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VestibularEdição do vestibular
Disciplina

(FATEC)TEXTO PARA A PRXIMA QUESTO:Minha Nossa Senh

Português | Gramática | regência verbal | regência de alguns verbos
FATEC 1999FATEC PortuguêsTurma ENEM Kuadro

(FATEC) 

TEXTO PARA A PRÓXIMA QUESTÃO:

Minha Nossa Senhora! aquele homem tinha má sorte! Aquele homem enorme com tantos filhinhos pequenos e uma mulher paralítica na cama!... E no entanto eu era feliz! e com três estrelinhas-do-mar para me darem sorte... É certo: eu pusera imediatamente as estrelas no diminutivo, porque se houvesse de ceder alguma ao operário, já de antemão eu desvalorizava as três, todas as três, na esperança desesperada de dar apenas a menor. Não havia diferença mais, eram apenas três "estrelinhas"-do-mar. Fiquei desesperado. Mas a lei se riscara iniludível no meu espírito: e se eu desse boa sorte ao operário na pessoa da minha menor estrelinha pequetitinha?... Bem que podia dar a menor, era tão feia mesmo, faltava uma das pontas, mas sempre era uma estrelinha-do-mar. Depois: o operário não era bem vestido como papai, não carecia de uma boa sorte muito grande não. Meus passos tontos já me conduziam para o fundo do quintal fatalizadamente. (...) Lá estavam as três estrelinhas, brilhando no ar do sol, cheias de uma boa sorte imensa. E eu tinha que me desligar de uma delas, da menorzinha estragada, tão linda! Justamente a que eu gostava mais, todas valiam igual, porque a mulher do operário não tomava banhos de mar? Mas sempre, ah meu Deus que sofrimento! Eu bem não queria pensar mas pensava sem querer, deslumbrado, mas a boa mesmo era a grandona perfeita, que havia de dar mais boa sorte pra aquele malvado de operário que viera, cachorro! dizer que estava com má sorte. Agora eu tinha que dar pra ele a minha grande, a minha sublime estrelona-do-mar!... (...)

- Tome! eu soluçava gritado, tome a minha... tome a estrela-do-mar! dá... dá, sim, boa sorte!...

O operário olhou surpreso sem compreender. Eu soluçava, era um suplício medonho.

- Pegue depressa! faz favor! depressa! dá boa sorte mesmo!

Aí, que ele entendeu, pois não me aguentava mais! Me olhou, foi pegando na estrela, sorriu por trás dos bigodões portugas, um sorriso desacostumado, não falou nada felizmente que senão eu desatava a berrar. A mão calosa quis se ajeitar em concha pra me acarinhar, certo! ele nem media a extensão do meu sacrifício! e a mão calosa apenas roçou por meus cabelos cortados.

Eu corri. Eu corri pra chorar à larga, chorar na cama, abafando os soluços no travesseiro sozinho. Mas por dentro era impossível saber o que havia em mim, era uma luz, uma Nossa Senhora, um gosto maltratado, cheio de desilusões claríssimas, que eu sofria arrependido, vendo inutilizar-se no infinito dos sofrimentos humanos a minha estrela-do-mar.

(Mário de Andrade, Tempo da camisolinha.
In: Contos novos.)

 

Segundo os princípios da norma culta, a passagem do texto em que falta preposição é

A

aquele malvado de operário que viera, cachorro! dizer que estava com má sorte

B

Eu corri pra chorar (...), abafando os soluços no travesseiro sozinho

C

era impossível saber o que havia em mim

D

um gosto maltratado (...) que eu sofria arrependido

E

justamente a que eu gostava