Resumo de sociologia: Zygmunt Bauman e os Tempos Líquidos



Zygmunt Bauman e os Tempos Líquidos

Figura 1 - Zygmunt Bauman - 2013 - Forumlitfest [<a href="https://creativecommons.org/licenses/by/3.0">CC BY 3.0</a>], <a href="https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Zigmunt_Bauman_na_20_Forumi_vydavciv(Cropped).jpg">via Wikimedia Commons</a>

Zygmunt Bauman (1925-2017) foi um sociólogo nascido na Polônia que se tornou um dos mais importantes pensadores do século XX e XXI. Ele analisou as transformações sociais ocorridas no século XX e XXI e cunhou o termo de modernidade líquida. Seu argumento foi construído a partir da leitura de grandes intelectuais como Sigmund Freud (1856-1939), Jean Paul Sartre (1905-1980) e Jean Baudrillard (1929-2007). Vamos analisar o autor polonês, seu conceito de liquidez assim como pontuar o contexto em que foi criada.

Bauman nasceu no início do século XX e presenciou o desenrolar da sociedade europeia durante e depois das Grandes Guerras. Lutou contra o fascismo e o nazismo, além de ter sido militante comunista por muitos anos. Se afastou da URSS conforme o autoritarismo do regime se expandia e se tornou um crítico aberto do sistema de governo. Formou-se sociólogo em Varsóvia, na Polônia e seguiu carreira na Universidade. Seu marxismo se modificou junto do ponto de vista político e trabalhou boa parte da sua vida com conceitos criados por Marx, mas partindo da premissa cultural. Apesar da postura crítica ao governo soviético, acreditava na importância do socialismo em um mundo marcado pela desigualdade social de base econômica.

Ele enxergava uma ruptura a partir da Revolução Industrial em 1760, quando a estrutura social foi profundamente modificada. Lembrem-se que a Modernidade, que vai de 1453 a 1789, passou por várias fases e ciclos, sendo que no século XVIII as estruturas que alicerçaram a Idade Moderna começaram a ruir. Porém, a forma de pensar dessa época perdurou por mais tempo do que a delimitação cronológica.

O Iluminismo foi a base intelectual da Revolução Francesa e de outros movimentos de ruptura do mundo. Contudo, o seu papel foi mais profundo porque ajudou a condicionar uma nova forma de compreender o mundo e a vivência. A sociedade estamental com seus estados bem definidos e a rigidez das funções individuais dentro da comunidade não tinham mais espaço de ação depois daquele momento. O valor da sociedade industrial e iluminista é diferente da absolutista e isso é irreversível. Ao cunhar o conceito de modernidade líquida define que a sociedade se molda e transforma, ela não tem uma forma definida na modernidade, contudo, há diferentes níveis dessa fluidez.

No início da Idade Moderna, a solidez era maior, pois a organização social, política e cultural era mais estável e de difícil mobilidade. É uma estrutura burocrática que tinha caminhos pré-determinados para solucionar os eventuais problemas que também poderiam ser previsíveis. O Estado era o centro de controle de tudo, da economia à sociedade. Com o advento do Iluminismo e das revoluções, as mudanças foram iniciadas.

Apesar disso, as transformações são paulatinas, até porque as desigualdades sociais não acabam e sim são substituídas. O Estado passa a ser ressignificado e não destituído, assim como a burocracia assume novas cores, mas mantendo sua função racional de ordenar a sociedade. Até o século XIX, essas estruturas se mostravam claras e, para o autor, a questão do indivíduo e sua busca pela liberdade ganhava força, apesar das delimitações sociais e culturais.

Essa digressão histórica explica o advento da pós-modernidade. Vale destacar que Bauman trabalhou com esse conceito durante muito tempo, que definia a sociedade do século XX pós-guerra, que havia sido criado por outros autores. Sua análise ocorre ao analisar a obra O Mal-estar na civilização (1930) de Sigmund Freud, que discute a cultura e a sociedade da sua época. O sociólogo decidiu, portanto, escrever sobre a dualidade entre civilização e individualização. Porém, as definições e argumentos em relação ao conceito de pós-modernidade se tornaram insatisfatórias. Foi daí que desenvolveu seu conceito próprio – Modernidade Líquida – e a ideia de liquidez e publicou uma série de livros nos anos 2000 sobre o “mundo líquido”. Suas ideias ficaram populares para além do ambiente acadêmico e são utilizadas para entender essa sociedade do século XXI pós-internet.

Para a sociedade entrar na modernidade líquida, ela passou por crises importantes durante o século XX, tanto política, econômica, social e moral. O primeiro ponto foi a falência das estruturas sólidas vividas até o século XIX. A Primeira Guerra Mundial quebrou com as alianças políticas europeias como eram realizadas até então. A situação mudou ainda mais com a Segunda Guerra Mundial e as suas consequências.

Na década de 1980 e 1990, ideias estáveis como fronteiras, nacionalismos, passam a se tornar mais fluidos, assim como a função do estado, que é dominada pelos interesses do mercado. É o momento da queda da URSS, do crescimento do neoliberalismo e do surgimento da internet. Dessa forma, a sociedade é individualizada e categorizada através do consumo.

Bauman destacava que o mundo líquido estreitou os laços efêmeros por meio da internet, mas afrouxou o contato humano. Essa nova modernidade é individualista, desacreditada da razão e manipula os conceitos de acordo com a sua vontade, parte uma sociedade que prefere se descolar da realidade do que vivê-la. São características da instabilidade social vivida hoje em dia que também tem sua origem no capitalismo. Este, para se manter, precisa de ciclos de crise e da desigualdade para se manter.

A internet acentuou essas características e as adicionou o imediatismo das relações de simulacro. Não se acredita mais nos dados, na razão e na verdade, pois a generalização do saber, aquele conhecimento geral utilizado como base explicativa, não é valorizado. Busca-se, a partir desse momento, a especialização. Além disso, a velocidade mais acelerada do tempo, que ocorre desde a industrialização, ganhou novos contornos com a internet, e ajuda no desenvolvimento da ansiedade de aproveitar o agora. Contudo, sempre conectado. Por exemplo, o indivíduo só se satisfaz com sua viagem se a expor ao mundo.

A transformação constante do mundo é uma categorização do mundo líquido. O efêmero atemoriza a sociedade, que vive permeada pelo medo subjetivo alimentado pela falta de segurança. A ciência fica desacreditada pelo sentimento geral de dar vazão ao seu individualismo e modo de pensar. O sujeito, ao invés de se conectar com o diferente, escolhe especificar sua maneira de ver o mundo. Cria verdades baseadas no próprio olhar e se fecha. Zygmunt Bauman fez uma interpretação do passado para explicar os processos pelos quais a sociedade passou até chegar à situação do presente.

Bauman é o pensador contemporâneo mais citado pelos alunos e professores no geral, porque ele construiu um argumento de fácil compreensão e que fala diretamente com a nossa sociedade. Portanto, é importante saber sobre o conceito de modernidade líquida e se preparar para interpretações de texto também.

1. (Enem 2018) TEXTO I

As fronteiras, ao mesmo tempo que se separam, unem e articulam, por elas passando discursos de legitimação da ordem social tanto quanto do conflito.

CUNHA, L. Terras lusitanas e gentes dos brasis: a nação e o seu retrato literário. Revista Ciências Sociais, n. 2, 2009.

TEXTO II

As últimas barreiras ao livre movimento do dinheiro e das mercadorias e informação que rendem dinheiro andam de mãos dadas com a pressão para cavar novos fossos e erigir novas muralhas que barrem o movimento daqueles que em consequência perdem, física ou espiritualmente, suas raízes.

BAUMAN, Z. Globalização: as consequências humanas. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.

A ressignificação contemporânea da ideia de fronteira compreende e

a) liberação da circulação de pessoas.   

b) preponderância dos limites naturais.   

c) supressão dos obstáculos aduaneiros.    

d) desvalorização da noção de nacionalismo.    

e) seletividade dos mecanismos segregadores.   

2. (Uel 2017) TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Analise a charge a seguir e responda à(s) questão(ões).

Leia o texto a seguir.

A prudência sugere que, para qualquer pessoa que deseja agarrar uma chave sem perder tempo, nenhuma velocidade é alta demais; qualquer hesitação é desaconselhada, já que a pena é pesada.

BAUMAN, Z. Vida para Consumo: a transformação das pessoas em mercadorias. Trad. Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008, p. 50.

Com base na charge e na sociedade agorista, considere as afirmativas a seguir.

I. Na sociedade agorista, o volume de informação disponível é superior ao que seria consumido por uma pessoa culta do século XIII ao longo da vida, o que gera a necessidade de proteção contra as informações indesejadas.

II. Os sentimentos de felicidade ou a sua ausência derivam de esperanças e expectativas, assim como de hábitos aprendidos, e tudo isso tende a diferir de um ambiente social para outro.

III. A modernização tecnológica, materializada em equipamentos, facilitou o acesso a produtos e transformou as ações eventuais em hábitos diários e comuns.

IV. O consumo é uma condição estimulada pelo convívio humano e o consumismo, um aspecto permanente e irremovível, sem limites temporais ou históricos, natural e praticado por todos.

Assinale a alternativa correta.

a) Somente as afirmativas I e II são corretas.   

b) Somente as afirmativas I e IV são corretas.   

c) Somente as afirmativas III e IV são corretas.   

d) Somente as afirmativas I, II e III são corretas.    

e) Somente as afirmativas II, III e IV são corretas.   

Gabarito: 

Questão 1 - [E] – nesta questão você precisa mobilizar seus conhecimentos em História e Geografia, pois trabalha a ideia de fronteira. O ponto é entender que pode ser algo físico, material e subjetivo também, porque separa um povo ao mesmo tempo que pode limitar identidades, por exemplo.

Questão 2 - [D] – A incorreta é a afirmativa IV, pois o consumismo é algo recente na história e um advento característico do capitalismo que evoluiu também.

Zygmunt Bauman (1925-2017) – “Modernidade líquida”

Revolução Industrial e Iluminismo

Contraposição à “Modernidade sólida” – burocrática e previsível

“Pós-modernidade” – depois da análise do texto de Sigmund Freud

Civilização X individualização

Modernidade Líquida – substitui a pós-modernidade - “mundo líquido”.

Crises política, econômica, social e moral

Laços efêmeros

Fluidez

Internet