Resumo de historia: A Farroupilha



A Farroupilha

Figura 1- Bandeira da República Rio-Grandense

A Guerra dos Farrapos (1835-1845), ou Farroupilha, foi uma das revoltas ocorridas no Período Regencial, que teve como início a insatisfação com medidas estabelecidas pelo governo central. Liderada por Bento Gonçalves (1788-1847), Davi Canabarro (1796-1867), Giuseppe Garibaldi (1807-1882), que buscavam a manutenção da autonomia da província do Rio Grande do Sul depois da prerrogativa de arrocho do controle imperial no período.

A história da região é diferente da de outras províncias brasileiras. O Sul foi anexado posteriormente à colônia portuguesa, conhecido como Colônia de Sacramento, que sofreu diversas invasões de espanhóis. Somente no século XVIII que foi definida como posse de Portugal. Isso é importante porque a relação entre a monarquia e a população do Sul era estratégica, sobretudo após a descoberta de ouro nas Minas Gerais. Com o crescimento urbano no Sudeste, o uso de gado para as atividades mineradoras e agrícolas impulsionou a criação dos animais no Sul, pois já faziam essa atividade. Além disso, havia a questão militar das fronteiras, pois a ocupação desses espaços era fundamental para o controle da região da Bacia do Rio de Prata, onde escoavam os minérios de prata da colônia espanhola.

A região, dessa forma, vivia certa autonomia desde a época colonial. A economia sobrevivia de abastecer o mercado interno com, basicamente, produtos agrícolas e a pecuária. O charque, que é a carne-seca, era uma das principais mercadorias produzida e vendida pela população sulista, até porque era consumida por várias classes.

O nome farrapos, inclusive, era um termo pejorativo utilizado para os que apoiavam o Partido Liberal, enquanto os conservadores ficaram conhecidos como caramurus, também ofensivo. Os farrapos transformaram o insulto em orgulho, mas mesmo dentro do grupo havia dissidências. Uns queriam a independência da província, outros queriam maior representatividade na Assembleia Provincial, também existiam os monarquistas, os federalistas, os abolicionistas, os escravistas, etc. Em 1832, por exemplo, foi criado o Partido Farroupilha. Essa diversidade de interesses começou a se unificar quando os conflitos saíram do âmbito político e tornou-se armado.

Desde a Constituição de 1824, as províncias brasileiras respondiam diretamente ao governo central, o que causou estranhamento nos locais mais distantes da capital, como no Sul e no Nordeste. O descontentamento já vinha ocorrendo há décadas, mas ganhou força com as taxações aos produtos sulistas, que não tinham preço competitivo em relação aos países estrangeiros. O sentimento geral era de descaso do governo, o que piorou em 1834, quando foi nomeado o juiz Antônio Rodrigues Fernandes Braga (1805-1875) como presidente da província. Membro do Partido Conservador, essa indicação desagradou boa parte dos liberais da região, que buscavam maior autonomia.

Deve-se destacar que nem todos os liberais eram rebeldes, nem toda a população do Rio Grande do Sul se revoltou. Os criadores de gado que viviam nas fronteiras e parte da alta sociedade urbana gaúcha passaram a se unir contra o governo central. Já outros setores dependiam diretamente do mercado consumidor das outras províncias, então não se envolveram no conflito.

Figura 2 - Planta da cidade de Porto-Allegre: com a linha de trincheiras e fortificações que lhe tem servido de defesa desde o memoravel dia 15 de junho de 1836 - Luis Pereira Dias – 1839 - L. P. Dias [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Planta_da_cidade_de_Porto-Allegre_(Cartogr%C3%A1fico)_%E2%80%94_com_a_linha_de_trincheiras_e_fortifica%C3%A7%C3%B5es_que_lhe_tem_servido_de_defesa_desde_o_memoravel_dia_15_de_junho_de_1836,_com_as..._por_L._P._Dias.jpg">via Wikimedia Commons</a>

A principal reivindicação dos grupos armados que surgiam pela região era o aumento dos impostos de importação, o que não ocorreu, desencadeando a revolta. O novo presidente provincial decidiu abafar com o uso da força os revoltosos, causando efeito reverso. Em 20 de setembro de 1835, Bento Gonçalves, Davi Canabarro, e outros líderes iniciaram o conflito armado, culminando na tomada de Porto Alegre. A ação não durou por muito tempo, pois o exército regencial chegou para reconquistar a capital, em 15 de julho de 1836.

Figura 3 - Proclamação da República de Piratini - Antônio Parreiras - 1915 - Museu Antônio Parreiras - Niterói/RJ - Antônio Parreiras [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Antonio_Parreiras_-_Proclama%C3%A7%C3%A3o_da_Rep%C3%BAblica_Piratini_-_1915.jpg">via Wikimedia Commons</a>

Os farroupilhas rumaram para o interior, subindo cada vez mais para Norte e conquistando diversos territórios, mas com dificuldades de mantê-los. No dia 10 de setembro de 1836, venceram a Batalha do Seival sob comando de Antônio de Sousa Netto (1803-1866), que significou um grande passo para os revolucionários. No dia 11 de setembro, Sousa Netto proclamou a fundação da República Rio-Grandense, ou República Piratini, com sede na cidade de Piratini e com Bento Gonçalves nomeado presidente. Gonçalves é um dos principais nomes desse momento, e sua luta é reafirmada pelas atitudes que tomou ao longo do tempo. Fugiu da prisão imperial duas vezes, uma no Rio de Janeiro e outra em Salvador.

Figura 4 - Expedição à Laguna - Lucílio de Albuquerque - 1916 - Instituto de Educação General Flores da Cunha - Porto Alegre/RS - Lucílio de Albuquerque [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Luc%C3%ADlio_de_Albuquerque_-_Expedi%C3%A7%C3%A3o_%C3%A0_Laguna_(detalhe),_1916.jpg">via Wikimedia Commons</a>

Um dos grandes problemas desse novo Estado era a falta de comunicação via mar, ou seja, não conseguiam abastecimento e fácil deslocamento por não terem portos em seus domínios. Aqui entra a figura de Giuseppe Garibaldi, que conheceu Gonçalves na capital do Império e rumou para a nova República para controlar a marinha. Havia um estaleiro de pequeno porte no rio Camaquã, mas a ação mais efetiva de Garibaldi foi capturar os navios imperiais. Como a maioria dos rios eram rasos, as poucas embarcações dos rebeldes foram construídas a partir dessas dificuldades, já as do governo central não, portanto, Garibaldi as transportava em terra com o uso de rodas e animais.

Os farroupilhas não conquistaram cidades grandes, e os apoiadores do movimento sofriam duras repressões da província. Em julho de 1839, contudo, chegaram Laguna, cidade de Santa Catarina e proclamaram no dia 29 a República Juliana. As duas repúblicas independentes formavam uma Confederação, juntando suas forças contra o Império.

O destino final era Desterro, atual Florianópolis, mas foram impedidos de conquistar a cidade pelas tropas do governo central. Garibaldi e sua mulher, Anita, fugiram da região e, posteriormente, embarcaram para a Itália. Ele ficará conhecido por ter lutado no processo de unificação do país, em 1871.

A falta de solidez das duas repúblicas rendeu a alcunha de República Andarilha, porém, as reivindicações revolucionárias não eram despercebidas pela Coroa. Em 1840, ocorreu o Golpe da Maioridade, e D. Pedro II assumiu seu lugar como Imperador. Isso significou mudanças na aceitação do poder central, já que uma das questões na regência seria a falta de legitimidade dos governantes por não serem os detentores do poder, de fato.

D. Pedro II nomeou Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias (1803-1880), em 1842, como presidente da província, e começaram as conversas sobre anistia e um abrandamento da posição do governo. Era de interesse nacional que os conflitos fossem encerrados, até porque não era só no Sul que eles aconteciam. Uma das reivindicações aceitas foi o aumento dos impostos para produtos importados em 25%, o que satisfez boa parte dos apoiadores do conflito.

Davi Canabarro liderou as conversas sobre a trégua definitiva, que foram pautadas na anistia total dos revoltosos, para que não ocorresse uma caça às bruxas posteriormente. Lembrem-se que muitos líderes de movimentos contra a coroa foram mortos no passado. Outro ponto muito importante foi que o governo assumiu todas as dívidas da República Rio-Grandense, além de que os seus generais e estrategistas militares foram incorporados ao exército imperial. Os escravos que lutaram pelos rebeldes foram alforriados, o que também simboliza mudanças importantes. Em 01 de março de 1845, o fim da guerra foi selado, o que causa um movimento interessante. O Império ganhou militarmente, já que seu poderia era superior, porém, politicamente os farroupilhas conseguiram que suas exigências fossem alcançadas. Muitos afirmam que o interesse separatista dos farroupilhas foi o principal motivo para o início da guerra, mas esse pensamento não é unânime entre os historiadores. O único consenso está no desejo de que a província fosse mais autônoma em relação às medidas imperiais.

O fim desse conflito simbolizou uma nova era para o Segundo Império, que não teria mais que lidar com os problemas provenientes do Período Regencial.

A Guerra dos Farrapos foi um dos conflitos regenciais mais conhecidos. Sobretudo os vestibulandos do sul do Brasil, é fundamental saber os detalhes da situação. Para todos, façam as comparações entre as revoltas, elencando as diferenças e semelhanças.

1. (Acafe 2018) “A criação de gado se generalizou, na região, assim como a transformação da carne bovina em charque (carne-seca). O charque era um produto vital...”

Fonte: FAUSTO, Boris. História do Brasil. 5ª. Edição. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1997. Página 168.

Pode-se afirmar que as questões envolvendo o charque resultaram num conflito ocorrido no período regencial que chegou até o início do Segundo Reinado no Brasil. Nesse sentido, é correto afirmar: 

a) As questões envolvendo o charque foi um dos motivos da Guerra dos Farrapos, iniciada no Rio Grande do Sul.    

b) Esse conflito ocorreu na região mineradora, entre os produtores nordestinos e gaúchos, e ficou conhecido como Guerra dos Emboabas.    

c) A produção de charque em Mato Grosso, área de intensa pecuária no Segundo Reinado, ocasionou um conflito entre produtores locais e estancieiros oriundos do Rio Grande do Sul. A solução foi a divisão de Mato Grosso, criando-se o estado de Mato Grosso do Sul.    

d) Após este conflito, o Imperador D. Pedro II autorizou a importação de charque do Uruguai e da Argentina, já que as charqueadas da região sudeste foram extintas. O charque platino entrava no Brasil com baixas taxas alfandegárias.    

2. (Mackenzie 2017) “... esses males, nós os temos suportado em comum com as outras Províncias da União Brasileira (...). Para que lançássemos mãos das armas foi preciso a concorrência de outras causas (...) que nos dizem respeito(...) e que nos trouxeram íntima convicção da impossibilidade de avançarmos na carreira da Civilização e prosperidade sujeitos a um governo que há formado o projeto iníquo de nos submeter à mais abjeta escravidão (...).”

O trecho do Manifesto Farroupilha de 1838, referia-se ao

a) fortalecimento do poder central nas mãos da elite latifundiária, ligados ao setor exportador, impedindo assim a participação política das camadas médias urbanas, sobretudo dos militares.   

b) estabelecimento de tarifas alfandegárias favoráveis aos interesses dos estanceiros gaúchos e charqueadores e maior autonomia aos governos provinciais.   

c) desejo de um governo federalista capaz de limitar o anseio e efetiva participação das classes populares e ampliar o poder dos grandes proprietários de escravos junto ao governo.   

d) anseio autonomista das diversas províncias do país e eliminação do regime de produção escravista, vigente também no sul do país, para tentar dinamizar o mercado consumidor nacional.   

e) repúdio à política centralizadora do governo imperial, assim como às demais rebeliões populares que assolavam o país, defendendo reformas sociais e a adesão a um regime unitarista.   

Gabarito: 

Questão 1 - [A] - A Guerra da Farroupilha, 1835-1845, ocorreu no Rio Grande do Sul e o governo brasileiro cobrava vários impostos, causando o descontentamento dos fazendeiros do Rio Grande do Sul.  

Questão 2 - [B] – A questão traz um manifesto feito na época da Guerra dos Farrapos, com a reivindicação do povo, sobretudo maior autonomia às províncias.

 

Guerra dos Farrapos – 1835-1845

- Rio Grande do Sul e Santa Catarina

- Reivindicavam autonomia

- Crise com a carne de charque

- Líderes – Bento Gonçalves, Davi Canabarro, Giuseppe Garibaldi, Anita Garibaldi

- Descontentamento com o governo

- Altos impostos

- República Rio Grandense – capital Piratini

- República Juliana – capital Laguna

- Derrota dos farrapos