Resumo de historia: Revolução Inglesa (1640-1688) – A Revolução Puritana e a Revolução Gloriosa



Revolução Inglesa (1640-1688) – A Revolução Puritana e a Revolução Gloriosa

Figura 1 - A batalha de Naseby - s/a - c. séc. XVII - Encyclopædia Britannica online [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Battle_of_Naseby.jpg">via Wikimedia Commons</a>

Enquanto nos séculos XVI e XVII observamos o desenvolvimento do Absolutismo e das transformações econômicas como o Mercantilismo, no século XVIII o cenário mudou. Na Inglaterra foi onde as contestações ao Antigo Regime começaram, ainda no século XVII, e esses movimentos ficaram conhecidos como Revolução Inglesa, que foram Revolução Puritana, em 1640, e Revolução Gloriosa, em 1688. Veremos as características de cada uma delas até a assinatura da Bill of Rights, em 1689.

O contexto da Inglaterra no século XVII era de transformações. Desde a Reforma Anglicana em 1534, o país teve o crescimento das receitas e dos seus territórios devido à desapropriação dos bens da Igreja Católica. Os recursos possibilitaram a formação da Marinha inglesa, que se tornara a maior da Europa. Além disso, financiou mercenários e piratas para atacarem frotas estrangeiras no Oceano Atlântico.

Ao longo dos séculos XVI e XVII, os feudos ingleses foram desestruturados dando espaço para os cercamentos – os enclousures – que eram demarcações de terras que viravam propriedades. Os comerciantes que enriqueceram – a gentry – compraram esses territórios e mudaram a produção agrícola que era essencialmente comunal para uma voltada à demanda. Esse processo foi fundamental para a Revolução Industrial, pois os campos foram destinados ao gado e plantações de algodão. A agricultura de subsistência ainda era uma demanda, que foi absorvida pelos médios e pequenos proprietários, os yeomanry, que se tornaram a burguesia rural voltada ao mercado interno.

Outra questão era o Anglicanismo, que mudou a configuração social e religiosa do país. Nem todos os ingleses se tornaram adeptos da Igreja Anglicana, alguns adotaram o Calvinismo e ficaram conhecidos como puritanos. Eram críticos do Absolutismo e queriam que a religião oficial do estado fosse purificada. O conflito religioso foi fundamental para que as mudanças sociais acontecessem.

O contexto político se complicou com a morte de Elizabeth I em 1603. Com a Dinastia Tudor, a Inglaterra desenvolveu o Absolutismo, mas manteve o Parlamento, que era composto pela Câmara dos Lordes e a dos Comuns. Controlavam os impostos e a legislação, o que diferenciava o sistema inglês dos outros países, como a França ou a Espanha. Com a morte da rainha, Jaime I (1566-1625), da Dinastia Stuart, assumiu o trono. Logo se tornou impopular por utilizar o anglicanismo para justificar e instituir o direito divino dos reis. O Parlamento se colocou contrário às medidas do rei, sobretudo as que afetavam diretamente a burguesia crescente. A pressão foi tão forte que ele abdicou para que seu filho Carlos I (1600-1649) tomasse o trono. Porém, o novo soberano não apaziguou os ânimos, inclusive continuou as propostas do pai. Uma das mais controversas foi forçar empréstimos aos súditos para aumentar as receitas do governo. O descontentamento dos políticos era latente e, em 1628, lançaram a Petição de Direitos, que exigia a anuência real de que nenhuma medida administrativa poderia ser imposta sem a aprovação deles. Carlos I, em represália, dissolveu o Parlamento.

Figura 2 - Carlos I - Van Dyck - 1635-1636 - Royal Collection - Reino Unido - Royal Collection [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Sir_Anthony_Van_Dyck_-_Charles_I_(1600-49)_-_Google_Art_Project.jpg">via Wikimedia Commons</a>

Em 1640, ele convocou os parlamentares para que reorganizassem as finanças do país. A Inglaterra necessitava de fundos para uma iminente guerra contra a Escócia, que tinha fundo religioso. Quando o Parlamento se reuniu a primeira ação foi enfraquecer o poder da coroa. as câmaras retomaram seus papeis como fiscais tributarias e passaram a mediar as decisões do rei. Enquanto isso, puritanos e anglicanos entraram em conflito, pois aqueles queriam o fim da Igreja da Inglaterra. Foi o início da Guerra Civil, que durou até 1649. Esse episódio ficou conhecido como a Revolução Puritana, que foi o confronto entre os cavaleiros – ou realistas – que eram os nobres, católicos e anglicanos que apoiavam o rei, e os cabeças-redondas, que eram os puritanos, a burguesia, comerciantes e a população em geral que defendiam o Parlamento.

Oliver Cromwell (1599-1658) era o líder dos cabeças-redondas e, após perderem algumas batalhas, passou a liderar o New Model Army (ou Novo Modelo de Exército). Recrutavam as pessoas que se voluntariavam a partir dos méritos e das convicções religiosas. Em 1645, na batalha de Naseby, Carlos I foi derrotado e aprisionado. Sua execução ocorreu apenas em 1649, sinalizando o fim da guerra. A Inglaterra vivera quatro anos de instabilidade durante esse período, e o rei, mesmo preso, passou a conspirar para retomar o seu poder ao mesmo tempo em que o Exército se colocava irredutível nas suas reivindicações. Em 1648, Carlos I e seus apoiadores atacaram e foram derrotados. Seu julgamento ocorreu no mesmo ano e a pena executada em janeiro de 1649.

Figura 3 - Oliver Cromwell - Robert Walker - 1649 - National Portrait Gallery - Londres - Robert Walker [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Oliver_Cromwell_by_Robert_Walker.jpg">via Wikimedia Commons</a>

O novo governante foi Cromwell, que instalou a Commonwealth ou a República Puritana, que durou de 1649 a 1660. O primeiro ponto era líder com o clima político instável do país depois de anos de conflito. Além disso, iniciaram um novo sistema de governo que necessitava de adaptações. O principal desafio estava dentro do próprio Exército, que possuía grupos sociais diversos, gerando um problema interno. Os levellers (os niveladores) e os diggers (os cavadores) queriam transformações mais profundas como direito a voto e redistribuição de propriedades. Cromwell, para manter a ordem já que os ânimos estavam exaltados, passou a perseguir, sobretudo os levellers. Havia, também, a desconfiança dos católicos e monarquistas irlandeses e interviu na ilha ao criar uma área protestante, o que causou problemas por séculos.

Os levellers foram executados por Cromwell, que faleceu em 1658 e seu filho, Ricardo, assumiu o governo. Em 1660, ele foi deposto devido à incapacidade de lidar com os diferentes problemas sociais e políticos. O Parlamento, para restaurar a ordem, convocou a Monarquia, coroando Carlos II (1630-1685), filho de Carlos I e vivia na França. A burguesia o apoiou e ele conseguiu governar e instituir leis. Em 1685, Jaime II (1633-1701), irmão do rei, assumiu o trono e logo quis restabelecer o Absolutismo nos moldes franceses. Sua forma de impor suas ideias foi se cercar de simpatizantes do Antigo Regime, além do próprio ser católico, o que era um conflito de interesses. A Igreja não aprovava as decisões do rei e o clima belicoso retornara.

Figura 4 - Guilherme III da Inglaterra - Godfrey Kneller – 1690 - Royal Collection – Reino Unido - Godfrey Kneller [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:WilliamIII.jpg">via Wikimedia Commons</a>

O Parlamento, sobretudo a Câmara dos Lordes, decidiu agir antes de uma possível revolta armada. Chamaram Guilherme de Orange (1650-1702), genro de Carlos II, para desafiar o rei e assumir o trono, o que ocorreu em 1688, se tornando Guilherme III da Inglaterra. Esse episódio ficou conhecido como Revolução Gloriosa. Foi uma mudança não só para os ingleses, mas também para a Europa que via o surgimento de uma monarquia constitucional e parlamentarista. Vemos, portanto, a consolidação dos domínios burgueses e o fim de qualquer tipo de organização feudal. Em 1689, foi aprovada a Bill of Rights, que estabeleceu as premissas do novo regime.

 

A Revolução Inglesa foi o início do processo de desmantelamento do Antigo Regime na Europa, por isso é muito importante ser estudada. O aluno começa a compreender, também, os andaimes políticos e econômicos que tornaram a Revolução Industrial possível. Para o vestibular, lembre-se do contexto e compara a situação da Inglaterra com a de outros países.

1. (Upf 2018) “As Revoluções [inglesas e francesa], além de outras peculiaridades, são notórias como canteiros de ideologias, particularmente ideologias populares de protesto. Uma característica comum às revoluções [inglesas e francesa] é terem ocorrido num período pré-industrial, em que a luta pelo poder ou pela sobrevivência – seja pelo controle do Estado ou por objetivos mais limitados – não se limitava a dois adversários apenas. Em cada uma dessas revoluções, esteve presente um elemento popular adicional que também lutava por um lugar ao sol.”

(RUDÉ, George. Ideologia e protesto popular. Rio de Janeiro: Zahar editores, 1982).

Comparando as revoluções burguesas inglesas e francesa, é correto afirmar: 

a) Ao contrário do que ocorreu na Inglaterra, na França, o processo revolucionário levou ao fortalecimento da pequena nobreza, que era marginalizada durante o antigo regime.    

b) Na Inglaterra, a luta contra o absolutismo diferenciou-se da trajetória revolucionária da França, pois possibilitou que os anseios populares fossem atendidos pelo novo regime.    

c) Ao contrário da Revolução Inglesa, na França, a revolução foi marcada pelas disputas religiosas e pela ausência do apoio popular, principalmente dos camponeses, que ficaram inertes diante dos acontecimentos.    

d) A Revolução Francesa foi seguida de um forte processo de industrialização no país, enquanto na Inglaterra, a revolução, por ser um processo meramente político, provoca uma estagnação econômica.    

e) Diferentemente do que ocorreu na França, a Revolução Inglesa cria condições para o fortalecimento do Parlamento, no qual os interesses da burguesia em ascensão estão representados.    

2. (Upe-ssa 2 2017) A morte de Carlos I, rei da Inglaterra, em 1649, conforme demonstra a imagem abaixo, teve como principal(ais) significado(s) sociopolítico(s) a(o)

a) crise e o declínio do absolutismo.   

b) implementação da República inglesa.   

c) restabelecimento das relações feudais.   

d) irrupção de movimentos liberais pró-presidencialismo.    

e) estabelecimento da guerra civil e o fim do Reino Unido.   

Gabarito: 

Questão 1 - [E] – A Revolução Gloriosa de 1688 foi o fim do Absolutismo e Mercantilismo na Inglaterra e fortaleceu os interesses da burguesia.

Questão 2 - [A] – Em 1649, Carlos I foi executado pelo Parlamento, que foi o início da instalação da monarquia constitucional e parlamentar, substituindo de vez qualquer resquício absolutista. Essa questão tem uma pegadinha, pois, em 1649, foi instalada a República Puritana. Porém, o enunciado pede o significado sociopolítico da morte do rei, portanto, só pode ser a [A].

 

Revoluções Inglesas – 1640-1688

- Revolução Puritana e a Guerra Civil (1640-1649);

Morte de Elizabeth I em 1603 - Jaime I (1566-1625), da Dinastia Stuart, assumiu o trono

Rei impopular

Parlamento se colocou contrário às medidas do rei

Abdicou e Carlos I (1600-1649) foi coroado - continuou as propostas do pai.

Em 1628 – Parlamento lançou a Petição de Direitos – Carlos I dissolveu o Parlamento

Em 1640 – Carlos I convocou os parlamentares para que reorganizassem as finanças do país

Puritanos e anglicanos entraram em conflito - Guerra Civil - até 1649

Revolução Puritana - confronto entre os cavaleiros e cabeças-redondas

Carlos I foi derrotado e aprisionado. Sua execução ocorreu apenas em 1649,

- República de Oliver Cromwell - (1649-1658);

Commonwealth

Clima político instável

Levellers (os niveladores) e os Diggers (os cavadores) queriam transformações mais profunda

Levellers foram executados por Cromwell

Em 1660 – Parlamento convocou a Monarquia

- Restauração da dinastia Stuart (1660-1688);

Coroação de Carlos II (1630-1685) – teve apoio da burguesia

Em 1685 - Jaime II (1633-1701), irmão do rei, assumiu o trono e logo quis restabelecer o Absolutismo

Parlamento decidiu agir

- Revolução Gloriosa (1688)

Guilherme de Orange (1650-1702), genro de Carlos II - Guilherme III da Inglaterra

Deposição de Jaime II

Em 1689 - Bill of Right