(EEAR - 2017)
MORTE E VIDA SEVERINA
– O meu nome é Severino,
como não tenho outro de pia.
Como há muitos Severinos,
que é santo de romaria,
deram então de me chamar
Severino de Maria;
Como há muitos Severinos
com mães chamadas Maria,
fiquei sendo o da Maria
do finado Zacarias.
[...]
Somos muitos Severinos
iguais em tudo na vida:
na mesma cabeça grande
que a custo é que se equilibra
no mesmo ventre crescido
sobre as mesmas pernas finas,
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte,
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
(João Cabral de Melo Neto, Morte e Vida Severina) – texto adaptado.
Assinale a alternativa incorreta sobre Morte e Vida Severina.
O poeta registra as características da vida severa: uma vida em que a morte preside.
É possível identificar características individuais de Severino, distinguindo-o como privilegiado entre os demais severinos.
Severino é o protagonista que, desde a sua apresentação, insiste no caráter comum de seu nome. De substantivo, Severino passa a ser usado como adjetivo.
A palavra Severina sugere uma ampliação de sentido que é confirmada nas palavras do protagonista que, ao tentar se apresentar, evidencia que sua situação particular se assemelha ao que ocorre com outros Severinos.