Resumo de historia: Movimentos Sociais – Cangaço (século XIX e XX) e a Revolta de Juazeiro (1914)



Movimentos Sociais – Cangaço (século XIX e XX) e a Revolta de Juazeiro (1914)

Figura 1 - Lampião e seu bando - 1927 - See page for author [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Lampi%C3%A3o_em_Mossor%C3%B3.jpg">via Wikimedia Commons</a>

 

Ao estudarmos a História do Brasil, temos contato com as diversas revoltas motivadas pelo descaso e negligência para com a população. Só entre o século XIX e XX, vimos a Sabinada, a Balaiada, Canudos, entre outras. Faz pouco tempo que o Brasil passou a estudar com mais afinco os movimentos nordestinos como o fenômeno do Cangaço, com origem no século XIX e a Revolta de Juazeiro, em 1914. Veremos suas principais características e importância para a história brasileira.

As populações das regiões Norte e Nordeste, sobretudo no sertão nordestino, sempre sofreram com a exploração e falta de seguridade dos seus direitos. Revoltas contra os governos vigentes se tornaram uma constante na história dessas pessoas. O Cangaço foi um movimento nascido no sertão nordestino, mas sem uma causa específica, ou seja, não havia uma reivindicação específica como Canudos, por exemplo. Foi um meio de luta e sobrevivência, pois se tornou símbolo de enfrentamento ao sistema.

O cangaceiro era o sertanejo nômade que vivia de trabalho em trabalho, de cidade em cidade, geralmente em grupos que eram estruturados com líderes e funções específicas. Esses grupos poderiam ou não atuar em conformidade com a lei. Muitos prestavam serviços pontuais a fazendeiros, mas os que se tornaram bandidos aos olhos da lei ganharam notoriedade. Dito isso, é importante distinguir que, para latifundiários e para as autoridades, os cangaceiros eram criminosos, que deveriam ser penalizados, porém a população local os via como corajosos, honrosos e heróis. Isto ocorria porque muitos distribuíam riquezas roubadas ou até pelo fato de atacarem aqueles que oprimiam o povo.

Essa dicotomia narrativa marcou a memória do Cangaço e o aluno tem que entender que existe a visão institucional – de que eram bandidos – e a visão popular – de que eram corajosos. O contexto de descaso com o sertão nordestino também tem que ser levado em consideração, pois as longas secas, a falta de estrutura e a política coronelista e clientelista da República Velha auxiliaram na manutenção da miséria do povo.

O processo de migração para o Centro-Oeste e Sudeste a partir da década de 1940 foi motivado pela falta de estrutura nos estados nordestinos. Além disso, havia uma diferença muito grande entre o litoral, onde estava a maior concentração populacional e de riqueza, e o interior, que sofria com o clima mais hostil. Isto é, os que viviam no sertão eram ainda mais marginalizados.

Vale destacar que muitos cangaceiros aterrorizavam a população também, não apenas os fazendeiros. Roubos, saques, sequestros eram comuns entre as pessoas notórias das pequenas cidades, mas o povo também sofria com a onda de violência. Muitos justificavam, contudo, que o sistema não deixava outra solução para eles. Os grupos mais conhecidos foram liderados por: Lucas da Feira ou Lucas Evangelista (1807-1849) que atuava na região de Feira de Santana, na Bahia, por volta de 1828, sendo o primeiro a se ter notícia que fez isso; e, Jesuíno Alves de Melo Calado (1844-1889), na década de 1870 entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte.

Figura 2 - Lampião e Maria Bonita - c. 1936-1937 - Benjamin Abrahão Botto [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:1886lampiao2g.jpg">via Wikimedia Commons</a>

 

No entanto, Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938), o Lampião, é o cangaceiro mais conhecido do Brasil, considerado o “Rei do Cangaço”. Se deslocou pela Bahia, Sergipe e Alagoas, pelas décadas de 1920 e 1930. Sua história como cangaceiro começou ao jurar vingança à família dos Saturninos por terem assassinado seu pai. Isso demonstra a falta de atuação da Justiça na região. o conhecimento da geografia local auxiliava no deslocamento sobre as terras, dificultando o aprisionamento deles. Lampião se casou com Maria Alia da Silva (1911-1938), a Maria Bonita, que foi incorporada ao grupo. As mulheres tinham papeis importantes na estrutura do cangaço, mas eram subordinadas aos maridos, mantendo a estrutura patriarcal existente na sociedade.

Em 1938, após acampar em uma fazenda no Sergipe, foram atacados por policiais que sabiam da rotina do grupo, surgindo a hipótese de traição entre eles. Lampião morreu na troca de tiros, Maria Bonita foi degolada enquanto alguns conseguiram fugir ou foram pegos. Essa situação entre governo e cangaceiros só diminuiu a partir da década de 1940 com a nacionalização do poder militar e da Justiça na Era Vargas.

Figura 3 - Floro Bartolomeu e Padre Cícero - c. 1924 - See page for author [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Floro_e_C%C3%ADcero.jpg">via Wikimedia Commons</a>

 

A Revolta de Juazeiro, ou Sedição, ocorreu em 1914 no estado do Ceará, foi um movimento popular, mas com a liderança de alguns coronéis, por causa da intervenção federal a partir da Política Salvacionista de Hermes da Fonseca. Vemos, portanto, que a política regionalista da República Velha era favorável a alguns estados, nem todos. O Norte e Nordeste sentiam maiores efeitos da influência imposta pelo presidente. As oligarquias mais tradicionais não caíram nas graças do presidente, o que foi o caso da família Acioly. Eles decidiram agitar a população contra o governador Franco Rabelo, instalado por Fonseca. Para isso, recrutaram uma figura de grande apelo, o Padre Cícero (1844-1934).

Padre Cícero Romão Batista era muito popular. Desde o fim do século XIX, angariou diversos fiéis pela forma como conduzia sua comunidade. Fazia novenas, rezas, encontros direcionados aos problemas pontuais da região, como a seca e a cura de enfermos, e seus dotes tidos como milagreiros começaram a chamar a atenção. Cada vez mais aumentava sua influência, que se tornou maior do que a religiosa.

Desobedecendo as ordens da Igreja, se tornou um coronel e passou a interferir nas questões políticas e militares da região. Assim, convenceu a população a se revoltar contra a interferência federal. Em 1913, um grupo de líderes coronéis se formou e decidiu que Franco Rabelo tinha um mandato ilegal. O conflito teve início com os rebeldes liderados pelo Padre Cícero utilizando um misto de táticas de guerrilhas com estratagemas militares. As tropas de Rabelo foram derrotadas constantemente e os revoltosos ocuparam algumas cidades no interior. Em 15 de março de 1914, o governador foi encurralado e deposto. O processo foi violento e a família Acioly voltou ao poder.

 

No Vestibular...

Entender essas revoltas e movimentos no Nordeste brasileiro são importantes para que o quadro político da República Velha seja completo. Vemos a complexidade do sistema político e como, no Brasil, tivemos tantos conflitos ao longo da História.

 

1. (G1 - ifpe 2019) Se, atualmente, a sociedade trava debates sobre o tráfico de drogas, o crime organizado, o alto índice de menores infratores, a violência doméstica e outras formas de violência, até décadas atrás, o país convivia com um certo tipo de “marginal”, misto de justiceiro e vingador: o bandido social.

Disponível em: <http://www.encontro.ms.anpuh.org/resources/anais/38/1412803050_ARQUIVO_ARTIGOBanditismoSocial.pdf>. Acesso em: 05 out. 2018.

O conceito de banditismo social, tal como apresentando no TEXTO 9, aplicado ao Brasil do início do século XX, pode ser exemplificado 

a) pela guerra civil, no Rio Grande do Sul, entre federalistas (“maragatos”) e republicanos (“pica-paus”), chamada de Revolução Federalista.    

b) pelo movimento operário, de orientação anarcossindicalista, que culminou com a organização da greve de 1917, em São Paulo.    

c) pela revolta organizada pelos moradores do centro do Rio de Janeiro, contra a demolição dos cortiços, operação denominada de Bota-Abaixo.    

d) pelo fenômeno de grupos armados que percorriam o Nordeste, com origens associadas a questões sociais e fundiárias, conhecido como Cangaço.    

e) pela rebelião armada contra castigos físicos, organizada por marinheiros do Rio de Janeiro, nomeada de Revolta da Chibata.    

 

2. (Unesp 2018) Entre as manifestações místicas presentes no Nordeste brasileiro no final do Império e nas primeiras décadas da República, identificam-se

a) as pregações do Padre Ibiapina, relacionadas à defesa do protestantismo calvinista, e a literatura de cordel, que cantava os mitos e as lendas da região.   

b) o cangaço, que realizava saques a armazéns para roubar alimentos e distribuí-los aos famintos, e o coronelismo, com suas práticas assistencialistas.   

c) a liderança do Padre Cícero, vinculada à dinâmica política tradicional da região, e o movimento de Canudos, com características de contestação social.   

d) a peregrinação de multidões a Juazeiro do Norte, para pedir graças aos padres milagreiros, e a liderança messiânica do fazendeiro pernambucano Delmiro Gouveia.   

e) a ação catequizadora de padres e bispos ligados à Igreja católica e a atuação do líder José Maria, que comandou a resistência na região do Contestado.    

 

Gabarito: 

Resposta da Questão 1 – [D] – O Cangaço foi um movimento que ganhou força no contexto da República Velha e tem visões dicotômicas entre ser concebido como Banditismo ou Resistência.

Resposta Questão 2 – [C] – A situação social no sertão nordestino ajudou no surgimento de mártires e figuras salvadoras como Padre Cícero e Antônio Conselheiro que deram início a movimentos importantes para a história nordestina. 

 

Resumão...

Cangaço – República Velha

- Cangaceiro: sertanejo

- Dicotomia: bandidos X corajosos.

- Contexto: descaso com o sertão nordestino

- Lucas da Feira ou Lucas Evangelista (1807-1849)

- Jesuíno Alves de Melo Calado (1844-1889)

- Virgulino Ferreira da Silva (1898-1938), o Lampião, é o cangaceiro mais conhecido do Brasil, considerado o “Rei do Cangaço”.

Revolta de Juazeiro, ou Sedição, ocorreu em 1914

- Movimento popular - contra o governador Franco Rabelo

- Liderança da elite

- Contexto: Política Salvacionista de Hermes da Fonseca

- Padre Cícero (1844-1934).

- 1913 - conflito teve início com os rebeldes liderados pelo Padre Cícero

- 15 de março de 1914 - o governador foi encurralado e deposto. O processo foi violento e a família Acioly voltou ao poder.