Resumo de sociologia: Histórico da Sociologia brasileira



Contexto

A Sociologia, enquanto ciência, surgiu na Europa no século XIX a partir dos estudos sobre os conflitos entre as classes sociais e teve como principais teóricos Augusto Comte, Émile Durkheim e Marx Weber. No entanto, no Brasil surgiu somente no século XX com forte influência das teorias marxistas, na medida que suas principais preocupações passaram a ser o subdesenvolvimento dos países latinos. Os anos de 1920 e 1930 foram férteis para a produção literária sociológica brasileira, pois diversos estudiosos buscaram compreender a formação da sociedade brasileira, através da análise de temas como Êxodo, abolição da escravatura e estudos sobre negros e índios. Entre os principais expoentes podemos citar: Gilberto Freyre (Casa Grande e Senzala — 1933), Sérgio Buarque de Holanda (Raízes do Brasil — 1936), Caio Prado Junior (Formação do Brasil Contemporâneo – 1942) e posteriormente Darcy Ribeiro (O Povo Brasileiro — 1995) e Florestan Fernandes. Nas décadas subsequentes a sociologia brasileira retornou aos estudos acerca das classes de trabalhadores, abordando temas como salários e jornadas de trabalho, bem como aos problemas envolvendo industrialização, reforma agrária, problemas socioeconômicos e políticos. Nas últimas décadas do século XX, além de abordar temas relacionados à economia, política e mudanças sociais, a sociologia brasileira expandiu seus leques de estudo abordando assuntos relacionados à mulher, trabalho rural, entre outros assuntos proeminentes.

 

Gilberto Freyre

Gilberto Freyre foi um dos mais proeminentes sociólogos brasileiros do século XX, tendo se dedicado totalmente à análise das relações sociais no período colonial brasileiro e a maneira como essas relações colaboraram para a constituição do povo brasileiro no século XX. Influenciado pelo antropólogo alemão Franz Boas, considerado fundador da antropologia moderna, Freire escreveu sua obra mais ilustre, Casa-Grande Senzala, de extrema importância para contestar as suposições racistas presentes nas obras de Nina Rodrigues e Oliveira Vianna, teóricos brasileiros dos séculos XIX-XX. Entre suas maiores contribuições está a afirmação de que a miscigenação brasileira, prerrogativa do encontro entre europeus, africanos, índios e em menor destaque holandeses e franceses, formaria uma sociedade mais forte e rica, tanto em aspectos culturais quanto sociais. Antagonicamente ao posicionamento tomado pelas teorias higienistas e eugenistas dos antropólogos e intelectuais europeus do século XIX e XX, que defendiam a supremacia da raça hegemônica europeia como padrão superior de civilização, a qual as demais culturas deveriam alcançar. Embora tenha sido um dos maiores nomes da sociologia brasileira, Freyre não escapou às críticas, sobretudo, pela forma idealizada que concebeu o colonizador português, privilegiando uma visão na qual é visto de maneira positiva. Outra forte crítica a Freyre tem fundamento no mito da “democracia racial”, segundo a qual haveria uma igualdade nas relações entre negros e brancos do Brasil.

 

Sérgio Buarque de Holanda

Natural de São Paulo, Sérgio Buarque de Holanda foi historiador, crítico literário e jornalista reconhecido e requisitado em várias universidades brasileiras e europeias. Publicou, em 1936, Raízes do Brasil, clássico da historiografia brasileira e uma obra elementar nos estudos sobre a sociologia brasileira. No livro faz uma análise acerca da história do Brasil destacando os principais problemas e mazelas da vida social e política, além de apresentar argumentos críticos sobre a visão de constituição do povo brasileiro, propostas por sociólogos do século XIX, a fim de desmistificar teorias racistas sobre sua formação. Em sua obra, Raízes do Brasil, Holanda desenvolveu o conceito de “homem cordial” usado por ele como modelo de análise do povo brasileiro em suas relações sociais e políticas. Segundo o autor, o homem cordial seria aquele que prefere privilegiar os seus interesses privados em detrimento com os interesses públicos, em uma clara aversão às instituições públicas, é sinônimo e origem do povo brasileiro estruturalmente corrupto. No entanto, ao longo do tempo o conceito caiu no senso comum e passou a representar na visão popular o homem efetivo, harmonioso, sempre receptivo e contrário a violência, em vez de ser compreendido no seu sentido crítico.

 

Florestan Fernandes

Brasileiro natural de São Paulo, Florestan Fernandes (1920-1995) foi um importante sociólogo, antropólogo, escritor e político brasileiro. Estudou Sociologia na Universidade de São Paulo até a publicação do AI-5, período da ditadura militar, quando foi preso, pela segunda vez durante o regime, e exilado. Na sua carreira intelectual dedicou-se inicialmente ao estudo etnológico dos índios Tupinambás, aplicando-se posteriormente a estudar as marcas da escravidão, racismo e as dificuldades de inserção da população pobre, sobretudo negra, na sociedade brasileira, dominada majoritariamente por brancos. Seus estudos acerca das relações étnico-raciais no Brasil se tornaram referência das análises sociológicas da formação e constituição do povo brasileiro. Segundo Florestan Fernandes, um dos problemas que dificultou melhorias nas condições de existência dos estratos pobres e marginalizados, oprimidas pelo sistema capitalista, foi a tardia industrialização e inserção no sistema capitalista o que provocou maior dependência do país em relação aos países centrais do capitalismo, afetando, sobretudos, a população pobre. Por essa razão dependência e subdesenvolvimento são princípios elementares para compreensão da sociologia de Florestan Fernandes. Algumas de suas obras são: Brancos e Negros (1955), Mudanças Sociais no Brasil (1960) e Sociedade de Classe e Subdesenvolvimento, nas quais temas como desigualdades social, educação e democracia são recorrentes. Florestan Fernandes faleceu em agosto de 1995, aos 75 anos.

 

Darcy Ribeiro

Mineirinho de Monte Carlos, Minas Gerais, Darcy Ribeiro nasceu em 1922, e estudou na primeira, e única de sua época, faculdade de Ciências Sociais no Brasil, a Escola de Sociologia e Política de São Paulo, associada à USP (Universidade de São Paulo). Estudou sociologia e antropologia, atuando como professor, escritor e político no governo de João Goulart, no qual ficou responsável inicialmente pelo Ministério da Casa Civil e posteriormente Ministério da Educação. Nesse período, participou ativamente das reuniões para criação da primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação, de 1961. No entanto, o golpe militar de 1964 resultou na prisão e exílio de muitos intelectuais e artistas brasileiros, entre eles Darcy Ribeiro e sua esposa Berta Gleizer, antropóloga e etnóloga, retornando ao país somente em 1976. Como pesquisador fez grandes contribuições tanto no campo da antropologia quanto da sociologia, principalmente, por estudos da cultura indígena, prestando, inclusive, trabalho para o Serviço de Proteção ao Índio, e formação do povo brasileiro. O Povo Brasileiro, publicado em 1955, foi, possivelmente, sua obra mais completa sobre a composição antropológica do povo brasileiro. Na obra, Darcy Ribeiro faz uma análise das diferentes culturas presentes no território brasileiro – indígena, africana e europeu  – destacando suas peculiaridades, e conclui apontando que apesar da diversidade cultural existente no país, existe uma cultura brasileira que tem como principal aspecto a diversidade. Darcy Ribeiro faleceu em fevereiro de 1997, na cidade de Brasília, em decorrência de complicações de um câncer descoberto em 1995.