posteriores, inclusive os romanos. Outro ponto que se deve destacar é o surgimento do Cristianismo, que mudou a sociedade e a filosofia europeia. Essas características, como o fim das cidades-estado, helenização do mundo por meio da expansão macedônica, a agregação de culturas, o crescimento de Roma, alteraram sensivelmente as ordens sociais. Sempre quando temos uma mudança drástica na nossa sociedade, a forma de enxergarmos a nós mesmos também muda. Isso ocorre com a filosofia e com o tipo de questionamento feito.

A partir do século IV a.C, encontramos uma organização social diferente, que se relacionava à centralização política e, ao mesmo tempo, com a mescla cultural. Se até então o processo de formação do homem grego estava alinhado – nem que fosse para refutar – com a pólis, no governo macedônico a cidade-estado deixa de ser protagonista na educação do homem, que passa a ser mais plural. Ao mesmo tempo, veremos questões voltadas ao prazer e ao desenvolvimento do que é certo ou errado. Os filósofos helenistas criaram diversas escolas, mas aqui veremos as principais: Epicurismo, Ceticismo, Cinismo e Estoicismo.

Figura 2 - Busto de Epicuro de Samos - s/a - s/d - See page for author [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Epikur.jpg">via Wikimedia Commons</a>

 

Epicurismo

O Epicurismo foi a doutrina filosófica proposta por Epicuro de Samos (341 a.C. – 271/270 a.C.), tendo como base a busca pelo prazer (hedoné) próprio como norteador do seu pensamento. O princípio mais importante era a ataraxia, a paz de espírito ou tranquilidade. Para alcançá-la, o homem deveria se livrar dos quatro medos como a morte, dor, sofrimento e dos deuses, pois essa preocupação era inócua. Muitos desses acontecimentos estão à revelia das nossas vontades. Dessa forma, deve-se focar nos próprios desejos – por isso é chamada de hedonista – mas de maneira controlada, com parcimônia.

Ao fundar sua escola, Jardim, em 306 a.C., ensina a nova doutrina alicerçada na moderação da hedoné, pois os excessos ativavam os medos, como a dor ou o sofrimento. Os prazeres naturais deveriam ser satisfeitos, pois os artificiais e os que alimentam a vaidade seriam problema não só para a pessoa, mas para a sociedade. Uma dica é fugir das definições que caracterizam o epicurismo como uma doutrina que busca o prazer de forma desmedida, pois é justamente o contrário. O uso da razão, para ele, é primordial no processo de pensamento crítico para atingir a moderação.

O filófoso Pirro de Élida - dos Petrarcameister  - c. século XVI

 

Ceticismo

Esse pensamento foi criado por Pirro de Élida (c.360 a.C. – 270 a.C.). O cético seria aquele que sempre toma uma posição crítica, ou desconfiada, em relação a qualquer verdade proferida. O homem deveria se desprender de paixões para viver tranquilamente, pois saber que não há respostas para tudo elimina a tensão da certeza. O pirronismo foi essa teoria criada pelo pensador nascido em Élida, e, de certa forma, ser cético já era uma premissa dos filósofos. O questionamento é parte de qualquer pensamento crítico. A diferença, neste momento, reside a compreensão do uso da razão e da ansiedade que existiria no processo de pensar. Se acomodar ao senso comum seria o mais correto, já que a verdade é inatingível.

Percebe-se, então, o conflito entre o presente e o futuro, sobretudo em relação à incerteza deste. Pirro percorreu longos caminhos no reinado de Alexandre, o Grande e seu pensamento ganhou força entre os filósofos da época. Com mais vozes, outros pontos foram delineados, demonstrando a longevidade da teoria, que foi adotada, inclusive, pela Academia de Platão.

Figura 4 - Diogenes - John William Waterhouse - 1882 - Galeria de arte de Nova Gales do Sul

 

Cinismo

Essa doutrina ficou mais conhecida por meio de Diógenes de Sinope (412 a.C. – 323 a.C.), e se baseava na ideia da simplicidade. O primeiro a construir o pensamento foi o discípulo de Sócrates , Antístenes (445 a.C. – 365 a.C.). A vida simples se referia ao abandono de qualquer convenção social, o que significa uma autonomia, liberdade moral e virtude. Para eles, a sociedade era vil e viciada, as variedades eram exacerbadas, somente o esforço interno, pessoal, traria a felicidade. Observa-se, portanto, a busca por um mundo ideal onde os costumes e tradições não seriam mais importantes que os calores morais.

Figura 5 - Zenão de Cício - foto de  Paolo Monti – 1969 - Paolo Monti [<a href="https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0">CC BY-SA 4.0</a>], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Paolo_Monti_-_Servizio_fotografico_(Napoli,_1969)_-_BEIC_6353768.jpg">via Wikimedia Commons</a>

 

Estoicismo

Essa escola foi fundada por Zenão de Cício (333 a.C. – 263 a.C.), que se influenciou por outras teorias, como as de Heráclito e o próprio Cinismo. Um dos pontos principais era a ideia de unidade do mundo. Isso se dava pelo forte cunho materialista da doutrina que não se preocupava com os questionamentos metafísicos. Para os estoicos, a natureza já tinha seu curso traçado, sendo o cosmos irrefutável. A vida é cíclica, se repete, e a humanidade também fazia parte disso. Para que essa ideia prevaleça, o homem precisa acertar o determinismo da natureza, com a virtude. Assim, entra em consonância com todo o sistema. A liberdade individual existe, mas se o homem não for virtuoso, não viverá em harmonia. Para ser pleno, deve desistir de qualquer desejo que o retire do caminho da virtude. Essa teoria prevaleceu por muito tempo, principalmente entre os pensadores romanos.

A Filosofia Helenística foi transitória, esteve entre a Antiguidade Clássica e a Idade Média,quando o pensamento cristão dominou a sociedade europeia. As teorias apresentadas aqui influenciaram diretamente, por muitos anos, diversos filósofos, seja para aprovarem seja para criticarem.

A Filosofia Helenística é uma generalização que se relaciona mais ou período do que à filosofia em si. As escolas surgidas nesse momento são vastas e muito importantes para pensadores que vieram depois. Foquem nas teorias trabalhadas no texto, elas são as mais cobradas nos vestibulares, principalmente no Enem.

1. (Enem 2018) A quem não basta pouco, nada basta.

EPICURO. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1985.

Remanescente do período helenístico, a máxima apresentada valoriza a seguinte virtude: 

a) Esperança, tida como confiança no porvir.    

b) Justiça, interpretada como retidão de caráter.    

c) Temperança, marcada pelo domínio da vontade.    

d) Coragem, definida como fortitude na dificuldade.    

e) Prudência, caracterizada pelo correto uso da razão.   

2. (Enem 2016) Pirro afirmava que nada é nobre nem vergonhoso, justo ou injusto; e que, da mesma maneira, nada existe do ponto de vista da verdade; que os homens agem apenas segundo a lei e o costume, nada sendo mais isto do que aquilo. Ele levou uma vida de acordo com esta doutrina, nada procurando evitar e não se desviando do que quer que fosse, suportando tudo, carroças, por exemplo, precipícios, cães, nada deixando ao arbítrio dos sentidos.

LAÉRCIO, D. Vidas e sentenças dos filósofos ilustres. Brasília: Editora UnB, 1988.

O ceticismo, conforme sugerido no texto, caracteriza-se por:

a) Desprezar quaisquer convenções e obrigações da sociedade.   

b) Atingir o verdadeiro prazer como o princípio e o fim da vida feliz.   

c) Defender a indiferença e a impossibilidade de obter alguma certeza.   

d) Aceitar o determinismo e ocupar-se com a esperança transcendente.   

e) Agir de forma virtuosa e sábia a fim de enaltecer o homem bom e belo.    

3. (Enem 2014) Alguns dos desejos são naturais e necessários; outros, naturais e não necessários; outros, nem naturais nem necessários, mas nascidos de vã opinião. Os desejos que não nos trazem dor se não satisfeitos não são necessários, mas o seu impulso pode ser facilmente desfeito, quando é difícil obter sua satisfação ou parecem geradores de dano.

EPICURO DE SAMOS. “Doutrinas principais”. In: SANSON, V. F. Textos de filosofia. Rio de Janeiro: Eduff, 1974.

No fragmento da obra filosófica de Epicuro, o homem tem como fim

a) alcançar o prazer moderado e a felicidade.   

b) valorizar os deveres e as obrigações sociais.   

c) aceitar o sofrimento e o rigorismo da vida com resignação.   

d) refletir sobre os valores e as normas dadas pela divindade.   

e) defender a indiferença e a impossibilidade de se atingir o saber.   

Gabarito: 

Questão 1 - [C] – Epicurismo é baseada na busca pelo prazer, mas racionalizado, para que o desejo, a vontade não domine.

Questão 2 - [C] – Ceticismo se relaciona com a aceitação de que é impossível termos verdades universais, a dúvida e o questionamento é a fundação de tudo.

Questão 3 - [A]

Filosofia Helenística - séculos IV a.C. e III

- Epicurismo - Epicuro de Samos (341 a.C. – 271/270 a.C.) – hedoné

- Ceticismo - Pirro de Élida (c.360 a.C. – 270 a.C.) - posição crítica - pirronismo

- Cinismo - Diógenes de Sinope (412 a.C. – 323 a.C.) - ideia da simplicidade

- Estoicismo - Zenão de Cício (333 a.C. – 263 a.C.) - determinismo da natureza