Resumo de historia: Iluminismo – características gerais



Iluminismo – características gerais

Figura 1 - Capa da Enciclopédia de D'Alembert e Diderot - 1751 - 1772 - English: Long List of Contributors to the EncyclopédieDeutsch: Lange Liste der Beiträger zur EnzyklopädieFrançais : Liste longue des Collaborateurs de l'EncyclopédieРусский: Энциклопедис

O Iluminismo foi um movimento filosófico, artístico e intelectual que dominou a Europa no século XVIII. Neste momento, o Antigo Regime apresentava sinais claros de desgaste. As práticas Mercantilistas não sustentavam o estado e o Absolutismo passou a ser contestado. A burguesia crescera, enriquecera e buscava maior representatividade e participação política. Veremos como e quando o movimento iluminista surgiu, suas principais características e o impacto na política, cultura e sociedade ocidentais.

É comum associarmos o século XVIII como Século das Luzes, mas o início do Iluminismo é debatido pelos intelectuais. Alguns apontam que o ano da morte do rei francês Luís XIV, 1715, seria o começo. Porém, é inegável relacionar os ideais desenvolvidos nesse período com a Revolução Científica dos séculos XVI e XVII. René Descartes (1596-1650) e Isaac Newton (1642-1727) foram dois cientistas que inspiraram os autores posteriores. O inglês formulou a Lei da Gravidade, uma das leis universais que serviram de base para vários iluministas aderirem à busca por respostas empíricas para o mundo físico. Com Descartes aconteceu algo parecido. A criação da metodologia científica revolucionou a forma de se fazer e enxergar a ciência.  Os autores iluministas se destacaram pelo uso da razão e pelo cientificismo que evoluíra desde o Renascimento. Inclusive, considera-se o Iluminismo um herdeiro da tradição nacionalista que nasceu junto da Idade Moderna.

Outro ponto importante sobre o Iluminismo foi o papel da França como criadora da matriz intelectual que se tornou notória e influenciou os Estados Unidos, Brasil e outros países americanos. Dessa forma, o século XVIII é a data mais utilizada para periodizar o movimento. Apesar de outros locais desenvolverem a filosofia, de uma maneira geral, conseguimos destacar algumas características que abarcam todos:

- Racionalismo: o uso da razão não foi prerrogativa do Século das Luzes. Há tempos que filósofos discutiam e aplicavam a razão, como Aristóteles e até São Tomás de Aquino, mas foi no Renascimento que a prática ganhou destaque.

- Progresso: se relacionava ao homem, seus caminhos e evolução intelectual, mas também foi aplicado aos sistemas político e econômico.

- Liberdade: um dos conceitos mais importantes para os iluministas, pode ser aplicado em várias áreas, mas as ramificações entre política e economia tiveram força por muito tempo. A primeira se relaciona diretamente ao descontentamento crescente com o Absolutismo. Esses filósofos se vim como esclarecidos por diversos motivos, um deles é a visão de que o sistema estava falindo aos poucos. A intenção da liberdade política era clara: limitar o poder real e maior participação popular, principalmente os burgueses. Desenvolveram, também, a liberdade econômica, que reivindicava a diminuição da intervenção do estado na economia. Ao longo do tempo, o liberalismo econômico ganhou forma e características bem definidas, mas surgiu nesse contexto problemático.

- Igualdade: foi outra premissa, mas que deve ser analisada meticulosamente pois nossa concepção de agora não deve nublar a perspectiva do passado. É importante destacar que os iluministas não necessariamente apoiavam a democracia. A igualdade não dizia respeito a todos os setores sociais. Novamente, se relacionava aos privilégios da nobreza, que existiam desde o nascimento. A burguesia queria o fim dessa desigualdade perante as partes, para que houvesse uma maior mobilidade social, inexistente no sistema estamental. Vários autores destacam o viés elitista do movimento por não abarcarem todas as classes e pelos filósofos se colocarem como seres esclarecidos em comparação aos outros. Outro grupo que foi contestado era o clero, que também rogava de privilégios, dando o caráter anticlerical ao Iluminismo.

Figura 2 -  Denis Diderot - Louis-Michel van Loo - 1767 - Museu do Louvre - Louis-Michel van Loo [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Louis-Michel_van_Loo_001.jpg">via Wikimedia Commons</a>

Quando analisamos o Iluminismo, o primeiro país que vem à mente é a França. Os valores iluministas, baseados nas características acima, foram aderidos massivamente pelos intelectuais franceses. Foi lá que a preocupação com a difusão do conhecimento científico ganhou forma e se tornou uma prática. Isso se relacionava à preocupação de esclarecer a todos, para que abandonassem uma visão obsoleta de mundo.

Vale lembrar que o país, apesar de oficialmente católico, vivera as guerras de religião desde o século XVI e os protestantes ganharam espaço, sobretudo entre a burguesia. Os filósofos defendias o fim da visão hegemônica da Igreja, se colocando como contrários à censura e à intolerância religiosa.

Figura 3 - Jean Le Rond d'Alembert - Maurice Quentin de La Tour - 1753 - Museu do Louvre - Maurice Quentin de La Tour [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Alembert.jpg">via Wikimedia Commons</a>

Para a divulgação dessa filosofia, Jean D’Alembert (1717-1783) e Denis Diderot (1713-1784) organizaram a Enciclopédia – Dicionário Razoado das Ciências, Artes e Ofícios – que pretendia abranger todo o conhecimento do mundo. A preocupação com a opinião pública e sua formação era a grande novidade. Se tornou uma tradição a compilação de saberes em variados volumes. Tinha circulação mais interna nos espaços privados, já que a censura atingia o público.

A prática não se restringiu aos autores acima. François-Marie Arouet (1694-1778), o Voltaire, também criou seu Dicionário Filosófico, publicado em 1764 e organizado com artigos que apresentavam sua posição em relação à Igreja e à Monarquia. Foi exilado na Inglaterra, de onde proferiu diversas críticas ao sistema de privilégios que se instalara por séculos no Antigo Regime. Abordamos em Filósofos Iluministas, com maior profundidade, as ideias de Voltaire, Montesquieu (1689-1755) e Rousseau (1712-1778).

Mesmo que criticassem fervorosamente o Absolutismo, muitos dos iluministas defendiam um monarca forte, mas esclarecido. Essa postura crítica em relação ao Antigo Regime, a aceitação do viés mais moderno, baseado nos preceitos da razão e da ciência, deu alguns monarcas a alcunha de Déspotas Esclarecidos. Os filósofos apoiavam medidas reformadoras no estado, que deveria acabar com os privilégios desnecessários, desenvolver uma arrecadação de impostos mais eficiente e o fim do direito divino dos reis. Os principais países e monarcas que aderiram ao despotismo esclarecido foram:

Figura 4 - Frederico II - Antoine Pesne - 1739-1740 - Gemäldegalerie - Berlim, Alemanha -Antoine Pesne [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Antoine_Pesne_-_Friedrich_der_Gro%C3%9Fe_als_Kronprinz_(1739).jpg">via Wikimedia Commons</a>

- Rússia: que teve início com Pedro, o Grande (1672-1725), que modernizou seu território, por exemplo, com a construção da cidade de São Petersburgo, que se tornou referência para a monarquia russa. Anos depois, quem manteve suas medidas foi Catarina II, a Grande (1762-1796), que procurou diminuir o poder da Igreja Ortodoxa perante o estado, além de incentivar novas obras públicas. Ainda assim os mais afetados pelas mudanças foram os nobres e a elite burguesa.

- Prússia: o rei Frederico II, o Grande (1740-1786) foi um dos principais déspotas esclarecidos da Europa. Protegeu os filósofos, defendia a tolerância religiosa e implantou um sistema educacional mais moderno, sobretudo com a obrigação do ensino. Novamente, os maiores privilegiados pelas medidas foram os nobres, que ainda mantinham controles sobre terras e propriedades, como escravos.

- Portugal: o rei José I (1750-1777), nomeou como Primeiro-Ministro o Marquês de Pombal (1699-1782), que reformou profundamente o país, como vimos em Período Pombalino.

O Absolutismo sofrera golpes difíceis no início do século XVIII, porém não foi derrubado facilmente. A descoberta de metais preciosos no México e no Brasil deu sobrevida aos reis da Espanha e Portugal. Medidas eram adotadas inclusive na França, que eliminou o Antigo Regime apenas em 1789. A Inglaterra, por sua vez, passara pela Revolução em 1640, culminando na Monarquia Constitucional em 1688.

O Iluminismo foi um dos principais movimentos europeus e se tornou o alicerce intelectual no período revolucionário. As características descritas acima são importantes para que o aluno entenda o papel dos filósofos em um momento de transição política e econômica.

1. (Usf 2018) Conhecido como o século das Luzes ou do Iluminismo, o século XVIII foi marcado por um movimento do pensamento europeu (ocorrido mais especificamente na segunda metade do século XVIII) que abrangeu o pensamento filosófico e gerou uma grande revolução nas artes (principalmente na literatura), nas ciências, nos costumes, na teoria política e na doutrina jurídica. O Iluminismo também se distinguiu pela centralidade da ciência e da racionalidade crítica no questionamento filosófico.

Disponível em: <https://www.maxwell.vrac.puc-rio.br/15543/15543_3.pdf>. Acesso em: 12/09/2017.

Tomando como base o contexto abordado, podemos afirmar corretamente que

a) o liberalismo econômico deu ênfase à economia mercantilista, na qual o Estado seria responsável pela regulamentação de preços e mercados para evitar abusos que prejudicariam a população.   

b) a Escola Fisiocrata sustentou a ideia de que existem leis naturais regendo a sociedade, mas que poderiam ser alteradas pelo bem da humanidade, e, além disso, defendeu que a indústria e o comércio seriam responsáveis pela riqueza de uma nação.    

c) as ideias defendidas por John Locke, na obra O contrato social, afirmam que o soberano deve conduzir o Estado de forma democrática, de acordo com a vontade do povo.    

d) o Despotismo Esclarecido, ligado à associação entre as ideias das luzes e o poder absolutista dos reis, foi aplicado com ênfase em todos os Estados europeus no início do século XVIII, resultando no nascimento de dezenas de monarquias parlamentaristas.    

e) o Iluminismo combateu o mercantilismo, o tradicionalismo religioso herdado da Idade Média e a divisão da sociedade em estamentos.   

2. (Enem PPL 2017) Os direitos civis, surgidos na luta contra o Absolutismo real, ao se inscreverem nas primeiras constituições modernas, aparecem como se fossem conquistas definitivas de toda a humanidade. Por isso, ainda hoje invocamos esses velhos “direitos naturais” nas batalhas contra os regimes autoritários que subsistem.

QUIRINO, C. G.; MONTES, M. L. Constituições. São Paulo: Ática, 1992 (adaptado).

O conjunto de direitos ao qual o texto se refere inclui

a) voto secreto e candidatura em eleições.   

b) moradia digna e vagas em universidade.   

c) previdência social e saúde de qualidade.   

d) igualdade jurídica e liberdade de expressão.   

e) filiação partidária e participação em sindicatos.   

Gabarito: 

Questão 1 - [E] – O Iluminismo criticou severamente o Antigo Regime e suas características. O Mercantilismo foi duramente criticado pelos iluministas, muitos defendiam o mercado e a não intervenção do estado na economia. A sociedade estamental também, pela impossibilidade de mobilidade social, além de defenderem a liberdade religiosa, igualdade etc.

Questão 2 - [D] – O Antigo Regime era o alvo dos filósofos iluministas, que viam na modernização sistemática do estado a solução para evoluírem. O Absolutismo concentrava o poder nas mãos do rei, que tinha o direito divino, e mantinha os privilégios da nobreza, instituindo uma profunda desigualdade social.

 

Iluminismo - século XVII

- Crítica ao Antigo Regime - sinais claros de desgaste

- Uso da razão e do cientificismo

Características:

- Racionalismo

- Progresso

- Liberdade

- Igualdade - caráter anticlerical

Divulgação dessa filosofia – Esclarecimento

Déspotas Esclarecidos

- Rússia: Pedro, o Grande (1672-1725) e Catarina II, a Grande (1762-1796)

- Prússia: Frederico II, o Grande (1740-1786)

- Portugal: José I (1750-1777) - Marquês de Pombal (1699-1782)