Resumo de historia: Brasil Colônia - As culturas econômicas



Brasil Colônia – As culturas econômicas

Figura 1 - Muro com cavalos e escravos - Frans Post - c.1655 - Instituto Ricardo Brennand - Recife

Neste post, veremos outras culturas fundamentais para o desenvolvimento colonial, como a pecuária, o tabaco, o algodão e as drogas sertanejas que tanto contribuíram para a medicina domiciliar.  A divisão temporal para a História do Brasil Colônia obedece, sobretudo, às determinações econômicas. Estudamos a civilização do açúcar, do ouro, do café - As dimensões políticas também tem força, mas ganham maior protagonismo no século XIX.

Ao redor do açúcar, desenvolveram-se plantações de vários gêneros para abastecer a sociedade colonial nascente. A agricultura de subsistência teve um papel muito importante para a colônia, já que os produtos estrangeiros não chegavam com frequência.

O gado bovino não é originário da região, então os primeiros animais foram trazidos com a colonização, sendo Martim Afonso de Souza, donatário da capitania de São Vicente, o primeiro a cria-los. Logo depois, outros donatários passaram a requisitar animais para auxiliá-los em diversas atividades do dia-a-dia. A pecuária tinha outras funções além da alimentação. Os animais eram força motriz para moinhos, lavouras e meio de transporte. O couro era usado de diversas formas e a manutenção do gado sustentava boa parte da mão-de-obra livre.  Com o tempo, os rebanhos passaram a sair das mãos dos senhores de engenho e se deslocarem cada vez mais para o campo, tanto para o trabalho agrícola ou para o reaproveitamento da terra mal arada, que se tornou pasto. Ou seja, a criação de animais era uma forma de produção mais adaptável aos diversos climas brasileiros, apesar dos poucos conhecimentos técnicos, que foram sendo adquiridos ao longo do tempo. De início, o índice de mortalidade era alto, mas vai diminuindo conforme a capacidade de cuidado aumentava.

A produção de gado precisou ser regulamentada pela Metrópole. Em 1688, os produtores de açúcar do Recôncavo Baiano, já abalados com a concorrência antilhana, pressionaram à criação de uma lei que determinasse localizações específicas para a pecuária. Dessa forma, o litoral estava livre para o cultivo de açúcar, pois foi estabelecido que o gado só poderia existir após dez léguas. Isso auxiliou no desenvolvimento do interior e no surgimento de grandes proprietários de gado, que era comercializado com o litoral. Nos currais, os trabalhadores livres criavam o gado que ia para os engenhos e grandes propriedades. Esse tipo de atividade passou a movimentar o comércio na colônia, e atingiu todo o território, da capitania do Maranhão até a de São Vicente, da costa ao interior. O charque – carne salgada – ganhou grande importância comercial numa época em que não havia refrigeração. Portanto, o cultivo do gado bovino, caprino, ovino foi fundamental para o desenvolvimento do interior da colônia, pois o cultivo da cana ficava restrito ao litoral, com destaque para o Nordeste.

 Mesmo com a decadência da produção de açúcar no século XVII, a pecuária se manteve como uma atividade forte para a população, devido à sua versatilidade. Se no Nordeste os caprinos se tornaram maioria, no Sul do país, a partir do século XVIII, os bovinos dominaram, dando início à cultura do couro que se tornou muito forte na região.

O tabaco se tornou um produto fundamental no sul da Bahia, sobretudo na região do Recôncavo Baiano e também ao norte de Salvador, a capital da colônia. Já plantado na região pelos nativos, foi aprimorado seu cultivo com finalidade comercial. O fumo era produto de exportação que se tornou fonte importante para o equilíbrio da balança comercial portuguesa a partir do século XVII. Para isso, centralizou a produção, instituindo o monopólio em 1674 com a Junta de Administração do Tabaco, ou seja, quem plantasse a erva, pagaria impostos para a coroa.  A parte que não passava pelo “controle de qualidade” permanecia no Brasil ou viravam moeda de troca na África, utilizada pelos traficantes de escravos. Com o monopólio cresceram as fiscalizações, aumentando o aparato burocrático ao redor da produção.

O consumo do tabaco cresceu exponencialmente tanto na Europa quanto nas Américas, aumentando a demanda de produção. Por isso, encontramos a erva como produto de exportação em várias colônias, como no Brasil, no Caribe e nos Estados Unidos. Também é interessante destacar que o plantio se desenvolveu nessas regiões que utilizavam a mão-de-obra escrava.

O algodão, por sua vez, tinha grande importância no mercado interno, sobretudo no vestuário e na manufatura de tecidos que tinham diversas funções. Foi na região Nordeste, com destaque ao Maranhão, onde o cultivo algodoeiro se iniciou, mas teve seu lugar em outras regiões brasileiras.  Assim como nas colônias inglesas, o algodão cresceu de produção com a Revolução Industrial no século XVIII. De 1760 para frente, começaram os conflitos entre a Inglaterra e as 13 colônias, dando espaço para o algodão brasileiro e de outros países americanos a entrarem na competição pela demanda industrial. A mão-de-obra utilizada era a escrava, abastecida pelo intenso tráfico.

Por último, as drogas do sertão foram muito desejadas pelos europeus, não só os portugueses, que tiveram contato com essas plantas de múltiplas funções. Elas não eram plantadas e cultivadas e sim extraídas da natureza, sobretudo da região Amazônica, onde o extrativismo vegetal se tornou a principal atividade econômica. O Norte do país teve a ocupação feita não só pelos membros da coroa, mas também pelos religiosos de diversas ordens que tinham a missão de evangelizar os índios. Assim como no período do pau-brasil, a mão-de-obra indígena foi utilizada para extrair as plantas da floresta e ajudar no transporte para os portos de onde saíam para a Europa. A hidrografia da região, com os rios de planície, ajudava no deslocamento local. A castanha-do-pará, o cacau, o urucum, o cumaru, entre tantos outros, eram colhidos e vendidos com tanto prestígio quanto as especiarias. Muitas das folhas e raízes eram para uso medicinal, e esse conhecimento nativo foi se espalhando pela colônia com os comerciantes e caixeiros viajantes que se transportavam a vários locais.

Essas produções tiveram como característica a formação de pequenas propriedades que abasteciam a demanda mercadológica, mas muitas delas se tornaram grandes latifúndios como a pecuária e o algodão. Porém, é interessante percebermos como os ciclos econômicos não conseguem abranger a organização social e cultural da colônia.

 

Não foi apenas do açúcar e do ouro que o Brasil dependeu nos seus ciclos econômicos. A produção de tabaco, algodão, pecuária eram muito importantes para a subsistência dos colonos. Para entender a sociedade colonial, temos que ter contato com todos esses momentos.

1. (Uece 2018)  No Ceará, durante os séculos XVII e XVIII, formou-se o que o historiador cearense Capistrano de Abreu denominaria como “Civilização do Couro”. Este aspecto característico da colonização cearense está ligado

a) ao fato de existir, nas terras cearenses, uma farta manada de gado bufalino natural da região, o que proporcionou, aos nativos locais e aos europeus colonizadores, as condições ideais para explorarem aquela riqueza.   

b) ao desenvolvimento, após a decadência da produção algodoeira, de uma grande atividade de pecuária de corte e leiteira que, ainda hoje, é uma das maiores do Brasil e sustenta a economia cearense.   

c) ao processo colonizatório cearense que ocorreu a partir da ocupação pela pecuária, na capitania, através da frente de ocupação do sertão-de-fora, conduzida por pernambucanos, e da frente de ocupação do sertão-de-dentro, controlada principalmente por baianos.   

d) ao modelo original de ocupação através da pecuária bovina que, saindo do Ceará, ajudou na ocupação do interior nordestino e na colonização dos serrados do centro-oeste, dos pampas do sul do país e do pantanal mato-grossense.   

2. (Fgv 2018)  A agromanufatura da cana resultaria em outro produto tão importante quanto o açúcar: a cachaça. Alambiques proliferaram ao longo dos séculos coloniais. A comercialização da bebida afetava profundamente a importação de vinhos de Portugal. Esse comércio era obrigatório, pois por meio dos tributos pagos pelas cotas do vinho importado é que a Coroa pagava as suas tropas na Colônia. A cachaça produzida aqui passou a concorrer com os vinhos, com vantagens econômicas e culturais. Essa concorrência comercial entre colônia e metrópole se estendeu para as praças negreiras e rotas de comercialização de escravos na África portuguesa. A cachaça brasileira, por ser a bebida preferida para os negócios de compra e venda de escravos africanos, colocou em grande desvantagem a comercialização dos vinhos portugueses remetidos à África. A longa queda de braço mercantil acabou favorecendo afinal a cachaça, porque sem ela, nada de escravos, nada de produção na Colônia, com consequências graves para a arrecadação do reino.

(Ana Maria da Silva Moura. Doce, amargo açúcar. Nossa História, ano 3, nº 29, 2006. Adaptado)

A partir dessa breve história da cachaça no Brasil, é correto afirmar que

a) essa produção prejudicou os negócios relacionados ao açúcar, porque desviava parte considerável da mão de obra e dos capitais, além de incentivar o tráfico negreiro em detrimento do uso do trabalho compulsório indígena, que mais interessava ao Estado português.   

b) esse item motivou recorrentes conflitos entre as elites colonial e metropolitana, condição em parte solucionada quando as regiões africanas fornecedoras de escravos tornaram-se também produtoras de cachaça, o que desestimulou a sua produção na América portuguesa.   

c) essa bebida tem uma trajetória que comprova a ausência de domínio da metrópole sobre a América portuguesa, porque as restrições ao comércio e à produção de mercadorias no espaço colonial não surtiam efeitos práticos e coube aos senhores de engenho impor a ordem na Colônia.   

d) esse produto desrespeitava um princípio central nas relações que algumas metrópoles europeias impunham aos seus espaços coloniais, nesse caso, a quebra do monopólio de grupos mercantis do reino e a concorrência a produtos da metrópole.   

e) essa mercadoria recebeu um impulso importante, mesmo contrariando as determinações metropolitanas, mas, gradativamente, perdeu a sua importância, em especial quando o tabaco e os tecidos de algodão assumiram a função de moeda de troca por escravos na África.   

Gabarito: 

Questão 1 - [C] – nesta questão vemos a importância da pecuário no sertão do Ceará na época colonial. Com essa atividade, temos a ocupação de diversos territórios mais próximos ao sertão.

Questão 2 - [D] – A cachaça foi um dos produtos com venda recorrente no período colonial e entrava em conflito com o vinho português, o que seria uma brecha no Pacto Colonial.

 

Culturas econômicas: vários gêneros – subsistência

Animais: auxílio diário e no engenho – regulamentação para não sair do controle;

Fumo: entrou como produto de exploração no século XVII – produção centralizada;

Algodão: mercado interno e ganhou força de exportação no século XVIII