Resumo de historia: Renascimento Italiano



Renascimento Italiano

Figura 1 - Estudo de embriões no útero - Leonardo Da Vinci - c. 1510-1513 - Leonardo da Vinci [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Leonardo_da_Vinci_-_Studies_of_the_foetus_in_the_womb.jpg">via Wikimedia Commons</a>

No texto sobre Renascimento, vimos que o movimento surgiu devido às transformações ocorridas desde a Baixa Idade Média e que se tornou uma Revolução científica e cultural entre os séculos XIV e XVI. O berço do Renascimento foi a Península Itálica, com suas diversas cidades-estado que iniciaram esse processo que se estendeu por toda a Europa. Veremos aqui, dessa forma, o que foi o movimento italiano, suas principais características e nomes.

As cidades italianas tiveram um desenvolvimento diferente de outras regiões da Europa ocidental. Eram autônomas, cada uma com um tipo de governo e, muitas vezes, entraram em conflito uma com as outras. A Itália só se tornou um país em 1871 com a Unificação Italiana, e esse atraso também pode ser explicado pelas organizações singulares ocorridas entre os territórios.

O comércio fez parte da economia local durante muito tempo, inclusive durante a Idade Média quando a maioria das cidades perderam seu protagonismo para o sistema agrário. Já vimos que a atividade mercantil não acabou no medievo, mas diminuiu consideravelmente. A troca cultural entre as diversas pessoas que transitavam pelas cidades italianas estimulou um ambiente mais cosmopolita. Junto a isso, o crescimento urbano e burguês ocorria, aumento os recursos que foram dispensados para financiar os trabalhos artísticos e arquitetônicos.

Contudo, vale destacar que nem todas as regiões italianas enriqueceram por meio do comércio. O centro-sul, por exemplo, que tinha Roma e Nápoles como cidades importantes, viviam constantes crises econômicas desde a Idade Média. A antiga capital do Império Romano estava em decadência há séculos, mesmo com a presença da maior instituição europeia da época, que era a Igreja Católica. A prosperidade que veio do comércio atingiu a região ao Norte, como Gênova, Veneza, Milão, chegando até a Toscana, em Lucca, Siena e Florença. O ressentimento em relação ao medievo era forte, pois teria sido o momento que estabeleceu a queda do Império. O “ressurgimento”, portanto, fazia uma alusão à volta desses tempos áureos da Antiguidade.

Quando falamos de Renascimento italiano damos ênfase ao desenvolvimento artístico e literário. A partir das características descritas em Renascimento, como o Humanismo, racionalismo e antropocentrismo, as obras produzidas naquela época são analisadas e, assim, classificadas em períodos específicos. É sempre importante lembrar que essas classificações tem o intuito de facilitar o entendimento das ações do passado, e muitas delas ocorrem após os fatos.

Figura 2 - Catedral de Santa Maria del Fiori e a cúpula de Brunelleschi - https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/6/67/Santa_Maria_del_Fiore.jpg

Os historiadores concordam que Florença foi o berço do movimento renascentista. A retomada do Clássico e as interpretações feitas a partir das obras encontradas naquele período, como guia intelectual e referencial teve muita força na cidade. No século XIV, categorizado como Trecento, a elite florentina decidiu patrocinar novos artistas, como o arquiteto Filippo Brunelleschi (1377-1446), que projetou a construção da cúpula – ou duomo – da Catedral de Santa Maria del Fiori, no coração da cidade. O edifício religioso começou a ser erigido no século XIII e tinha um projeto originalmente gótico, como a maioria das grandes igrejas europeias naquele momento. Contudo, chegou-se a um impasse em relação à cúpula, pois as técnicas empregadas até então não conseguiam solucionar o problema.

Figura 3 - O Beijo de Judas - Giotto di Bondone - c.1304-1306 - Capela de Scrovegni - Pádua, Itália - Giotto di Bondone [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Giotto_-_Scrovegni_-_-31-_-_Kiss_of_Judas.jpg">via Wikimedia Commons</a>

Além disso, a vontade das famílias ricas da região era a criação de um grande monumento que destacasse e demonstrasse o poder de Florença perante suas vizinhas. Brunelleschi estudara os exemplares clássicos encontrados em Roma, como o Panteão, sua cúpula e o óculo que ali foi colocado para sustentar a construção. Desenhou, portanto, o grande duomo, um marco no Renascimento italiano. Na pintura, Giotto di Bondone (1267-1337) foi um dos principais nomes por iniciar mudanças específicas em suas obras, como a perspectiva e a retratação mais realistas das figuras bíblicas. Apesar da temática religiosa ainda muito presente, e a influência da Igreja foi fundamental no movimento, a forma como pintavam homens, mulheres e paisagens tinham a interferência do pensamento laico que sobrepujava o caráter inteligível e inatingível da arte medieval.

Figura 4 - O Nascimento de Vênus - Sandro Botticelli - 1483 - Galleria degli Uffizi - Florença, Itália - Sandro Botticelli [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sandro_Botticelli_-_La_nascita_di_Venere_-_Google_Art_Project_-_edited.jp

Se o Trecento ocorreu mais profundamente nas cidades toscanas, no século XV começou o Quattrocento, que se estende por toda a península. Sandro Botticelli (1445-1510) foi um dos destaques do período, pois introduziu novas temáticas, de cunho pagão, na pintura, além das religiosas. Ele foi patrocinado pela família Médici, também da Toscana, que se tornou uma das mais influentes da política italiana. Entre os séculos XV e XVI, surgiu o Cinquecento, considerado o auge do desenvolvimento artístico italiano, com foco a Rafael Sanzio (1483-1520), Leonardo Da Vinci (1452-1519) e Michelangelo (1575-1564). Foram artistas versáteis que viveram sob proteção do mecenato, seja de famílias endinheiradas ou de instituições.

Figura 5 - A Ressurreição de Jesus Cristo - Rafael - c. 1499-1502 - MASP, São Paulo - Raphael [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Rafael_-_ressureicaocristo01.jpg">via Wikimedia Commons</a>

Rafael produziu tanto em Florença e Siena, como em Roma, onde foi contratado pelo Papa Julio II (1443-1513). O uso da perspectiva, das cores, da luz e das figuras arquitetônicas denotam estudos profundos da arte clássica e das interpretações humanistas.

Figura 6 - A Virgem dos Rochedos - Leonardo Da Vinci - 1483–1486 - Museu do Louvre, Paris, França - Leonardo da Vinci [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Virgin_of_the_Rocks_(Louvre).jpg">via Wikimedia Commons</a>

Da Vinci, por sua vez, se tornou um dos nomes mais célebres do Renascimento. Transitou por diversas áreas, desde experimentações cientificas, passando pela invenção de novos dispositivos e objetos, até a arte, principalmente com desenhos e pinturas. Estas contêm traços desenvolvidos pelas pesquisas científicas que fazia, sobretudo na dissecação de corpos, o que auxiliou na verossimilhança com o ser humano, mas este sempre idealizado.

 Seus desenhos eram mais trabalhados do que a técnica de pintura em si, porém, ficou conhecido pelo uso da técnica do sfumato, que era o ato de esfumar as linhas para criar profundidade na peça. Seus quadros e afrescos possuíam uma história, estimulavam a reflexão acerca da temática. Tinha como prática a repetição de obras, tanto para aprimorar quanto para desenvolver pontos que foram negligenciados. Mudou de Florença para Milão, passou por Roma e outras cidades, até retornar à Toscana, onde nasceu. Essa era uma das características do período, as viagens devido a novos contratos, o que ajudou a espalhar o pensamento artístico pela península.

Figura 7 - Moisés - Michelangelo - 1513–1515 - Basílica de San Pietro in Vincoli - Roma, Itália - Jörg Bittner Unna [<a href="https://creativecommons.org/licenses/by/3.0">CC BY 3.0</a>], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Moses_JBU01.jpg">via Wikimedia

Michelangelo foi um dos grandes nomes da pintura e escultura, e fez sua carreira sobretudo em Roma, sob a proteção da Igreja Católica, e em Florença, sob o mecenato da família Médici. Estudou intensamente com outros mestres e se tornou um exímio criador da representação do corpo humano. Suas esculturas eram grandiosas e abarcam temáticas bíblicas como Davi, a Pietá e Moisés. Na pintura, o afresco da Capela Sistina, no Vaticano, é o exemplo mais conhecido e visitado, no qual também desenvolveu a figura humana baseada as representações escultóricas clássicas. Viveu uma longa vida e produziu intensamente até o fim.

O Renascimento realizado na Itália viajou e atingiu diversos países na Europa. Flandres, Inglaterra, Espanha e França, entre outros, tiveram seus movimentos artísticos, literários e científicos, o que veremos em outro texto.

O Renascimento italiano é cobrado com frequência nos vestibulares mais tradicionais por incorporar os elementos característicos do movimento, como o antropocentrismo, racionalismo e humanismo. Os períodos de apogeu, como o Trecento, Quattrocento e Cinquecento, são grandes exemplificações de como podemos entender a sua construção.

1. (Unicamp 2019) Leia o texto a seguir e observe a figura do Homem Vitruviano.

Ao longo da vida, cada vez mais, Leonardo da Vinci passou a perceber que a matemática era a chave para transformar suas observações em teorias. Não existe certeza na ciência em que a matemática não possa ser aplicada, declarou.

(Adaptado de Walter Isaacson, Leonardo da Vinci. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2017, p. 52.)

Assinale a alternativa que expressa adequadamente a correlação entre o texto e a imagem. 

a) Figura emblemática do Renascimento, Leonardo da Vinci destaca-se pela sua obra pictórica e por seu desenho do Homem Vitruviano. Para ele, arte e ciência se baseavam nas relações análogas entre homem e natureza preconizadas pela alquimia.    

b) O Homem Vitruviano de Leonardo da Vinci condensa uma série de estudos do artista, e mesmo a leitura de uma cópia manuscrita da obra de Vitrúvio. O desenho sintetiza uma relação harmônica entre homem e mundo pautada pela analogia geométrica.    

c) Na linhagem dos artistas-arquitetos-engenheiros renascentistas, Leonardo da Vinci dedicou-se ao estudo da perspectiva e especialmente da aritmética, buscando harmonizar as relações entre o homem e Deus no Homem Vitruviano.    

d) Leitor assíduo da física newtoniana, Leonardo da Vinci reconhecia que tanto a aritmética quanto a geometria poderiam ser usadas na arte, arquitetura e engenharia. Na elaboração do desenho do Homem Vitruviano, ele comprovou esta hipótese.    

2. (Fmp 2018) No texto a seguir, o historiador Nicolau Sevcenko descreve o ambiente de emergência do Renascimento.

Surge assim a sociedade dos mercadores, organizada por princípios como a liberdade de iniciativa, a cobiça e a potencialidade do homem, compreendido como senhor todo-poderoso da natureza, destinado a dominá-la e submetê-la à sua vontade, substituindo-se no papel do próprio Criador.

SEVCENKO, N. O Renascimento. São Paulo: Atual, 2004, p. 3.

Considerando-se os séculos XV e XVI, na Europa, o trecho citado dá ênfase a elementos típicos do

a) cosmopolitismo   

b) industrialismo   

c) tomismo   

d) feudalismo   

e) teocentrismo   

Gabarito: 

Questão 1 - [B] – Leonardo Da Vinci é um dos nomes mais famosos do período renascentista e ele criou o Homem VItruviano, com o qual sintetizou as características geométricas e antropocêntricas.

Questão 2 - [A] – No mesmo período de desenvolvimento do Renascimento, houve o aumento das atividades mercantis e as trocas culturais entre as populações das regiões comerciais. Assim, o contexto é de cosmopolitismo, com o crescimento de centros urbanos.

 

- Renascimento Italiano – Florença - berço do movimento renascentista

Humanismo, racionalismo e antropocentrismo

Trecento: Brunelleschi (1377-1446)Duomo – da Catedral de Santa Maria del Fiori; Giotto di Bondone (1267-1337)

Quattrocento – Sandro Botticelli (1445-1510)

Cinquecento - Rafael Sanzio (1483-1520), Leonardo Da Vinci (1452-1519) e Michelangelo (1575-1564)