Resumo de historia: Rebeliões Nativistas – Revolta de Beckman e Guerra dos Emboabas



Rebeliões Nativistas – Revolta de Beckman e Guerra dos Emboabas

Figura 1 - Cidade de São Luís do Maranhão - Pequeno atlas do Maranhão e Grão-Pará - João Teixeira de Albernaz - 1629 - Albernaz I, João Teixeira, [Public domain]

Ao estudarmos a História do Brasil colonial percebemos que o período não foi pacífico ou harmônico. Desde a criação das capitanias hereditárias e dos governos gerais, a Coroa portuguesa enfrentou invasões, revoltas e motins em todos os séculos até a independência, em 1822. Falaremos aqui das Revoltas Nativistas, como foram chamadas a Revolta de Beckman (1684), Guerra dos Emboabas (1707-1709), Guerra dos Mascates (1710-1711) e Revolta de Felipe dos Santos – ou Revolta de Vila Rica – (1720). Consideradas o estopim para os movimentos independentistas, ao analisá-las separadamente, podemos perceber que as premissas foram diferentes das conjurações do século XVIII.

Apesar de serem chamadas de Nativistas, hoje em dia é consenso entre os historiadores que o objetivo dessas revoltas não era, a priori, a independência e a criação de um estado autossuficiente. Em todas, o desagrado residia mais nas medidas governamentais como os impostos, fiscalização considerada injusta, corrupção e a falta de autonomia político-administrativa e jurídica. Contudo, nem todas procuravam o fim do Pacto Colonial, e o problema estava com os desmandos dos políticos regionais, como veremos.

A Revolta de Beckman ocorreu no Maranhão em 1684 sob liderança dos irmãos Manuel e Tomás Beckman junto de produtores agrícolas e comerciantes da região. Antes, é preciso entender que o Maranhão era um dos mais importantes centros comerciais da colônia, ajudado por uma posição geográfica privilegiada. Além do acesso ao mar, os produtos manufaturados que chegavam da Europa eram deslocados mais facilmente pelo Norte e Nordeste.

Enquanto a cana-de-açúcar era produzida em larga escala em algumas capitanias, na região maranhense o extrativismo vegetal era o principal meio econômico, sendo que a mão-de-obra mais utilizada era a indígena. Isto causava atritos com a Igreja, principalmente com os jesuítas, que queriam proteger a exploração dos índios. Em 1680, a Coroa proibiu a escravização dos índios e criou a Junta das Missões, outorgando aos missionários a responsabilidade sobre eles. O descontentamento dos colonos crescia, já que o pouco de autonomia que tinham era restringida pelas medidas reais.

Na tentativa de amenizar a situação a metrópole concebeu, em 1682, a Companhia de Comércio do Maranhão e do Grão-Pará, que possuiria todo o monopólio do tráfico de escravos e outros produtos portugueses. A mão-de-obra africana seria fundamental para a manutenção da produção local, assim como o estabelecimento de preços justos para compra e venda de produtos nacionais e importados. Contudo, os acordos não foram cumpridos e os homens, sob comando dos Beckman, se uniram contra os representantes do governo. Tomaram a sede da Companhia, retiraram os diretores, e organizaram um governo paralelo, a Junta Geral do Governo, na Câmara Municipal. Além disso, aterrorizaram os jesuítas, considerados culpados por toda a situação.

Após um ano de revolta e governo provisório, Portugal mandou reforço militar para finalizar a situação. Nesse momento, Tomás Beckman é enviado à metrópole para demonstrar a lealdade ao rei e reforçar que o problema era com os responsáveis pela Companhia e com os jesuítas. Logo que aportou, foi preso e proibido de retornar ao Maranhão, cumprindo pena em Pernambuco. Enquanto isso, Manuel Beckman e outros líderes, como Jorge de Sampaio e Carvalho, foram facilmente dominados pelo novo governador Gomes Freire de Andrade e condenados à forca.

Figura 2 Representação da Guerra dos Emboabas - sem data e sem autor - Igreja Nossa Senhora de Monte Serrat – Salvador - https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/3c/Guerra_dos_Emboabas.jpg

 A Guerra dos Emboabas aconteceu no início do século XVIII, nas Minas Gerais, sendo a primeira revolta motivada pelo ouro encontrado na região. Os bandeirantes paulistas reivindicavam o descobrimento do metal, e de outras pedras preciosas, e não aceitavam a chegada crescente de pessoas que queriam enriquecer. Portugal, nessa época, já passava por sérias crises econômicas que aumentavam consideravelmente as dívidas estaduais. As colônias ficavam com fardo de sanar as dívidas por meio do aumento dos impostos, o principal motivo para os diversos conflitos do período. Junto dos impostos vinha a fiscalização acirrada para que fossem coletados corretamente, e, muitas vezes, isso era feito com abusos por parte dos representantes do governo.

No caso das Minas Gerais, a atuação da administração metropolitana recrudesceu e não conseguiu conter os problemas entre a população local. Geograficamente, a capitania ficava nos territórios de São Paulo e do Rio de Janeiro. Os paulistas chamavam as pessoas de fora da região de “estrangeiras” ou emboabas, que se tornaram a maioria da população em pouco tempo. Ou seja, os paulistas estavam em menor número e logo sofreram um revés dos emboabas que, em 1707, se uniram em grupos armados e atacavam, acirrando os conflitos da região.  

A organização metropolitana era tão frágil que figuras como Bento Coutinho, um dos principais líderes emboabas, conseguiram manter as táticas de dominação por quase um ano, vencendo quase todos os confrontos com os paulistas. Estes perdiam cada vez mais capital político, sendo o maior exemplo a nomeação de Manuel Nunes Viana, emboaba, para o cargo de governador.

A partir de 1709, a coroa percebeu que havia perdido o controle e tentava retomá-lo a partir de medidas legais. A primeira foi a separação territorial das Minas Gerais com a Capitania Real das Minas Gerais. Portanto, a colônia ganhava uma nova estrutura política que seria administrada por Portugal, que visava melhorar a arrecadação de impostos e acabar com os conflitos. As vilas Rica (atual Ouro Preto), Nossa Senhora da Conceição do Sabará e Nossa Senhora do Carmo (atual Mariana) foram instituídas nessa época e se tornaram centros urbanos muito importantes no século XVIII.

A intervenção portuguesa surtiu efeito. Vários paulistas saíram da região e adentraram o interior, se instalando em Goiás, Mato Grosso e adjacências em busca de metais e pedras preciosas. Como não encontraram, se estabeleceram nos locais e iniciaram a produção agrícola.

 

As Revoltas Nativistas, por muito tempo, eram ensinadas como movimentos de contestação que não tinham caráter majoritariamente separatista. Hoje em dia, devemos observá-las, também, a partir do descontentamento da população colonial com os abusos administrativos locais e do Governo Geral. Faça o quadro comparativo entre todas as revoltas, pois vocês perceberão como os vestibulares cobram dessa forma.

1. (Uece 2018)  Ocorridos entre os meados do século XVII até as primeiras décadas do século XVIII, os movimentos nativistas apresentam-se como os primeiros sinais de uma crise do sistema colonial.

Sobre esses movimentos, é correto afirmar que

a) tinham como principal objetivo a separação política entre colônia e metrópole, com a autonomia administrativa e a formação de novas nações livres nas regiões onde ocorriam.   

b) em Minas Gerais, com a Guerra dos Emboabas e a Revolta de Felipe dos Santos, no Maranhão, com a Revolta dos Beckman, e em Pernambuco, com a Insurreição Pernambucana e a Guerra dos Mascates, aparecem as divergências entre os interesses dos colonos e os da metrópole.   

c) ocorreram somente em locais que vivenciavam crises econômicas, como o Rio Grande do Sul (Farroupilha 1835-1845) e Pernambuco (Revolução Pernambucana de 1817).   

d) somente a Confederação do Equador, ocorrida no nordeste brasileiro, pode ser tomada como um legítimo movimento nativista, uma vez que não pretendia a separação política em relação a Portugal, mas, somente, maior autonomia administrativa.   

2. (G1 - col. naval 2016)  Leia texto a seguir.

Em 1682, foi criada a Companhia Geral do Comércio do Estado do Maranhão, com o objetivo de controlar os atritos entre fazendeiros e religiosos na disputa pelo trabalho indígena, mais barato que o africano, e incentivar a produção local... A companhia venderia aos habitantes do Maranhão produtos europeus, como azeite, vinho e tecidos, e deles compraria o que produzissem, como algodão, açúcar, madeira e as drogas do sertão, para comercializar na Europa. Também deveria fornecer à região quinhentos escravos por ano, uma fonte alternativa de mão de obra, diante da resistência jesuítica em permitir a escravidão de nativos. Os preços cobrados pela companhia, entretanto, eram abusivos, e ela não cumpria os acordos, como o fornecimento de escravos.

VICENTINO, Claudio e DORIGO, Gianpaolo. História Geral e do Brasil. Editora Scipione, SP, 2010 – p. 358.

O texto acima descreve uma situação que colaborou para o acontecimento de um conflito, no período colonial brasileiro ocorrido na segunda metade do século XVII, que ficou conhecido como

a) Revolta de Beckman.   

b) Guerra dos Mascates.   

c) Guerra dos Emboabas.   

d) Revolta de Felipe dos Santos.   

e) Revolta de Amador Bueno.   

Gabarito: 

Questão 1 - [B] – Lembrem-se do caráter contestatório e não separatista das Revoltas Nativistas. Cada um tinha uma reivindicação.

Questão 2 - [A] – Faça a interpretação do texto, que discorre sobre a Revolta de Beckman.

 

Revolta dos Beckman – 1684-1685

- Maranhão – área pobre – pouca estrutura

- 1682 – Cia do Comércio do Maranhão – conflito entre produtores, comerciantes e população

- Líderes: Tomás e Manuel Beckman

Guerra dos Emboabas – 1707-1709

- Minas Gerais – conflito em relação ao ouro – paulistas X portugueses