Resumo de historia: Cruzadas



Cruzadas

Figura 1 - Um anjo levando os cruzados a Jerusalém - século XIX - Gustave Doré´ - Gustave Doré [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Andel_krizaci.jpg">via Wikimedia Commons</a>

Durante a Idade Média, em 1095, o Papa Urbano II (1042-1099) convocou o Concílio de Clermont, no qual decidiram iniciar as Cruzadas. Foram expedições militares encabeçadas pelos nobres europeus ocorridas entre 1096 e 1270, com forte fundo religioso, tanto no aspecto político quanto no privado. As razões para existirem foram múltiplas, e o objetivo oficial era a retomada de Jerusalém do controle islâmico, mas não foi apenas isso.

Uma visão já debatida é a de que as Cruzadas foram apenas missões militares com o objetivo de aumentar poder sobre territórios, ou conseguir a posses de terras, por exemplo. Não deixa de ser verdade, mas peso religioso não pode ser desconsiderado, na realidade, deve ser colocado lado a lado aos interesses econômicos e políticos. O avanço muçulmano desde o século VIII atingira toda a região do Oriente Médio e Norte da África, alcançando a Europa. A Península Ibérica, por exemplo, passou séculos guerreando contra os árabes, os expulsando apenas em 1492. Para os europeus, seus espaços eram invadidos e a ida à Terra Santa era uma forma de salvação pessoal, também. Portanto, a fé foi um ponto fundamental para tomarem a decisão de peregrinarem.

O dualismo cristão fazia parte do senso comum medieval há tempos. A Igreja era a principal instituição da época, e sua influência só crescia. A ideia de bem x mal era a explicação universal para tudo, desde perguntas mais ontológicas até o cotidiano. Como o poder eclesiástico era muito grande, sua palavra era a final, era lei. Dessa forma, quem não seguia suas regras se tornavam inimigo da unidade cristã, do verdadeiro bem.

O problema em Jerusalém começou com a invasão turca que saqueavam a cidade e se apoderaram dela. A região era de maioria cristã e sob a tutela do Império Bizantino, que se via cada vez mais enfraquecido. A Igreja tinha conflitos com os bizantinos devido ao Cisma do Oriente, em 1054, no qual o poder cristão foi segregado em duas instituições. Com a chegada dos turcos, o Imperador Alexius Comnenus (1056-1118) pediu ajuda ao chefe católico para conseguir expulsá-los de suas terras e reconquistarem o domínio. É nesse momento que ocorre a convocação do Papa Urbano II, que podemos traduzir como a busca pela unificação de todos os reinos perante o Cristianismo.

Figura 2 - Iluminura medieval mostrando a Cruzada do Povo - Passages d'outremer - Sébastien Mamerot - c. 1474 - Jean Colombe [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Passages_d%27outremer_-_BNF_Fr.5594,_f5r_-_miniature_de_d%C3%A9dicace.jpg">via Wikimedia Commons</a>

De início, as Cruzadas tinham o caráter de peregrinação, já que o ato era uma das formas de se alcançar a vida no Paraíso, por exemplo. As motivações religiosas, como dito, foram muito importantes para que tivesse visibilidade perante a população e conseguissem ser viabilizadas. Tivemos um total de oito Cruzadas oficiais, e esse detalhe é importante, mas apenas as primeiras foram bem-sucedidas no objetivo que reconquistar Jerusalém. Destacaremos as mais importantes aqui. A Primeira Cruzada foi não-oficial e chamada de Cruzada do Povo, ou Popular ou dos Mendigos, em 1095, que teve início com um monge francês que conseguiu convencer um grande número de pessoas a se deslocarem para a Terra Santa. Sem preparo, recursos e com uma liderança caótica, foram facilmente derrotados pelos turcos e apenas 10% sobreviveu graças ao resgate feito pelos bizantinos.

Figura 3 - Jerusalém durante a Primeira Cruzada, 1099 - s/autor definido, talvez Sébastien Mamerot - c. século XIV ou XV - See page for author [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:1099jerusalem.jpg">via Wikimedia Commons</a>

A Primeira Cruzada oficial foi a Cruzada dos Príncipes, ou dos Barões, ocorrida entre 1096 e 1099, e o nome indica a existência de uma liderança múltipla. Os nobres Hugo de Vermandoir (c.1057-1101); Godofredo de Bouillon (1060-1100); Boemundo, príncipe de Taranto (1054-1111); Raimundo IV, conde de Toulouse (1041-1105); Roberto I de Flandres (1065-1111); Roberto II da Normandia (1050-1134); e, Estevão II, conde de Blois (1045-1102), se encontraram em Constantinopla para juntarem suas forças e marcharem em direção a Jerusalém.

Na capital bizantina os cruzados um acordo com o Imperador de devolverem os territórios conquistados pelos turcos. No caminho à Terra Santa, resolveram tomar a cidade de Niceia, que tinha um peso simbólico muito grande e era onde estava a fortaleza do Sultão turco. Cercaram a cidade, impediram a chegada de suplementos forçando uma rendição. Logo depois, tomaram a Antioquia, em uma ação que ficou famosa pelo surto de peste que ocorreu, acelerando a derrota dos turcos. Já em Jerusalém, massacraram os inimigos após poucos dias de cerco, não poupando mulheres e crianças. Conseguiram expulsar os muçulmanos e essa vitória foi importante por mostrar ser possível alcançar o objetivo principal.

Outras missões foram convocadas após a volta dos turcos a Jerusalém. Em 1144, a cidade de Edessa foi invadida, dando início à Segunda Cruzada que durou de 1147 a 1149. Porém, a Terceira Cruzada, de 1189 e 1192, foi uma das mais conhecidas. Convocada pelo Papa Gregório VIII (1108-1187) após o surgimento de um novo poder muçulmano na Terra Santa, dessa vez conduzido pelo sultão e militar egípcio Saladino (1138-1192). Três grandes reis europeus responderam ao chamado do Papa: Filipe II (1165-1223), da França; Ricardo I, Coração de Leão (1157-1199), da Inglaterra; e Frederico Barbarossa (1122-1190), do Sacro Império Romano Germânico. Não conseguiram expulsar os muçulmanos, então foi considerada um fracasso, amplificado pelos problemas internos e divergências estratégicas.

A Quarta Cruzada, ocorrida entre 1202 e 1204, teve mais de 35 mil voluntários, e os líderes resolveram atravessar à barco para chegar a Jerusalém. Na cidade de Veneza, foi construída uma frota inteira que os levaria para a Ásia Menor. Por uma questão financeira, os comerciantes venezianos fizeram acordos com os cruzados para receber o débito, que saquearam a cidade de Zara, no Mar Adriático. Ficou claro ao longo do tempo que os cruzados não guerreariam pela Terra Santa. Lutaram à favor dos ortodoxos por dinheiro e, quando não foram pagos, destruíram Constantinopla, piorando a situação do Império Bizantino, que nunca mais se recuperou. Os cavalos que adornam a fachada da Catedral de São Marco em Veneza foram roubados nesse incidente e levados para a cidade portuária.

Em 1270, a Oitava, e última, Cruzada oficial foi convocada e também não teve sucesso. O rei francês Louis IX (1214-1270) faleceu logo após o início das viagens, prejudicando toda a missão. Outros cruzados tentaram construir uma expedição ao longo dos séculos XIII e XIV, mas a crise na Europa já se instalara. As Cruzadas foram fundamentais para o processo de desarticulação da estrutura feudal e da sociedade medieval.

 

As Cruzadas foram movimentos militares e religiosos ocorridos durante a Idade Média e que se tornaram emblemáticos. Os mitos e símbolos surgidos foram reforçados no século XIX. Para o vestibular, vale saber as principais cruzadas e o que elas representaram para a Baixa Idade Média.

1. (Ufjf-pism 1 2015) Observe as figuras abaixo.

 

Dentre os objetivos que impulsionaram os homens medievais a empreender viagens rumo ao Oriente, podemos destacar, EXCETO:

a) A libertação da Palestina que estava sob domínio muçulmano desde o século VII, já que todo cristão era um vassalo de Deus e, portanto, deveria jurar fidelidade e lutar contra os “inimigos da fé cristã”.   

b) Apesar da conquista de riquezas por meio de pilhagens aos muçulmanos, as Cruzadas não obtiveram sucesso no que diz respeito ao domínio de territórios, já que os cruzados nunca conseguiram dominar a Cidade Santa (Jerusalém).   

c) O interesse em obter mercadorias raras no Ocidente, principalmente os produtos conhecidos como especiarias, através do controle das rotas de comércio no mar Mediterrâneo.   

d) A necessidade de regular conflitos, desviando o espírito belicoso dos senhores feudais para regiões sob ameaça do Islã, tal como observamos com o Império Bizantino, que recorre à ajuda de cruzados para proteger suas fronteiras.   

e) Os benefícios espirituais concedidos aos cruzados, tal como a indulgência plenária (perdão dos pecados) dada àqueles que partissem em peregrinação rumo à Terra Santa para combater os infiéis   

2. (Fgv 2013) Chegam a Jerusalém a 7 de junho de 1099. Jejuam e fazem procissões em redor da cidade, esperando que as suas orações deitem abaixo as muralhas, do mesmo que as trombetas de Josué tinham derrubado as de Jericó. A chegada a Jafa de navios genoveses, pisanos e venezianos é para eles de um grande auxílio [...] A cidade tão cobiçada é tomada a 15 de julho de 1099. Assistimos, então, à pilhagem e ao massacre sistemático de toda a população. Depois do regresso dos cruzados ao Ocidente, a posse de Jerusalém torna-se precária.

Tate, G. “Dois séculos de confronto entre o Oriente e o Ocidente”. In Arneville, M.-B. D’ e outros, As Cruzadas. Trad. Cascais: Pergaminho, 2001, p. 22.

O texto acima refere-se à

a) terceira Cruzada e revela os interesses bizantinos nessa expedição.   

b) Reconquista Ibérica e apresenta as motivações religiosas dessa empreitada.   

c) sétima Cruzada e demonstra a forte presença da monarquia francesa.   

d) primeira Cruzada e revela a forte religiosidade da peregrinação armada.   

e) quarta Cruzada e revela a participação exclusiva dos fiéis franceses.   

Gabarito: 

Questão 1 - [B] – A reconquista da Terra Santa que foi o principal motivo para a convocação das Cruzadas. Foram várias missões em que muçulmanos e cristãos entraram em conflito.

Questão 2 - [D] – Prestar atenção na data é fundamental, assim o aluno já pode responder a questão. A Primeira Cruzada foi a única do século XI.

 

Cruzadas – séculos XI-XIII

- 1095 – Convocação do Papa Urbano II

- Missões militares – reconquista da Terra Santa – Jerusalém

- Indulgências

- Proteção familiar

- Possibilidade de enriquecimento

- Interesses políticos e religiosos

- Novos mercados – rotas comerciais