Resumo de historia: Confederação do Equador e Guerra Cisplatina



Confederação do Equador e Guerra Cisplatina

Figura 1 - Combate entre rebeldes e legalistas na luta dos Afogados. - Leandro Martins - c. 1820-1830 - Leandro Martins [Public domain], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Confederacao_equador_1824_exercito_imperial.jpg">via Wikimedia Commons</a>

Como vimos em O Primeiro Reinado, o reinado de D. Pedro I foi permeado de conflitos que iam além dos políticos. Dois deles foram a Confederação do Equador (1824), em Pernambuco, e a Guerra Cisplatina (1825-1827), no sul do país. Abordaremos ambos aqui, destacando as causas e os problemas que decorreram deles.

O imperador demonstrou sua intenção de personalizar o governo desde o começo, o que ficou claro com a dissolução da Assembleia Constituinte em 1823 e com a Constituição Outorgada em 1824. O Poder Moderador era visto como uma provocação à elite brasileira que queria maior participação política.

Um dos pontos de terem instituído a monarquia era para a manutenção da soberania nacional. Porém, nas províncias, as críticas às medidas governamentais ganhavam força, sobretudo em Pernambuco, que havia passado por uma revolta separatista pouco tempo antes. Os intelectuais e a alta sociedade pernambucana queriam maior autonomia e menor intervenção do Estado.

Um dos principais líderes oposicionistas foi Cipriano Barata (1762-1838), o mesmo que havia participado da Conjuração Baiana em 1798 e da Revolução de 1817. Com ele temos um exemplo de atuação da imprensa como propagadora dos ideais republicanos. No jornal Sentinela da Liberdade, opiniões contra a monarquia eram frequentes e ganhavam força com a crise econômica que viviam. Outro personagem foi Frei Caneca (1779-1825) – Joaquim do Amor Divino –, opositor ferrenho que obteve mais destaque com a prisão de Barata.

Figura 2 - Bandeira da Confederação do Equador - http://www.vexilologia.com.br/pe.html [Public domain]

A situação escalava com o apoio popular até que o governo interviu ao destituir Manuel de Carvalho Pais de Andrade (1774-1855), o presidente da província e líder do movimento liberal, com a intenção de controlar os ânimos. Colocaram no cargo o aliado monarquista Francisco Pais Barreto (1779-1848). Andrade e seus parceiros refutaram a Constituição e decretaram em 02 de junho de 1824, a independência. Convocaram os vizinhos para aderirem ao novo país e formaram a Confederação do Equador.

A adesão popular foi grande, pois viam uma possibilidade de mudança de vida. Medidas como a extinção do tráfico negreiro atraíram o povo, sobretudo a população negra e os homens livres que poderiam ter mais opções de trabalho.

O governo reagiu enviando tropas para restabelecer a soberania nacional. em casa uma das províncias, o Exército real investia contra as cidades rebeldes. Com empréstimos ingleses e sob comando do Lorde Thomas Cochrane (1775-1860), a monarquia conseguiu acabar com o movimento separatista em novembro do mesmo ano. Prisões foram sentenciadas, mas os líderes receberam penas mais duras, como Frei Caneca, que foi fuzilado.

Figura 3 - Província Cisplatina no Império do Brasil – 1822 - Milenioscuro [<a href="https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0">CC BY-SA 4.0</a>], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Cisplatina_in_Brazil_(1822).svg">via Wikimedia Commons</a>

Se a Confederação do Equador foi um dos conflitos internos que agitou o Primeiro Reinado, a Guerra Cisplatina afetou as relações diplomáticas brasileiras. Entre 1825 e 1827, Brasil e Argentina disputaram a Província Cisplatina, que tem uma posição estratégica por causa da foz do rio da Prata, local de escoamento de matérias-primas desde a colonização. A rivalidade pela posse da região é antiga. Os portugueses chegaram em 1680 e deram o nome de Colônia de Sacramento, mesmo assim, as disputas territoriais com os espanhóis eram frequentes. Em 1777, a colônia passou para o domínio da Espanha, mas em 1808 voltou para o governo luso sob a ordem de D. João VI. Desde então, ficou conhecida como Província Cisplatina, mas a situação entre locais e portugueses só piorava.

Com as recorrentes mudanças de poder, o sentimento de independência crescia entre a população, que havia desenvolvido uma identidade cultural diferente da brasileira, desde a língua até a questões sociais que a conectava mais aos colonos da América espanhola. O principal líder dos cisplatinos descontentes era Juan Antonio Lavalleja y de la Torre (1784-1853), que os conduziu à separação do Brasil e à aliança com as Províncias Unidas do Rio da Prata, atual Argentina, em 1825. Os argentinos visavam anexar a Cisplatina, então ajudaram os rebeldes contra o Brasil, que declarou guerra no dia 10 de dezembro de 1825.

Mesmo com a vantagem do Império de ser muito maior em tamanho e número populacional, além de ter mais recursos, o conflito ajudou a esvaziar os cofres públicos. Os problemas também ganharam mais força devido à falta de conexão que a população brasileira tinha com a situação. Ou seja, o Brasil não conseguia mobilizar recursos humanos para lutar pela manutenção da província sulista.

Lembrem-se que, após 1822, o país havia perdido boa parte do exército português que voltara à Europa, então tinha poucas opções naquela região, já que boa parte dos homens se concentravam perto da capital. A grande financiadora, tanto em armas quanto no fornecimento de mercenários, foi a Inglaterra. Sua interferência foi fundamental para mediar os acordos pós-guerra.

O Brasil perdeu a Cisplatina em 1828 depois de muito gasto e pouca preocupação dos políticos brasileiros com a situação, com exceção do Imperador. Sua posição perante o país ficava cada vez mais complicada, e falhar, neste caso, pioraria ainda mais a percepção pública. O país gastou milhões de libras, perdeu milhares de soldados e se mostrou extremamente despreparado em comparação ao comando de Buenos Aires. D. Pedro I, inclusive, resolveu visitar os campos de batalha em 1826 para atrair atenção à guerra e reverter a opinião popular, o que não aconteceu. Logo após sua chegada, recebeu o anúncio da morte da Imperatriz Leopoldina (1797-1826) e voltou à capital. O tratado de paz foi assinado dia 28 de agosto de 1828, sacramentando a crise econômica e política brasileira e, também, o surgimento do Uruguai como país.

Apesar da renúncia do Imperador, em 1831, não ter ocorrido por causa da Guerra Cisplatina, os problemas econômicos se alastraram por décadas, prejudicando as finanças do país e a estabilidade política. No caso da Confederação do Equador, a busca dos líderes regionais por autonomia e maior influência se manteve no período regencial e no Segundo Reinado.

 

Tanto a Confederação do Equador quanto a Guerra Cisplatina são demonstrações das insatisfações existentes no Primeiro Reinado. A Confederação teve participações já conhecidas da história brasileira por reivindicarem separações ou modificações políticas. Já o conflito na província Cisplatina também representa décadas de animosidades na região.

1. (Uece 2015) Dentre as afirmações a seguir, assinale aquela que está INCORRETA no que diz respeito à Confederação do Equador (1824). 

a) A Confederação do Equador estava afinada com os ideais de federação que serviram de base para a implantação da República dos Estados Unidos da América.    

b) A revolta começou com a exigência de que o Presidente da Província de Pernambuco, indicado por D. Pedro I, renunciasse ao cargo em favor do liberal Manuel de Carvalho Pais de Andrade.    

c) A Confederação do Equador uniu Pernambuco e as Províncias da Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte.    

d) Cedendo às forças de repressão comandadas pelo Brigadeiro Francisco Lima e Silva, após cinco meses de resistência, os rebeldes se entregaram, sendo, por este motivo, anistiados.    

2. (Unesp 2013) O Brasil assistiu, nos últimos meses de 1822 e na primeira metade de 1823,

a) ao reconhecimento da Independência brasileira pelos Estados Unidos, pela Inglaterra e por Portugal.   

b) ao esforço do imperador para impor seu poder às províncias que não haviam aderido à Independência.   

c) à libertação da Província Cisplatina, que se tornou independente e recebeu o nome de Uruguai.   

d) à pacífica unificação de todas as partes do território nacional, sob a liderança do governo central, no Rio de Janeiro.   

e) à confirmação, pelas Cortes portuguesas e pela Assembleia Constituinte, do poder constitucional do imperador.   

Gabarito: 

Questão 1 - [D] – Vejam as consequências da Confederação do Equador, sobretudo a falta de anistia aos revoltosos e as penas de morte.

Questão 2 - [B] – Se atentem aos conflitos ocorridos pós-independência, o que revisa a ideia de que o processo de independência brasileiro tenha sido pacífico em relação aos países da América Espanhola.  

 

Confederação do Equador – 1824

- Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba

- Não aceitavam a situação política pós-independência

- Líderes – Cipriano Barata, Frei Caneca, irmãos Andrade

- Republicanos e abolicionistas

- Repressão violenta

Guerra Cisplatina – 1825-1828

- Brasil e Argentina

- Posse da província Cisplatina – atual Uruguai

- Região muito instável há tempos

- Derrota brasileira