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Questões de Português - ITA | Gabarito e resoluções

Questão
2008Português

(ITA - 2008 - 1 FASE) 1Com um pouco de exagero, costumo dizer que todo jogo de azar. Falo assim referindo-me ao futebol que, ao contrrio da roleta ou da loteria, implica ttica e estratgia, sem falar no principal, que o talento e a 3habilidade dos jogadores. Apesar disso, no consegue eliminar o azar, isto , o acaso. 4E j que falamos em acaso, vale lembrar que, em francs, acaso escreve-se hasard, como no 5clebre verso de Mallarm, que diz: um lance de dados jamais eliminar o acaso. Ele est, no fundo, referindo-se ao fazer do poema que, em que pese a mestria e lucidez do poeta, est ainda assim sujeito ao azar, ou seja, ao acaso. 8Se no poema assim, imagina numa partida de futebol, que envolve 22 jogadores se movendo num 9campo de amplas dimenses. Se verdade que eles jogam conforme esquemas de marcao e ataque, 10seguindo a orientao do tcnico, deve-se no entanto levar em conta que cada jogador tem sua percepo da 11jogada e decide deslocar-se nesta ou naquela direo, ou manter-se parado, certo de que a bola chegar a 12seus ps. Nada disso se pode prever, da resultando um alto ndice de probabilidades, ou seja, de ocorrncias 13imprevisveis e que, portanto, escapam ao controle. 14Tomemos, como exemplo, um lance que quase sempre implica perigo de gol: o tiro de canto. No 15toa que, quando se cria essa situao, os jogadores da defesa se afligem em anular as possibilidades que tm os adversrios de fazerem o gol. Sentem-se ao sabor do acaso, da imprevisibilidade. O time adversrio desloca para a rea do que sofre o tiro de canto seus jogadores mais altos e, por isso mesmo, treinados para cabecear para dentro do gol. Isto reduz o grau de imprevisibilidade por aumentar as possibilidades do time atacante de aproveitar em seu favor o tiro de canto e fazer o gol. Nessa mesma medida, crescem, para a 20defesa, as dificuldades de evitar o pior. Mas nada disso consegue eliminar o acaso, uma vez que o batedor do 21escanteio, por mais exmio que seja, no pode com preciso absoluta lanar a bola na cabea de determinado 22jogador. Alm do mais, a inquietao ali na rea grande, todos os jogadores se movimentam, uns tentando 23escapar marcao, outros procurando marc-los. Essa movimentao, multiplicada pelo nmero de 24jogadores que se movem, aumenta fantasticamente o grau de imprevisibilidade do que ocorrer quando a bola 25for lanada. A que altura chegar ali? Qual jogador estar, naquele instante, em posio propcia para 26cabece-la, seja para dentro do gol, seja para longe dele? No existe treinamento ttico, posio privilegiada, 27nada que torne previsvel o desfecho do tiro de canto. A bola pode cair ao alcance deste ou daquele jogador e, 28dependendo da sorte, ser gol ou no. 29No quero dizer com isso que o resultado das partidas de futebol seja apenas fruto do acaso, mas a 30verdade que, sem um pouco de sorte, neste campo, como em outros, no se vai muito longe; jogadores, 31tcnicos e torcedores sabem disso, tanto que todos querem se livrar do chamado p frio. Como no pretendo 32passar por supersticioso, evito aderir abertamente a essa tese, mas quando vejo, durante uma partida, meu 33time perder gols feitos, nasce-me o desagradvel temor de que aquele no um bom dia para ns e de que a derrota certa. 35Que eu, mero torcedor, pense assim, compreensvel, mas que dizer de tcnicos de futebol que vivem de tero na mo e medalhas de santos sob a camisa e que, em face de cada lance decisivo, as puxam para fora, as beijam e murmuram oraes? Isso para no falar nos que consultam pais-de-santo e pagam promessas a Iemanj. como se dissessem: treino os jogadores, trao o esquema de jogo, armo jogadas, 39mas, independentemente disso, existem foras imponderveis que s obedecem aos santos e pais-de-santo; 40so as foras do acaso. 41Mas no se pode descartar o fator psicolgico que, como se sabe, atua sobre os jogadores de qualquer 42esporte; tanto isso certo que, hoje, entre os preparadores das equipes h sempre um psiclogo. De fato, se 43o jogador no estiver psicologicamente preparado para vencer, no dar o melhor de si. 44Exemplifico essa crena na psicologia com a histria de um tcnico ingls que, num jogo decisivo da 45Copa da Europa, teve um de seus jogadores machucado. No era um craque, mas sua perda desfalcaria o time. O mdico da equipe, depois de atender o jogador, disse ao tcnico: Ele j voltou a si do desmaio, mas 47no sabe quem . E o tcnico: timo! Diga que ele o Pel e que volte para o campo imediatamente. (Ferreira Gullar. Jogos de azar. Em: Folha de S. Paulo, 24/06/2007.) ndices em canto superior esquerdo de palavras indicam nmero da linha no texto original. Segundo o texto, NO se pode afirmar que nos jogos de futebol

Questão
2008Português

(ITA - 2008 - 1 FASE) 1Com um pouco de exagero, costumo dizer que todo jogo de azar. Falo assim referindo-me ao futebol que, ao contrrio da roleta ou da loteria, implica ttica e estratgia, sem falar no principal, que o talento e a 3habilidade dos jogadores. Apesar disso, no consegue eliminar o azar, isto , o acaso. 4E j que falamos em acaso, vale lembrar que, em francs, acaso escreve-se hasard, como no 5clebre verso de Mallarm, que diz: um lance de dados jamais eliminar o acaso. Ele est, no fundo, referindo-se ao fazer do poema que, em que pese a mestria e lucidez do poeta, est ainda assim sujeito ao azar, ou seja, ao acaso. 8Se no poema assim, imagina numa partida de futebol, que envolve 22 jogadores se movendo num 9campo de amplas dimenses. Se verdade que eles jogam conforme esquemas de marcao e ataque, 10seguindo a orientao do tcnico, deve-se no entanto levar em conta que cada jogador tem sua percepo da 11jogada e decide deslocar-se nesta ou naquela direo, ou manter-se parado, certo de que a bola chegar a 12seus ps. Nada disso se pode prever, da resultando um alto ndice de probabilidades, ou seja, de ocorrncias 13imprevisveis e que, portanto, escapam ao controle. 14Tomemos, como exemplo, um lance que quase sempre implica perigo de gol: o tiro de canto. No 15toa que, quando se cria essa situao, os jogadores da defesa se afligem em anular as possibilidades que tm os adversrios de fazerem o gol. Sentem-se ao sabor do acaso, da imprevisibilidade. O time adversrio desloca para a rea do que sofre o tiro de canto seus jogadores mais altos e, por isso mesmo, treinados para cabecear para dentro do gol. Isto reduz o grau de imprevisibilidade por aumentar as possibilidades do time atacante de aproveitar em seu favor o tiro de canto e fazer o gol. Nessa mesma medida, crescem, para a 20defesa, as dificuldades de evitar o pior. Mas nada disso consegue eliminar o acaso, uma vez que o batedor do 21escanteio, por mais exmio que seja, no pode com preciso absoluta lanar a bola na cabea de determinado 22jogador. Alm do mais, a inquietao ali na rea grande, todos os jogadores se movimentam, uns tentando 23escapar marcao, outros procurando marc-los. Essa movimentao, multiplicada pelo nmero de 24jogadores que se movem, aumenta fantasticamente o grau de imprevisibilidade do que ocorrer quando a bola 25for lanada. A que altura chegar ali? Qual jogador estar, naquele instante, em posio propcia para 26cabece-la, seja para dentro do gol, seja para longe dele? No existe treinamento ttico, posio privilegiada, 27nada que torne previsvel o desfecho do tiro de canto. A bola pode cair ao alcance deste ou daquele jogador e, 28dependendo da sorte, ser gol ou no. 29No quero dizer com isso que o resultado das partidas de futebol seja apenas fruto do acaso, mas a 30verdade que, sem um pouco de sorte, neste campo, como em outros, no se vai muito longe; jogadores, 31tcnicos e torcedores sabem disso, tanto que todos querem se livrar do chamado p frio. Como no pretendo 32passar por supersticioso, evito aderir abertamente a essa tese, mas quando vejo, durante uma partida, meu 33time perder gols feitos, nasce-me o desagradvel temor de que aquele no um bom dia para ns e de que a derrota certa. 35Que eu, mero torcedor, pense assim, compreensvel, mas que dizer de tcnicos de futebol que vivem de tero na mo e medalhas de santos sob a camisa e que, em face de cada lance decisivo, as puxam para fora, as beijam e murmuram oraes? Isso para no falar nos que consultam pais-de-santo e pagam promessas a Iemanj. como se dissessem: treino os jogadores, trao o esquema de jogo, armo jogadas, 39mas, independentemente disso, existem foras imponderveis que s obedecem aos santos e pais-de-santo; 40so as foras do acaso. 41Mas no se pode descartar o fator psicolgico que, como se sabe, atua sobre os jogadores de qualquer 42esporte; tanto isso certo que, hoje, entre os preparadores das equipes h sempre um psiclogo. De fato, se 43o jogador no estiver psicologicamente preparado para vencer, no dar o melhor de si. 44Exemplifico essa crena na psicologia com a histria de um tcnico ingls que, num jogo decisivo da 45Copa da Europa, teve um de seus jogadores machucado. No era um craque, mas sua perda desfalcaria o time. O mdico da equipe, depois de atender o jogador, disse ao tcnico: Ele j voltou a si do desmaio, mas 47no sabe quem . E o tcnico: timo! Diga que ele o Pel e que volte para o campo imediatamente. (Ferreira Gullar. Jogos de azar. Em: Folha de S. Paulo, 24/06/2007.) ndices em canto superior esquerdo de palavras indicam nmero da linha no texto original. Observe o emprego da partcula se, em destaque, nos excertos abaixo: I. Se no poema assim, imagina numa partida de futebol, que envolve 22 jogadores se movendo num campo de amplas dimenses. (linhas 8 e 9) II. Se verdade que eles jogam conforme esquemas de marcao e ataque, seguindo a orientao do tcnico, deve-se no entanto levar em conta que cada jogador tem sua percepo da jogada e decide deslocar-se nesta ou naquela direo, ou manter-se parado, certo de que a bola chegar a seus ps. (linhas 9 a 12) III. De fato, se o jogador no estiver psicologicamente preparado para vencer, no dar o melhor de si. (linhas 42 e 43) A partcula se estabelece uma relao de implicao em

Questão 21
2007Português

(ITA - 2007- 1 FASE) TEXTO 1 O ritual brasileiro do trote 1Estamos na poca dos trotes em calouros de universidade, um ritual coletivo to brasileirinho quanto o Carnaval e a carnavalizao da Justia nas CPIs. O trote medieval como a universidade e quase deixou de existir em lugar civilizado. No Brasil, um meio de reafirmar, na passagem para a vida adulta, que o jovem estudante pertence mesmo a uma sociedade 5autoritria, violenta e de privilgio. Submisso e humilhao so a essncia do rito, mas expressivas mesmo so suas formas: o calouro muita vez obrigado a assumir o papel de pobre brasileiro. A humilhao tambm faz parte da iniciao universitria americana, embora nesse caso o rito marque a entrada na irmandade, sinal de exclusivismo e vivncia de segredos de uma elite que se ressente da falta de aristocracia e de mistrios em sua sociedade ideologicamente 10igualitria e laica. De incio, como em muito ritual, o jovem descaracterizado e marcado fisicamente. sujo de tinta, de lama, at de porcarias excrementcias; raspam sua cabea. Ao mesmo tempo que apaga simbolicamente sua identidade, a pichao do calouro lhe confere a marca do privilegiado universitrio (so poucos e tm cadeia especial!). Pais e estudantes se orgulham da marca suja e da violncia. 15Na mmica da humilhao dos servos, o jovem colocado em fila, amarrado ou de mos dadas, e conduzido pelas ruas, como se fazia com escravos, como a polcia faz com favelados. jogado em fontes imundas, como garotos de rua. Deve esmolar para seu veterano-cafeto. Na aula-trote, o veterano vinga-se do professor autoritrio ao encenar sua raiva e descarreg-la no calouro, com o que a estupidez se reproduz. Como universidade at outro dia era privilgio oligrquico, o trote nasceu na oligarquia, imitada pelos 20arrivistas. Da oligarquia veio ainda o ritual universitrio do assalto a restaurantes (pindura), rito de iniciao pelo qual certa elite indica que se exclui da ordem legal dos comuns. De vez em quando, ferem, aleijam ou matam um garoto na cretinice do trote. Ningum punido. Os oligarcas velhos relevam: acidente. No, no: tudo de propsito. (Vinicius Torres Freire. In: Folha de S. Paulo, 13/02/2006.) Arrivista. Pessoa inescrupulosa, que quer vencer na vida a todo custo. (Dicionrio Aurlio Eletrnico. Verso 2.0.) TEXTO 2 Vagabundagem universitria comea no trote 1Todo comeo de ano a mesma cena: calouros de universidades, as cabeas raspadas e as caras pintadas, incitados ou obrigados por veteranos, ocupam os sinais de trnsito pedindo dinheiro aos motoristas. uma das formas do chamado trote, o mais artificial dos ritos de iniciao da mais artificial das instituies contemporneas a universidade. 5O trote nada mais do que o retrato da alienao em que vivem esses adolescentes das classes favorecidas. Com tempo de sobra, eles no tm em que empregar tanta liberdade. Ou querem dizer que essas simples caras pintadas tm qualquer simbologia semelhante das mscaras de dana das tribos primitivas estudadas por Lvi-Strauss? Para aquelas tribos ndias, as mscaras eram o atestado da onipresena do sobrenatural e da pujana dos 10mitos. Mas esses adolescentes urbanos no tm tanta complexidade. Movido a MTV e shopping centers, o esprito deles vive nas trevas. A ausncia de conhecimento e saber limita-lhes os desejos e as atitudes. Em tempos mais admirveis, ou em sociedades mais ideais, essa massa de vagabundos estaria ajudando a cortar cana nos campos, envolvidos com a reforma agrria, em programas de assistncia social nas favelas ou com crianas de rua, ou mesmo explorando os sertes e florestas do pas, como faziam os estudantes do extinto 15projeto Rondon. Hoje, mais do que nunca, h uma tendncia caracterstica da mentalidade das elites da economia capitalista de adulao da adolescncia, de excessivo prolongamento da mesma e da excessiva indulgncia para com esse perodo tido como de intensos processos conflituosos e persistentes esforos de auto-afirmao. Desde adolescente, sempre olhei com desprezo esse tratamento que se pretende dar adolescncia (ou 20pelo menos a certa camada social adolescente): um cuidado especial, semelhante ao que se d s mulheres grvidas. Pois exatamente esse pisar em ovos da sociedade que acaba por transformar a adolescncia num grande vazio, numa gravidez do nada, numa angustiante fase de absoro dos valores sociais e de integrao social. Se os adolescentes se ocupassem mais, sofreriam menos ou pelo menos amadureceriam de verdade, 25solidrios, ocupados com o sofrimento real dos outros. Mas no, ficam vagabundando pelos semforos das cidades, catando moedas para festas e outras leviandades. E o que pior, sentindo-se deuses por terem conseguido decorar um punhado de frmulas e datas e resumos de livros que os fizeram passar no teste para entrar na universidade. A mim que trabalhava e estudava ao mesmo tempo desde os 15 anos causava alarme o esprito de 30vagabundagem que, cultuado na adolescncia, vi prolongar-se na realidade alienada de uma universidade pblica. Na Universidade de So Paulo, onde estudei, os filhos dos ricos ainda passam anos na hibernao adolescente sustentada pelo dinheiro pblico. (Marilene Felinto. In: Folha de S. Paulo, 25/02/1997.) O ritual humilhante do trote considerado pelo autor do Texto 1 como

Questão 22
2007Português

(ITA - 2007 - 1 FASE) TEXTO 1 O ritual brasileiro do trote 1Estamos na poca dos trotes em calouros de universidade, um ritual coletivo to brasileirinho quanto o Carnaval e a carnavalizao da Justia nas CPIs. O trote medieval como a universidade e quase deixou de existir em lugar civilizado. No Brasil, um meio de reafirmar, na passagem para a vida adulta, que o jovem estudante pertence mesmo a uma sociedade 5autoritria, violenta e de privilgio. Submisso e humilhao so a essncia do rito, mas expressivas mesmo so suas formas: o calouro muita vez obrigado a assumir o papel de pobre brasileiro. A humilhao tambm faz parte da iniciao universitria americana, embora nesse caso o rito marque a entrada na irmandade, sinal de exclusivismo e vivncia de segredos de uma elite que se ressente da falta de aristocracia e de mistrios em sua sociedade ideologicamente 10igualitria e laica. De incio, como em muito ritual, o jovem descaracterizado e marcado fisicamente. sujo de tinta, de lama, at de porcarias excrementcias; raspam sua cabea. Ao mesmo tempo que apaga simbolicamente sua identidade, a pichao do calouro lhe confere a marca do privilegiado universitrio (so poucos e tm cadeia especial!). Pais e estudantes se orgulham da marca suja e da violncia. 15Na mmica da humilhao dos servos, o jovem colocado em fila, amarrado ou de mos dadas, e conduzido pelas ruas, como se fazia com escravos, como a polcia faz com favelados. jogado em fontes imundas, como garotos de rua. Deve esmolar para seu veterano-cafeto. Na aula-trote, o veterano vinga-se do professor autoritrio ao encenar sua raiva e descarreg-la no calouro, com o que a estupidez se reproduz. Como universidade at outro dia era privilgio oligrquico, o trote nasceu na oligarquia, imitada pelos 20arrivistas. Da oligarquia veio ainda o ritual universitrio do assalto a restaurantes (pindura), rito de iniciao pelo qual certa elite indica que se exclui da ordem legal dos comuns. De vez em quando, ferem, aleijam ou matam um garoto na cretinice do trote. Ningum punido. Os oligarcas velhos relevam: acidente. No, no: tudo de propsito. (Vinicius Torres Freire. In: Folha de S. Paulo, 13/02/2006.) Arrivista. Pessoa inescrupulosa, que quer vencer na vida a todo custo. (Dicionrio Aurlio Eletrnico. Verso 2.0.) TEXTO 2 Vagabundagem universitria comea no trote 1Todo comeo de ano a mesma cena: calouros de universidades, as cabeas raspadas e as caras pintadas, incitados ou obrigados por veteranos, ocupam os sinais de trnsito pedindo dinheiro aos motoristas. uma das formas do chamado trote, o mais artificial dos ritos de iniciao da mais artificial das instituies contemporneas a universidade. 5O trote nada mais do que o retrato da alienao em que vivem esses adolescentes das classes favorecidas. Com tempo de sobra, eles no tm em que empregar tanta liberdade. Ou querem dizer que essas simples caras pintadas tm qualquer simbologia semelhante das mscaras de dana das tribos primitivas estudadas por Lvi-Strauss? Para aquelas tribos ndias, as mscaras eram o atestado da onipresena do sobrenatural e da pujana dos 10mitos. Mas esses adolescentes urbanos no tm tanta complexidade. Movido a MTV e shopping centers, o esprito deles vive nas trevas. A ausncia de conhecimento e saber limita-lhes os desejos e as atitudes. Em tempos mais admirveis, ou em sociedades mais ideais, essa massa de vagabundos estaria ajudando a cortar cana nos campos, envolvidos com a reforma agrria, em programas de assistncia social nas favelas ou com crianas de rua, ou mesmo explorando os sertes e florestas do pas, como faziam os estudantes do extinto 15projeto Rondon. Hoje, mais do que nunca, h uma tendncia caracterstica da mentalidade das elites da economia capitalista de adulao da adolescncia, de excessivo prolongamento da mesma e da excessiva indulgncia para com esse perodo tido como de intensos processos conflituosos e persistentes esforos de auto-afirmao. Desde adolescente, sempre olhei com desprezo esse tratamento que se pretende dar adolescncia (ou 20pelo menos a certa camada social adolescente): um cuidado especial, semelhante ao que se d s mulheres grvidas. Pois exatamente esse pisar em ovos da sociedade que acaba por transformar a adolescncia num grande vazio, numa gravidez do nada, numa angustiante fase de absoro dos valores sociais e de integrao social. Se os adolescentes se ocupassem mais, sofreriam menos ou pelo menos amadureceriam de verdade, 25solidrios, ocupados com o sofrimento real dos outros. Mas no, ficam vagabundando pelos semforos das cidades, catando moedas para festas e outras leviandades. E o que pior, sentindo-se deuses por terem conseguido decorar um punhado de frmulas e datas e resumos de livros que os fizeram passar no teste para entrar na universidade. A mim que trabalhava e estudava ao mesmo tempo desde os 15 anos causava alarme o esprito de 30vagabundagem que, cultuado na adolescncia, vi prolongar-se na realidade alienada de uma universidade pblica. Na Universidade de So Paulo, onde estudei, os filhos dos ricos ainda passam anos na hibernao adolescente sustentada pelo dinheiro pblico. (Marilene Felinto. In: Folha de S. Paulo, 25/02/1997.) Na viso dos oligarcas (Texto 1, linhas 19 a 21), o objetivo da pindura

Questão 23
2007Português

(ITA - 2007 - 1 FASE) TEXTO 1 O ritual brasileiro do trote 1Estamos na poca dos trotes em calouros de universidade, um ritual coletivo to brasileirinho quanto o Carnaval e a carnavalizao da Justia nas CPIs. O trote medieval como a universidade e quase deixou de existir em lugar civilizado. No Brasil, um meio de reafirmar, na passagem para a vida adulta, que o jovem estudante pertence mesmo a uma sociedade5autoritria, violenta e de privilgio. Submisso e humilhao so a essncia do rito, mas expressivas mesmo so suas formas: o calouro muita vez obrigado a assumir o papel de pobre brasileiro. A humilhao tambm faz parte da iniciao universitria americana, embora nesse caso o rito marque a entrada na irmandade, sinal de exclusivismo e vivncia de segredos de uma elite que se ressente da falta de aristocracia e de mistrios em sua sociedade ideologicamente10igualitria e laica. De incio, como em muito ritual, o jovem descaracterizado e marcado fisicamente. sujo de tinta, de lama, at de porcarias excrementcias; raspam sua cabea. Ao mesmo tempo que apaga simbolicamente sua identidade, a pichao do calouro lhe confere a marca do privilegiado universitrio (so poucos e tm cadeia especial!). Pais e estudantes se orgulham da marca suja e da violncia. 15Na mmica da humilhao dos servos, o jovem colocado em fila, amarrado ou de mos dadas, e conduzido pelas ruas, como se fazia com escravos, como a polcia faz com favelados. jogado em fontes imundas, como garotos de rua. Deve esmolar para seu veterano-cafeto. Na aula-trote, o veterano vinga-se do professor autoritrio ao encenar sua raiva e descarreg-la no calouro, com o que a estupidez se reproduz. Como universidade at outro dia era privilgio oligrquico, o trote nasceu na oligarquia, imitada pelos20arrivistas. Da oligarquia veio ainda o ritual universitrio do assalto a restaurantes (pindura), rito de iniciao pelo qual certa elite indica que se exclui da ordem legal dos comuns. De vez em quando, ferem, aleijam ou matam um garoto na cretinice do trote. Ningum punido. Os oligarcas velhos relevam: acidente. No, no: tudo de propsito. (Vinicius Torres Freire. In: Folha de S. Paulo, 13/02/2006.) Arrivista. Pessoa inescrupulosa, que quer vencer na vida a todo custo. (Dicionrio Aurlio Eletrnico. Verso 2.0.) TEXTO 2 Vagabundagem universitria comea no trote 1Todo comeo de ano a mesma cena: calouros de universidades, as cabeas raspadas e as caras pintadas, incitados ou obrigados por veteranos, ocupam os sinais de trnsito pedindo dinheiro aos motoristas. uma das formas do chamado trote, o mais artificial dos ritos de iniciao da mais artificial das instituies contemporneas a universidade. 5O trote nada mais do que o retrato da alienao em que vivem esses adolescentes das classes favorecidas. Com tempo de sobra, eles no tm em que empregar tanta liberdade. Ou querem dizer que essas simples caras pintadas tm qualquer simbologia semelhante das mscaras de dana das tribos primitivas estudadas por Lvi-Strauss? Para aquelas tribos ndias, as mscaras eram o atestado da onipresena do sobrenatural e da pujana dos10mitos. Mas esses adolescentes urbanos no tm tanta complexidade. Movido a MTV e shopping centers, o esprito deles vive nas trevas. A ausncia de conhecimento e saber limita-lhes os desejos e as atitudes. Em tempos mais admirveis, ou em sociedades mais ideais, essa massa de vagabundos estaria ajudando a cortar cana nos campos, envolvidos com a reforma agrria, em programas de assistncia social nas favelas ou com crianas de rua, ou mesmo explorando os sertes e florestas do pas, como faziam os estudantes do extinto15projeto Rondon. Hoje, mais do que nunca, h uma tendncia caracterstica da mentalidade das elites da economia capitalista de adulao da adolescncia, de excessivo prolongamento da mesma e da excessiva indulgncia para com esse perodo tido como de intensos processos conflituosos e persistentes esforos de auto-afirmao. Desde adolescente, sempre olhei com desprezo esse tratamento que se pretende dar adolescncia (ou20pelo menos a certa camada social adolescente): um cuidado especial, semelhante ao que se d s mulheres grvidas. Pois exatamente esse pisar em ovos da sociedade que acaba por transformar a adolescncia num grande vazio, numa gravidez do nada, numa angustiante fase de absoro dos valores sociais e de integrao social. Se os adolescentes se ocupassem mais, sofreriam menos ou pelo menos amadureceriam de verdade,25solidrios, ocupados com o sofrimento real dos outros. Mas no, ficam vagabundando pelos semforos das cidades, catando moedas para festas e outras leviandades. E o que pior, sentindo-se deuses por terem conseguido decorar um punhado de frmulas e datas e resumos de livros que os fizeram passar no teste para entrar na universidade. A mim que trabalhava e estudava ao mesmo tempo desde os 15 anos causava alarme o esprito de30vagabundagem que, cultuado na adolescncia, vi prolongar-se na realidade alienada de uma universidade pblica. Na Universidade de So Paulo, onde estudei, os filhos dos ricos ainda passam anos na hibernao adolescente sustentada pelo dinheiro pblico. (Marilene Felinto. In: Folha de S. Paulo, 25/02/1997.) No Texto 1, linha 13, pode-se afirmar que o autor usa a expresso contida nos parnteses para

Questão 24
2007Português

(ITA - 2007 - 1 FASE) TEXTO 1 O ritual brasileiro do trote 1Estamos na poca dos trotes em calouros de universidade, um ritual coletivo to brasileirinho quanto o Carnaval e a carnavalizao da Justia nas CPIs. O trote medieval como a universidade e quase deixou de existir em lugar civilizado. No Brasil, um meio de reafirmar, na passagem para a vida adulta, que o jovem estudante pertence mesmo a uma sociedade 5autoritria, violenta e de privilgio. Submisso e humilhao so a essncia do rito, mas expressivas mesmo so suas formas: o calouro muita vez obrigado a assumir o papel de pobre brasileiro. A humilhao tambm faz parte da iniciao universitria americana, embora nesse caso o rito marque a entrada na irmandade, sinal de exclusivismo e vivncia de segredos de uma elite que se ressente da falta de aristocracia e de mistrios em sua sociedade ideologicamente 10igualitria e laica. De incio, como em muito ritual, o jovem descaracterizado e marcado fisicamente. sujo de tinta, de lama, at de porcarias excrementcias; raspam sua cabea. Ao mesmo tempo que apaga simbolicamente sua identidade, a pichao do calouro lhe confere a marca do privilegiado universitrio (so poucos e tm cadeia especial!). Pais e estudantes se orgulham da marca suja e da violncia. 15Na mmica da humilhao dos servos, o jovem colocado em fila, amarrado ou de mos dadas, e conduzido pelas ruas, como se fazia com escravos, como a polcia faz com favelados. jogado em fontes imundas, como garotos de rua. Deve esmolar para seu veterano-cafeto. Na aula-trote, o veterano vinga-se do professor autoritrio ao encenar sua raiva e descarreg-la no calouro, com o que a estupidez se reproduz. Como universidade at outro dia era privilgio oligrquico, o trote nasceu na oligarquia, imitada pelos 20arrivistas. Da oligarquia veio ainda o ritual universitrio do assalto a restaurantes (pindura), rito de iniciao pelo qual certa elite indica que se exclui da ordem legal dos comuns. De vez em quando, ferem, aleijam ou matam um garoto na cretinice do trote. Ningum punido. Os oligarcas velhos relevam: acidente. No, no: tudo de propsito. (Vinicius Torres Freire. In: Folha de S. Paulo, 13/02/2006.) Arrivista. Pessoa inescrupulosa, que quer vencer na vida a todo custo. (Dicionrio Aurlio Eletrnico. Verso 2.0.) TEXTO 2 Vagabundagem universitria comea no trote 1Todo comeo de ano a mesma cena: calouros de universidades, as cabeas raspadas e as caras pintadas, incitados ou obrigados por veteranos, ocupam os sinais de trnsito pedindo dinheiro aos motoristas. uma das formas do chamado trote, o mais artificial dos ritos de iniciao da mais artificial das instituies contemporneas a universidade. 5O trote nada mais do que o retrato da alienao em que vivem esses adolescentes das classes favorecidas. Com tempo de sobra, eles no tm em que empregar tanta liberdade. Ou querem dizer que essas simples caras pintadas tm qualquer simbologia semelhante das mscaras de dana das tribos primitivas estudadas por Lvi-Strauss? Para aquelas tribos ndias, as mscaras eram o atestado da onipresena do sobrenatural e da pujana dos 10mitos. Mas esses adolescentes urbanos no tm tanta complexidade. Movido a MTV e shopping centers, o esprito deles vive nas trevas. A ausncia de conhecimento e saber limita-lhes os desejos e as atitudes. Em tempos mais admirveis, ou em sociedades mais ideais, essa massa de vagabundos estaria ajudando a cortar cana nos campos, envolvidos com a reforma agrria, em programas de assistncia social nas favelas ou com crianas de rua, ou mesmo explorando os sertes e florestas do pas, como faziam os estudantes do extinto 15projeto Rondon. Hoje, mais do que nunca, h uma tendncia caracterstica da mentalidade das elites da economia capitalista de adulao da adolescncia, de excessivo prolongamento da mesma e da excessiva indulgncia para com esse perodo tido como de intensos processos conflituosos e persistentes esforos de auto-afirmao. Desde adolescente, sempre olhei com desprezo esse tratamento que se pretende dar adolescncia (ou 20pelo menos a certa camada social adolescente): um cuidado especial, semelhante ao que se d s mulheres grvidas. Pois exatamente esse pisar em ovos da sociedade que acaba por transformar a adolescncia num grande vazio, numa gravidez do nada, numa angustiante fase de absoro dos valores sociais e de integrao social. Se os adolescentes se ocupassem mais, sofreriam menos ou pelo menos amadureceriam de verdade, 25solidrios, ocupados com o sofrimento real dos outros. Mas no, ficam vagabundando pelos semforos das cidades, catando moedas para festas e outras leviandades. E o que pior, sentindo-se deuses por terem conseguido decorar um punhado de frmulas e datas e resumos de livros que os fizeram passar no teste para entrar na universidade. A mim que trabalhava e estudava ao mesmo tempo desde os 15 anos causava alarme o esprito de 30vagabundagem que, cultuado na adolescncia, vi prolongar-se na realidade alienada de uma universidade pblica. Na Universidade de So Paulo, onde estudei, os filhos dos ricos ainda passam anos na hibernao adolescente sustentada pelo dinheiro pblico. (Marilene Felinto. In: Folha de S. Paulo, 25/02/1997.) Considere o excerto abaixo: No Brasil, um meio de reafirmar, na passagem para a vida adulta, que o jovem estudante pertence mesmo a uma sociedade autoritria, violenta e de privilgio. (Texto 1, linhas 3 a 5) Preserva-se o sentido da frase abaixo, caso a palavra em destaque seja substituda por

Questão 25
2007Português

(ITA - 2007 - 1 FASE) TEXTO 1 O ritual brasileiro do trote 1Estamos na poca dos trotes em calouros de universidade, um ritual coletivo to brasileirinho quanto o Carnaval e a carnavalizao da Justia nas CPIs. O trote medieval como a universidade e quase deixou de existir em lugar civilizado. No Brasil, um meio de reafirmar, na passagem para a vida adulta, que o jovem estudante pertence mesmo a uma sociedade 5autoritria, violenta e de privilgio. Submisso e humilhao so a essncia do rito, mas expressivas mesmo so suas formas: o calouro muita vez obrigado a assumir o papel de pobre brasileiro. A humilhao tambm faz parte da iniciao universitria americana, embora nesse caso o rito marque a entrada na irmandade, sinal de exclusivismo e vivncia de segredos de uma elite que se ressente da falta de aristocracia e de mistrios em sua sociedade ideologicamente 10igualitria e laica. De incio, como em muito ritual, o jovem descaracterizado e marcado fisicamente. sujo de tinta, de lama, at de porcarias excrementcias; raspam sua cabea. Ao mesmo tempo que apaga simbolicamente sua identidade, a pichao do calouro lhe confere a marca do privilegiado universitrio (so poucos e tm cadeia especial!). Pais e estudantes se orgulham da marca suja e da violncia. 15Na mmica da humilhao dos servos, o jovem colocado em fila, amarrado ou de mos dadas, e conduzido pelas ruas, como se fazia com escravos, como a polcia faz com favelados. jogado em fontes imundas, como garotos de rua. Deve esmolar para seu veterano-cafeto. Na aula-trote, o veterano vinga-se do professor autoritrio ao encenar sua raiva e descarreg-la no calouro, com o que a estupidez se reproduz. Como universidade at outro dia era privilgio oligrquico, o trote nasceu na oligarquia, imitada pelos 20arrivistas. Da oligarquia veio ainda o ritual universitrio do assalto a restaurantes (pindura), rito de iniciao pelo qual certa elite indica que se exclui da ordem legal dos comuns. De vez em quando, ferem, aleijam ou matam um garoto na cretinice do trote. Ningum punido. Os oligarcas velhos relevam: acidente. No, no: tudo de propsito. (Vinicius Torres Freire. In: Folha de S. Paulo, 13/02/2006.) Arrivista. Pessoa inescrupulosa, que quer vencer na vida a todo custo. (Dicionrio Aurlio Eletrnico. Verso 2.0.) TEXTO 2 Vagabundagem universitria comea no trote 1Todo comeo de ano a mesma cena: calouros de universidades, as cabeas raspadas e as caras pintadas, incitados ou obrigados por veteranos, ocupam os sinais de trnsito pedindo dinheiro aos motoristas. uma das formas do chamado trote, o mais artificial dos ritos de iniciao da mais artificial das instituies contemporneas a universidade. 5O trote nada mais do que o retrato da alienao em que vivem esses adolescentes das classes favorecidas. Com tempo de sobra, eles no tm em que empregar tanta liberdade. Ou querem dizer que essas simples caras pintadas tm qualquer simbologia semelhante das mscaras de dana das tribos primitivas estudadas por Lvi-Strauss? Para aquelas tribos ndias, as mscaras eram o atestado da onipresena do sobrenatural e da pujana dos 10mitos. Mas esses adolescentes urbanos no tm tanta complexidade. Movido a MTV e shopping centers, o esprito deles vive nas trevas. A ausncia de conhecimento e saber limita-lhes os desejos e as atitudes. Em tempos mais admirveis, ou em sociedades mais ideais, essa massa de vagabundos estaria ajudando a cortar cana nos campos, envolvidos com a reforma agrria, em programas de assistncia social nas favelas ou com crianas de rua, ou mesmo explorando os sertes e florestas do pas, como faziam os estudantes do extinto 15projeto Rondon. Hoje, mais do que nunca, h uma tendncia caracterstica da mentalidade das elites da economia capitalista de adulao da adolescncia, de excessivo prolongamento da mesma e da excessiva indulgncia para com esse perodo tido como de intensos processos conflituosos e persistentes esforos de auto-afirmao. Desde adolescente, sempre olhei com desprezo esse tratamento que se pretende dar adolescncia (ou 20pelo menos a certa camada social adolescente): um cuidado especial, semelhante ao que se d s mulheres grvidas. Pois exatamente esse pisar em ovos da sociedade que acaba por transformar a adolescncia num grande vazio, numa gravidez do nada, numa angustiante fase de absoro dos valores sociais e de integrao social. Se os adolescentes se ocupassem mais, sofreriam menos ou pelo menos amadureceriam de verdade, 25solidrios, ocupados com o sofrimento real dos outros. Mas no, ficam vagabundando pelos semforos das cidades, catando moedas para festas e outras leviandades. E o que pior, sentindo-se deuses por terem conseguido decorar um punhado de frmulas e datas e resumos de livros que os fizeram passar no teste para entrar na universidade. A mim que trabalhava e estudava ao mesmo tempo desde os 15 anos causava alarme o esprito de 30vagabundagem que, cultuado na adolescncia, vi prolongar-se na realidade alienada de uma universidade pblica. Na Universidade de So Paulo, onde estudei, os filhos dos ricos ainda passam anos na hibernao adolescente sustentada pelo dinheiro pblico. (Marilene Felinto. In: Folha de S. Paulo, 25/02/1997.) Quais conectivos NO podem ser colocados entre a primeira e a segunda frase e, entre esta e a terceira, respectivamente, preservando-se o sentido proposto pelo texto? De vez em quando, ferem, aleijam ou matam um garoto na cretinice do trote. Ningum punido. Os oligarcas velhos relevam: acidente. (Texto 1, linhas 22 e 23)

Questão 26
2007Português

(ITA - 2007 - 1 FASE) TEXTO 1 O ritual brasileiro do trote 1Estamos na poca dos trotes em calouros de universidade, um ritual coletivo to brasileirinho quanto o Carnaval e a carnavalizao da Justia nas CPIs. O trote medieval como a universidade e quase deixou de existir em lugar civilizado. No Brasil, um meio de reafirmar, na passagem para a vida adulta, que o jovem estudante pertence mesmo a uma sociedade 5autoritria, violenta e de privilgio. Submisso e humilhao so a essncia do rito, mas expressivas mesmo so suas formas: o calouro muita vez obrigado a assumir o papel de pobre brasileiro. A humilhao tambm faz parte da iniciao universitria americana, embora nesse caso o rito marque a entrada na irmandade, sinal de exclusivismo e vivncia de segredos de uma elite que se ressente da falta de aristocracia e de mistrios em sua sociedade ideologicamente 10igualitria e laica. De incio, como em muito ritual, o jovem descaracterizado e marcado fisicamente. sujo de tinta, de lama, at de porcarias excrementcias; raspam sua cabea. Ao mesmo tempo que apaga simbolicamente sua identidade, a pichao do calouro lhe confere a marca do privilegiado universitrio (so poucos e tm cadeia especial!). Pais e estudantes se orgulham da marca suja e da violncia. 15Na mmica da humilhao dos servos, o jovem colocado em fila, amarrado ou de mos dadas, e conduzido pelas ruas, como se fazia com escravos, como a polcia faz com favelados. jogado em fontes imundas, como garotos de rua. Deve esmolar para seu veterano-cafeto. Na aula-trote, o veterano vinga-se do professor autoritrio ao encenar sua raiva e descarreg-la no calouro, com o que a estupidez se reproduz. Como universidade at outro dia era privilgio oligrquico, o trote nasceu na oligarquia, imitada pelos 20arrivistas. Da oligarquia veio ainda o ritual universitrio do assalto a restaurantes (pindura), rito de iniciao pelo qual certa elite indica que se exclui da ordem legal dos comuns. De vez em quando, ferem, aleijam ou matam um garoto na cretinice do trote. Ningum punido. Os oligarcas velhos relevam: acidente. No, no: tudo de propsito. (Vinicius Torres Freire. In: Folha de S. Paulo, 13/02/2006.) Arrivista. Pessoa inescrupulosa, que quer vencer na vida a todo custo. (Dicionrio Aurlio Eletrnico. Verso 2.0.) TEXTO 2 Vagabundagem universitria comea no trote 1Todo comeo de ano a mesma cena: calouros de universidades, as cabeas raspadas e as caras pintadas, incitados ou obrigados por veteranos, ocupam os sinais de trnsito pedindo dinheiro aos motoristas. uma das formas do chamado trote, o mais artificial dos ritos de iniciao da mais artificial das instituies contemporneas a universidade. 5O trote nada mais do que o retrato da alienao em que vivem esses adolescentes das classes favorecidas. Com tempo de sobra, eles no tm em que empregar tanta liberdade. Ou querem dizer que essas simples caras pintadas tm qualquer simbologia semelhante das mscaras de dana das tribos primitivas estudadas por Lvi-Strauss? Para aquelas tribos ndias, as mscaras eram o atestado da onipresena do sobrenatural e da pujana dos 10mitos. Mas esses adolescentes urbanos no tm tanta complexidade. Movido a MTV e shopping centers, o esprito deles vive nas trevas. A ausncia de conhecimento e saber limita-lhes os desejos e as atitudes. Em tempos mais admirveis, ou em sociedades mais ideais, essa massa de vagabundos estaria ajudando a cortar cana nos campos, envolvidos com a reforma agrria, em programas de assistncia social nas favelas ou com crianas de rua, ou mesmo explorando os sertes e florestas do pas, como faziam os estudantes do extinto 15projeto Rondon. Hoje, mais do que nunca, h uma tendncia caracterstica da mentalidade das elites da economia capitalista de adulao da adolescncia, de excessivo prolongamento da mesma e da excessiva indulgncia para com esse perodo tido como de intensos processos conflituosos e persistentes esforos de auto-afirmao. Desde adolescente, sempre olhei com desprezo esse tratamento que se pretende dar adolescncia (ou 20pelo menos a certa camada social adolescente): um cuidado especial, semelhante ao que se d s mulheres grvidas. Pois exatamente esse pisar em ovos da sociedade que acaba por transformar a adolescncia num grande vazio, numa gravidez do nada, numa angustiante fase de absoro dos valores sociais e de integrao social. Se os adolescentes se ocupassem mais, sofreriam menos ou pelo menos amadureceriam de verdade, 25solidrios, ocupados com o sofrimento real dos outros. Mas no, ficam vagabundando pelos semforos das cidades, catando moedas para festas e outras leviandades. E o que pior, sentindo-se deuses por terem conseguido decorar um punhado de frmulas e datas e resumos de livros que os fizeram passar no teste para entrar na universidade. A mim que trabalhava e estudava ao mesmo tempo desde os 15 anos causava alarme o esprito de 30vagabundagem que, cultuado na adolescncia, vi prolongar-se na realidade alienada de uma universidade pblica. Na Universidade de So Paulo, onde estudei, os filhos dos ricos ainda passam anos na hibernao adolescente sustentada pelo dinheiro pblico. (Marilene Felinto. In: Folha de S. Paulo, 25/02/1997.) No Texto 1, da frase No, no: tudo de propsito., permitido inferir que, para o autor, o propsito do trote

Questão 27
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(ITA - 2007 - 1 FASE) TEXTO 1 O ritual brasileiro do trote 1Estamos na poca dos trotes em calouros de universidade, um ritual coletivo to brasileirinho quanto o Carnaval e a carnavalizao da Justia nas CPIs. O trote medieval como a universidade e quase deixou de existir em lugar civilizado. No Brasil, um meio de reafirmar, na passagem para a vida adulta, que o jovem estudante pertence mesmo a uma sociedade 5autoritria, violenta e de privilgio. Submisso e humilhao so a essncia do rito, mas expressivas mesmo so suas formas: o calouro muita vez obrigado a assumir o papel de pobre brasileiro. A humilhao tambm faz parte da iniciao universitria americana, embora nesse caso o rito marque a entrada na irmandade, sinal de exclusivismo e vivncia de segredos de uma elite que se ressente da falta de aristocracia e de mistrios em sua sociedade ideologicamente 10igualitria e laica. De incio, como em muito ritual, o jovem descaracterizado e marcado fisicamente. sujo de tinta, de lama, at de porcarias excrementcias; raspam sua cabea. Ao mesmo tempo que apaga simbolicamente sua identidade, a pichao do calouro lhe confere a marca do privilegiado universitrio (so poucos e tm cadeia especial!). Pais e estudantes se orgulham da marca suja e da violncia. 15Na mmica da humilhao dos servos, o jovem colocado em fila, amarrado ou de mos dadas, e conduzido pelas ruas, como se fazia com escravos, como a polcia faz com favelados. jogado em fontes imundas, como garotos de rua. Deve esmolar para seu veterano-cafeto. Na aula-trote, o veterano vinga-se do professor autoritrio ao encenar sua raiva e descarreg-la no calouro, com o que a estupidez se reproduz. Como universidade at outro dia era privilgio oligrquico, o trote nasceu na oligarquia, imitada pelos 20arrivistas. Da oligarquia veio ainda o ritual universitrio do assalto a restaurantes (pindura), rito de iniciao pelo qual certa elite indica que se exclui da ordem legal dos comuns. De vez em quando, ferem, aleijam ou matam um garoto na cretinice do trote. Ningum punido. Os oligarcas velhos relevam: acidente. No, no: tudo de propsito. (Vinicius Torres Freire. In: Folha de S. Paulo, 13/02/2006.) Arrivista. Pessoa inescrupulosa, que quer vencer na vida a todo custo. (Dicionrio Aurlio Eletrnico. Verso 2.0.) TEXTO 2 Vagabundagem universitria comea no trote 1Todo comeo de ano a mesma cena: calouros de universidades, as cabeas raspadas e as caras pintadas, incitados ou obrigados por veteranos, ocupam os sinais de trnsito pedindo dinheiro aos motoristas. uma das formas do chamado trote, o mais artificial dos ritos de iniciao da mais artificial das instituies contemporneas a universidade. 5O trote nada mais do que o retrato da alienao em que vivem esses adolescentes das classes favorecidas. Com tempo de sobra, eles no tm em que empregar tanta liberdade. Ou querem dizer que essas simples caras pintadas tm qualquer simbologia semelhante das mscaras de dana das tribos primitivas estudadas por Lvi-Strauss? Para aquelas tribos ndias, as mscaras eram o atestado da onipresena do sobrenatural e da pujana dos 10mitos. Mas esses adolescentes urbanos no tm tanta complexidade. Movido a MTV e shopping centers, o esprito deles vive nas trevas. A ausncia de conhecimento e saber limita-lhes os desejos e as atitudes. Em tempos mais admirveis, ou em sociedades mais ideais, essa massa de vagabundos estaria ajudando a cortar cana nos campos, envolvidos com a reforma agrria, em programas de assistncia social nas favelas ou com crianas de rua, ou mesmo explorando os sertes e florestas do pas, como faziam os estudantes do extinto 15projeto Rondon. Hoje, mais do que nunca, h uma tendncia caracterstica da mentalidade das elites da economia capitalista de adulao da adolescncia, de excessivo prolongamento da mesma e da excessiva indulgncia para com esse perodo tido como de intensos processos conflituosos e persistentes esforos de auto-afirmao. Desde adolescente, sempre olhei com desprezo esse tratamento que se pretende dar adolescncia (ou 20pelo menos a certa camada social adolescente): um cuidado especial, semelhante ao que se d s mulheres grvidas. Pois exatamente esse pisar em ovos da sociedade que acaba por transformar a adolescncia num grande vazio, numa gravidez do nada, numa angustiante fase de absoro dos valores sociais e de integrao social. Se os adolescentes se ocupassem mais, sofreriam menos ou pelo menos amadureceriam de verdade, 25solidrios, ocupados com o sofrimento real dos outros. Mas no, ficam vagabundando pelos semforos das cidades, catando moedas para festas e outras leviandades. E o que pior, sentindo-se deuses por terem conseguido decorar um punhado de frmulas e datas e resumos de livros que os fizeram passar no teste para entrar na universidade. A mim que trabalhava e estudava ao mesmo tempo desde os 15 anos causava alarme o esprito de 30vagabundagem que, cultuado na adolescncia, vi prolongar-se na realidade alienada de uma universidade pblica. Na Universidade de So Paulo, onde estudei, os filhos dos ricos ainda passam anos na hibernao adolescente sustentada pelo dinheiro pblico. (Marilene Felinto. In: Folha de S. Paulo, 25/02/1997.) No texto 2, segundo a autora, dois substantivos caracterizam a adolescncia de classes favorecidas:

Questão 28
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(ITA - 2007 - 1 FASE) TEXTO 1 O ritual brasileiro do trote 1Estamos na poca dos trotes em calouros de universidade, um ritual coletivo to brasileirinho quanto o Carnaval e a carnavalizao da Justia nas CPIs. O trote medieval como a universidade e quase deixou de existir em lugar civilizado. No Brasil, um meio de reafirmar, na passagem para a vida adulta, que o jovem estudante pertence mesmo a uma sociedade 5autoritria, violenta e de privilgio. Submisso e humilhao so a essncia do rito, mas expressivas mesmo so suas formas: o calouro muita vez obrigado a assumir o papel de pobre brasileiro. A humilhao tambm faz parte da iniciao universitria americana, embora nesse caso o rito marque a entrada na irmandade, sinal de exclusivismo e vivncia de segredos de uma elite que se ressente da falta de aristocracia e de mistrios em sua sociedade ideologicamente 10igualitria e laica. De incio, como em muito ritual, o jovem descaracterizado e marcado fisicamente. sujo de tinta, de lama, at de porcarias excrementcias; raspam sua cabea. Ao mesmo tempo que apaga simbolicamente sua identidade, a pichao do calouro lhe confere a marca do privilegiado universitrio (so poucos e tm cadeia especial!). Pais e estudantes se orgulham da marca suja e da violncia. 15Na mmica da humilhao dos servos, o jovem colocado em fila, amarrado ou de mos dadas, e conduzido pelas ruas, como se fazia com escravos, como a polcia faz com favelados. jogado em fontes imundas, como garotos de rua. Deve esmolar para seu veterano-cafeto. Na aula-trote, o veterano vinga-se do professor autoritrio ao encenar sua raiva e descarreg-la no calouro, com o que a estupidez se reproduz. Como universidade at outro dia era privilgio oligrquico, o trote nasceu na oligarquia, imitada pelos 20arrivistas. Da oligarquia veio ainda o ritual universitrio do assalto a restaurantes (pindura), rito de iniciao pelo qual certa elite indica que se exclui da ordem legal dos comuns. De vez em quando, ferem, aleijam ou matam um garoto na cretinice do trote. Ningum punido. Os oligarcas velhos relevam: acidente. No, no: tudo de propsito. (Vinicius Torres Freire. In: Folha de S. Paulo, 13/02/2006.) Arrivista. Pessoa inescrupulosa, que quer vencer na vida a todo custo. (Dicionrio Aurlio Eletrnico. Verso 2.0.) TEXTO 2 Vagabundagem universitria comea no trote 1Todo comeo de ano a mesma cena: calouros de universidades, as cabeas raspadas e as caras pintadas, incitados ou obrigados por veteranos, ocupam os sinais de trnsito pedindo dinheiro aos motoristas. uma das formas do chamado trote, o mais artificial dos ritos de iniciao da mais artificial das instituies contemporneas a universidade. 5O trote nada mais do que o retrato da alienao em que vivem esses adolescentes das classes favorecidas. Com tempo de sobra, eles no tm em que empregar tanta liberdade. Ou querem dizer que essas simples caras pintadas tm qualquer simbologia semelhante das mscaras de dana das tribos primitivas estudadas por Lvi-Strauss? Para aquelas tribos ndias, as mscaras eram o atestado da onipresena do sobrenatural e da pujana dos 10mitos. Mas esses adolescentes urbanos no tm tanta complexidade. Movido a MTV e shopping centers, o esprito deles vive nas trevas. A ausncia de conhecimento e saber limita-lhes os desejos e as atitudes. Em tempos mais admirveis, ou em sociedades mais ideais, essa massa de vagabundos estaria ajudando a cortar cana nos campos, envolvidos com a reforma agrria, em programas de assistncia social nas favelas ou com crianas de rua, ou mesmo explorando os sertes e florestas do pas, como faziam os estudantes do extinto 15projeto Rondon. Hoje, mais do que nunca, h uma tendncia caracterstica da mentalidade das elites da economia capitalista de adulao da adolescncia, de excessivo prolongamento da mesma e da excessiva indulgncia para com esse perodo tido como de intensos processos conflituosos e persistentes esforos de auto-afirmao. Desde adolescente, sempre olhei com desprezo esse tratamento que se pretende dar adolescncia (ou 20pelo menos a certa camada social adolescente): um cuidado especial, semelhante ao que se d s mulheres grvidas. Pois exatamente esse pisar em ovos da sociedade que acaba por transformar a adolescncia num grande vazio, numa gravidez do nada, numa angustiante fase de absoro dos valores sociais e de integrao social. Se os adolescentes se ocupassem mais, sofreriam menos ou pelo menos amadureceriam de verdade, 25solidrios, ocupados com o sofrimento real dos outros. Mas no, ficam vagabundando pelos semforos das cidades, catando moedas para festas e outras leviandades. E o que pior, sentindo-se deuses por terem conseguido decorar um punhado de frmulas e datas e resumos de livros que os fizeram passar no teste para entrar na universidade. A mim que trabalhava e estudava ao mesmo tempo desde os 15 anos causava alarme o esprito de 30vagabundagem que, cultuado na adolescncia, vi prolongar-se na realidade alienada de uma universidade pblica. Na Universidade de So Paulo, onde estudei, os filhos dos ricos ainda passam anos na hibernao adolescente sustentada pelo dinheiro pblico. (Marilene Felinto. In: Folha de S. Paulo, 25/02/1997.) A expresso em destaque em Hoje, mais do que nunca, h uma tendncia [...] (Texto 2, linha 16) pode ser substituda por:

Questão 29
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(ITA - 2007 - 1 FASE) TEXTO 1 O ritual brasileiro do trote 1Estamos na poca dos trotes em calouros de universidade, um ritual coletivo to brasileirinho quanto o Carnaval e a carnavalizao da Justia nas CPIs. O trote medieval como a universidade e quase deixou de existir em lugar civilizado. No Brasil, um meio de reafirmar, na passagem para a vida adulta, que o jovem estudante pertence mesmo a uma sociedade 5autoritria, violenta e de privilgio. Submisso e humilhao so a essncia do rito, mas expressivas mesmo so suas formas: o calouro muita vez obrigado a assumir o papel de pobre brasileiro. A humilhao tambm faz parte da iniciao universitria americana, embora nesse caso o rito marque a entrada na irmandade, sinal de exclusivismo e vivncia de segredos de uma elite que se ressente da falta de aristocracia e de mistrios em sua sociedade ideologicamente 10igualitria e laica. De incio, como em muito ritual, o jovem descaracterizado e marcado fisicamente. sujo de tinta, de lama, at de porcarias excrementcias; raspam sua cabea. Ao mesmo tempo que apaga simbolicamente sua identidade, a pichao do calouro lhe confere a marca do privilegiado universitrio (so poucos e tm cadeia especial!). Pais e estudantes se orgulham da marca suja e da violncia. 15Na mmica da humilhao dos servos, o jovem colocado em fila, amarrado ou de mos dadas, e conduzido pelas ruas, como se fazia com escravos, como a polcia faz com favelados. jogado em fontes imundas, como garotos de rua. Deve esmolar para seu veterano-cafeto. Na aula-trote, o veterano vinga-se do professor autoritrio ao encenar sua raiva e descarreg-la no calouro, com o que a estupidez se reproduz. Como universidade at outro dia era privilgio oligrquico, o trote nasceu na oligarquia, imitada pelos 20arrivistas. Da oligarquia veio ainda o ritual universitrio do assalto a restaurantes (pindura), rito de iniciao pelo qual certa elite indica que se exclui da ordem legal dos comuns. De vez em quando, ferem, aleijam ou matam um garoto na cretinice do trote. Ningum punido. Os oligarcas velhos relevam: acidente. No, no: tudo de propsito. (Vinicius Torres Freire. In: Folha de S. Paulo, 13/02/2006.) Arrivista. Pessoa inescrupulosa, que quer vencer na vida a todo custo. (Dicionrio Aurlio Eletrnico. Verso 2.0.) TEXTO 2 Vagabundagem universitria comea no trote 1Todo comeo de ano a mesma cena: calouros de universidades, as cabeas raspadas e as caras pintadas, incitados ou obrigados por veteranos, ocupam os sinais de trnsito pedindo dinheiro aos motoristas. uma das formas do chamado trote, o mais artificial dos ritos de iniciao da mais artificial das instituies contemporneas a universidade. 5O trote nada mais do que o retrato da alienao em que vivem esses adolescentes das classes favorecidas. Com tempo de sobra, eles no tm em que empregar tanta liberdade. Ou querem dizer que essas simples caras pintadas tm qualquer simbologia semelhante das mscaras de dana das tribos primitivas estudadas por Lvi-Strauss? Para aquelas tribos ndias, as mscaras eram o atestado da onipresena do sobrenatural e da pujana dos 10mitos. Mas esses adolescentes urbanos no tm tanta complexidade. Movido a MTV e shopping centers, o esprito deles vive nas trevas. A ausncia de conhecimento e saber limita-lhes os desejos e as atitudes. Em tempos mais admirveis, ou em sociedades mais ideais, essa massa de vagabundos estaria ajudando a cortar cana nos campos, envolvidos com a reforma agrria, em programas de assistncia social nas favelas ou com crianas de rua, ou mesmo explorando os sertes e florestas do pas, como faziam os estudantes do extinto 15projeto Rondon. Hoje, mais do que nunca, h uma tendncia caracterstica da mentalidade das elites da economia capitalista de adulao da adolescncia, de excessivo prolongamento da mesma e da excessiva indulgncia para com esse perodo tido como de intensos processos conflituosos e persistentes esforos de auto-afirmao. Desde adolescente, sempre olhei com desprezo esse tratamento que se pretende dar adolescncia (ou 20pelo menos a certa camada social adolescente): um cuidado especial, semelhante ao que se d s mulheres grvidas. Pois exatamente esse pisar em ovos da sociedade que acaba por transformar a adolescncia num grande vazio, numa gravidez do nada, numa angustiante fase de absoro dos valores sociais e de integrao social. Se os adolescentes se ocupassem mais, sofreriam menos ou pelo menos amadureceriam de verdade, 25solidrios, ocupados com o sofrimento real dos outros. Mas no, ficam vagabundando pelos semforos das cidades, catando moedas para festas e outras leviandades. E o que pior, sentindo-se deuses por terem conseguido decorar um punhado de frmulas e datas e resumos de livros que os fizeram passar no teste para entrar na universidade. A mim que trabalhava e estudava ao mesmo tempo desde os 15 anos causava alarme o esprito de 30vagabundagem que, cultuado na adolescncia, vi prolongar-se na realidade alienada de uma universidade pblica. Na Universidade de So Paulo, onde estudei, os filhos dos ricos ainda passam anos na hibernao adolescente sustentada pelo dinheiro pblico. (Marilene Felinto. In: Folha de S. Paulo, 25/02/1997.) Os trechos abaixo foram extrados dos Textos 1 e 2. Assinale a opo em que h uma definio para a palavra em destaque:

Questão 30
2007Português

(ITA - 2007 - 1 FASE) TEXTO 1 O ritual brasileiro do trote 1Estamos na poca dos trotes em calouros de universidade, um ritual coletivo to brasileirinho quanto o Carnaval e a carnavalizao da Justia nas CPIs. O trote medieval como a universidade e quase deixou de existir em lugar civilizado. No Brasil, um meio de reafirmar, na passagem para a vida adulta, que o jovem estudante pertence mesmo a uma sociedade5autoritria, violenta e de privilgio. Submisso e humilhao so a essncia do rito, mas expressivas mesmo so suas formas: o calouro muita vez obrigado a assumir o papel de pobre brasileiro. A humilhao tambm faz parte da iniciao universitria americana, embora nesse caso o rito marque a entrada na irmandade, sinal de exclusivismo e vivncia de segredos de uma elite que se ressente da falta de aristocracia e de mistrios em sua sociedade ideologicamente10igualitria e laica. De incio, como em muito ritual, o jovem descaracterizado e marcado fisicamente. sujo de tinta, de lama, at de porcarias excrementcias; raspam sua cabea. Ao mesmo tempo que apaga simbolicamente sua identidade, a pichao do calouro lhe confere a marca do privilegiado universitrio (so poucos e tm cadeia especial!). Pais e estudantes se orgulham da marca suja e da violncia. 15Na mmica da humilhao dos servos, o jovem colocado em fila, amarrado ou de mos dadas, e conduzido pelas ruas, como se fazia com escravos, como a polcia faz com favelados. jogado em fontes imundas, como garotos de rua. Deve esmolar para seu veterano-cafeto. Na aula-trote, o veterano vinga-se do professor autoritrio ao encenar sua raiva e descarreg-la no calouro, com o que a estupidez se reproduz. Como universidade at outro dia era privilgio oligrquico, o trote nasceu na oligarquia, imitada pelos20arrivistas. Da oligarquia veio ainda o ritual universitrio do assalto a restaurantes (pindura), rito de iniciao pelo qual certa elite indica que se exclui da ordem legal dos comuns. De vez em quando, ferem, aleijam ou matam um garoto na cretinice do trote. Ningum punido. Os oligarcas velhos relevam: acidente. No, no: tudo de propsito. (Vinicius Torres Freire. In: Folha de S. Paulo, 13/02/2006.) Arrivista. Pessoa inescrupulosa, que quer vencer na vida a todo custo. (Dicionrio Aurlio Eletrnico. Verso 2.0.) TEXTO 2 Vagabundagem universitria comea no trote 1Todo comeo de ano a mesma cena: calouros de universidades, as cabeas raspadas e as caras pintadas, incitados ou obrigados por veteranos, ocupam os sinais de trnsito pedindo dinheiro aos motoristas. uma das formas do chamado trote, o mais artificial dos ritos de iniciao da mais artificial das instituies contemporneas a universidade. 5O trote nada mais do que o retrato da alienao em que vivem esses adolescentes das classes favorecidas. Com tempo de sobra, eles no tm em que empregar tanta liberdade. Ou querem dizer que essas simples caras pintadas tm qualquer simbologia semelhante das mscaras de dana das tribos primitivas estudadas por Lvi-Strauss? Para aquelas tribos ndias, as mscaras eram o atestado da onipresena do sobrenatural e da pujana dos10mitos. Mas esses adolescentes urbanos no tm tanta complexidade. Movido a MTV e shopping centers, o esprito deles vive nas trevas. A ausncia de conhecimento e saber limita-lhes os desejos e as atitudes. Em tempos mais admirveis, ou em sociedades mais ideais, essa massa de vagabundos estaria ajudando a cortar cana nos campos, envolvidos com a reforma agrria, em programas de assistncia social nas favelas ou com crianas de rua, ou mesmo explorando os sertes e florestas do pas, como faziam os estudantes do extinto15projeto Rondon. Hoje, mais do que nunca, h uma tendncia caracterstica da mentalidade das elites da economia capitalista de adulao da adolescncia, de excessivo prolongamento da mesma e da excessiva indulgncia para com esse perodo tido como de intensos processos conflituosos e persistentes esforos de auto-afirmao. Desde adolescente, sempre olhei com desprezo esse tratamento que se pretende dar adolescncia (ou20pelo menos a certa camada social adolescente): um cuidado especial, semelhante ao que se d s mulheres grvidas. Pois exatamente esse pisar em ovos da sociedade que acaba por transformar a adolescncia num grande vazio, numa gravidez do nada, numa angustiante fase de absoro dos valores sociais e de integrao social. Se os adolescentes se ocupassem mais, sofreriam menos ou pelo menos amadureceriam de verdade,25solidrios, ocupados com o sofrimento real dos outros. Mas no, ficam vagabundando pelos semforos das cidades, catando moedas para festas e outras leviandades. E o que pior, sentindo-se deuses por terem conseguido decorar um punhado de frmulas e datas e resumos de livros que os fizeram passar no teste para entrar na universidade. A mim que trabalhava e estudava ao mesmo tempo desde os 15 anos causava alarme o esprito de30vagabundagem que, cultuado na adolescncia, vi prolongar-se na realidade alienada de uma universidade pblica. Na Universidade de So Paulo, onde estudei, os filhos dos ricos ainda passam anos na hibernao adolescente sustentada pelo dinheiro pblico. (Marilene Felinto. In: Folha de S. Paulo, 25/02/1997.) O contedo contido entre parnteses no Texto 1, linha 20, e no Texto 2, linhas 19 e 20, funciona, respectivamente, como:

Questão 31
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(ITA - 2007 - 1 FASE) TEXTO 1 O ritual brasileiro do trote 1Estamos na poca dos trotes em calouros de universidade, um ritual coletivo to brasileirinho quanto o Carnaval e a carnavalizao da Justia nas CPIs. O trote medieval como a universidade e quase deixou de existir em lugar civilizado. No Brasil, um meio de reafirmar, na passagem para a vida adulta, que o jovem estudante pertence mesmo a uma sociedade 5autoritria, violenta e de privilgio. Submisso e humilhao so a essncia do rito, mas expressivas mesmo so suas formas: o calouro muita vez obrigado a assumir o papel de pobre brasileiro. A humilhao tambm faz parte da iniciao universitria americana, embora nesse caso o rito marque a entrada na irmandade, sinal de exclusivismo e vivncia de segredos de uma elite que se ressente da falta de aristocracia e de mistrios em sua sociedade ideologicamente 10igualitria e laica. De incio, como em muito ritual, o jovem descaracterizado e marcado fisicamente. sujo de tinta, de lama, at de porcarias excrementcias; raspam sua cabea. Ao mesmo tempo que apaga simbolicamente sua identidade, a pichao do calouro lhe confere a marca do privilegiado universitrio (so poucos e tm cadeia especial!). Pais e estudantes se orgulham da marca suja e da violncia. 15Na mmica da humilhao dos servos, o jovem colocado em fila, amarrado ou de mos dadas, e conduzido pelas ruas, como se fazia com escravos, como a polcia faz com favelados. jogado em fontes imundas, como garotos de rua. Deve esmolar para seu veterano-cafeto. Na aula-trote, o veterano vinga-se do professor autoritrio ao encenar sua raiva e descarreg-la no calouro, com o que a estupidez se reproduz. Como universidade at outro dia era privilgio oligrquico, o trote nasceu na oligarquia, imitada pelos 20arrivistas. Da oligarquia veio ainda o ritual universitrio do assalto a restaurantes (pindura), rito de iniciao pelo qual certa elite indica que se exclui da ordem legal dos comuns. De vez em quando, ferem, aleijam ou matam um garoto na cretinice do trote. Ningum punido. Os oligarcas velhos relevam: acidente. No, no: tudo de propsito. (Vinicius Torres Freire. In: Folha de S. Paulo, 13/02/2006.) Arrivista. Pessoa inescrupulosa, que quer vencer na vida a todo custo. (Dicionrio Aurlio Eletrnico. Verso 2.0.) TEXTO 2 Vagabundagem universitria comea no trote 1Todo comeo de ano a mesma cena: calouros de universidades, as cabeas raspadas e as caras pintadas, incitados ou obrigados por veteranos, ocupam os sinais de trnsito pedindo dinheiro aos motoristas. uma das formas do chamado trote, o mais artificial dos ritos de iniciao da mais artificial das instituies contemporneas a universidade. 5O trote nada mais do que o retrato da alienao em que vivem esses adolescentes das classes favorecidas. Com tempo de sobra, eles no tm em que empregar tanta liberdade. Ou querem dizer que essas simples caras pintadas tm qualquer simbologia semelhante das mscaras de dana das tribos primitivas estudadas por Lvi-Strauss? Para aquelas tribos ndias, as mscaras eram o atestado da onipresena do sobrenatural e da pujana dos 10mitos. Mas esses adolescentes urbanos no tm tanta complexidade. Movido a MTV e shopping centers, o esprito deles vive nas trevas. A ausncia de conhecimento e saber limita-lhes os desejos e as atitudes. Em tempos mais admirveis, ou em sociedades mais ideais, essa massa de vagabundos estaria ajudando a cortar cana nos campos, envolvidos com a reforma agrria, em programas de assistncia social nas favelas ou com crianas de rua, ou mesmo explorando os sertes e florestas do pas, como faziam os estudantes do extinto 15projeto Rondon. Hoje, mais do que nunca, h uma tendncia caracterstica da mentalidade das elites da economia capitalista de adulao da adolescncia, de excessivo prolongamento da mesma e da excessiva indulgncia para com esse perodo tido como de intensos processos conflituosos e persistentes esforos de auto-afirmao. Desde adolescente, sempre olhei com desprezo esse tratamento que se pretende dar adolescncia (ou 20pelo menos a certa camada social adolescente): um cuidado especial, semelhante ao que se d s mulheres grvidas. Pois exatamente esse pisar em ovos da sociedade que acaba por transformar a adolescncia num grande vazio, numa gravidez do nada, numa angustiante fase de absoro dos valores sociais e de integrao social. Se os adolescentes se ocupassem mais, sofreriam menos ou pelo menos amadureceriam de verdade, 25solidrios, ocupados com o sofrimento real dos outros. Mas no, ficam vagabundando pelos semforos das cidades, catando moedas para festas e outras leviandades. E o que pior, sentindo-se deuses por terem conseguido decorar um punhado de frmulas e datas e resumos de livros que os fizeram passar no teste para entrar na universidade. A mim que trabalhava e estudava ao mesmo tempo desde os 15 anos causava alarme o esprito de 30vagabundagem que, cultuado na adolescncia, vi prolongar-se na realidade alienada de uma universidade pblica. Na Universidade de So Paulo, onde estudei, os filhos dos ricos ainda passam anos na hibernao adolescente sustentada pelo dinheiro pblico. (Marilene Felinto. In: Folha de S. Paulo, 25/02/1997.) Ao tratar do trote nas universidades brasileiras, o autor do Texto 1 se reporta iniciao universitria americana e a autora do Texto 2, ao ritual das mscaras de dana das tribos primitivas. Essas relaes funcionam em ambos os textos como I.argumentos para as opinies por eles defendidas em seus textos; II.depreciao do ritual do trote praticado pelos universitrios brasileiros; III.distino entre rituais de sociedades civilizadas e primitivas. Ento, est(ao) correta(s):

Questão 32
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(ITA - 2007 - 1 FASE) TEXTO 1 O ritual brasileiro do trote 1Estamos na poca dos trotes em calouros de universidade, um ritual coletivo to brasileirinho quanto o Carnaval e a carnavalizao da Justia nas CPIs. O trote medieval como a universidade e quase deixou de existir em lugar civilizado. No Brasil, um meio de reafirmar, na passagem para a vida adulta, que o jovem estudante pertence mesmo a uma sociedade 5autoritria, violenta e de privilgio. Submisso e humilhao so a essncia do rito, mas expressivas mesmo so suas formas: o calouro muita vez obrigado a assumir o papel de pobre brasileiro. A humilhao tambm faz parte da iniciao universitria americana, embora nesse caso o rito marque a entrada na irmandade, sinal de exclusivismo e vivncia de segredos de uma elite que se ressente da falta de aristocracia e de mistrios em sua sociedade ideologicamente 10igualitria e laica. De incio, como em muito ritual, o jovem descaracterizado e marcado fisicamente. sujo de tinta, de lama, at de porcarias excrementcias; raspam sua cabea. Ao mesmo tempo que apaga simbolicamente sua identidade, a pichao do calouro lhe confere a marca do privilegiado universitrio (so poucos e tm cadeia especial!). Pais e estudantes se orgulham da marca suja e da violncia. 15Na mmica da humilhao dos servos, o jovem colocado em fila, amarrado ou de mos dadas, e conduzido pelas ruas, como se fazia com escravos, como a polcia faz com favelados. jogado em fontes imundas, como garotos de rua. Deve esmolar para seu veterano-cafeto. Na aula-trote, o veterano vinga-se do professor autoritrio ao encenar sua raiva e descarreg-la no calouro, com o que a estupidez se reproduz. Como universidade at outro dia era privilgio oligrquico, o trote nasceu na oligarquia, imitada pelos 20arrivistas. Da oligarquia veio ainda o ritual universitrio do assalto a restaurantes (pindura), rito de iniciao pelo qual certa elite indica que se exclui da ordem legal dos comuns. De vez em quando, ferem, aleijam ou matam um garoto na cretinice do trote. Ningum punido. Os oligarcas velhos relevam: acidente. No, no: tudo de propsito. (Vinicius Torres Freire. In: Folha de S. Paulo, 13/02/2006.) Arrivista. Pessoa inescrupulosa, que quer vencer na vida a todo custo. (Dicionrio Aurlio Eletrnico. Verso 2.0.) TEXTO 2 Vagabundagem universitria comea no trote 1Todo comeo de ano a mesma cena: calouros de universidades, as cabeas raspadas e as caras pintadas, incitados ou obrigados por veteranos, ocupam os sinais de trnsito pedindo dinheiro aos motoristas. uma das formas do chamado trote, o mais artificial dos ritos de iniciao da mais artificial das instituies contemporneas a universidade. 5O trote nada mais do que o retrato da alienao em que vivem esses adolescentes das classes favorecidas. Com tempo de sobra, eles no tm em que empregar tanta liberdade. Ou querem dizer que essas simples caras pintadas tm qualquer simbologia semelhante das mscaras de dana das tribos primitivas estudadas por Lvi-Strauss? Para aquelas tribos ndias, as mscaras eram o atestado da onipresena do sobrenatural e da pujana dos 10mitos. Mas esses adolescentes urbanos no tm tanta complexidade. Movido a MTV e shopping centers, o esprito deles vive nas trevas. A ausncia de conhecimento e saber limita-lhes os desejos e as atitudes. Em tempos mais admirveis, ou em sociedades mais ideais, essa massa de vagabundos estaria ajudando a cortar cana nos campos, envolvidos com a reforma agrria, em programas de assistncia social nas favelas ou com crianas de rua, ou mesmo explorando os sertes e florestas do pas, como faziam os estudantes do extinto 15projeto Rondon. Hoje, mais do que nunca, h uma tendncia caracterstica da mentalidade das elites da economia capitalista de adulao da adolescncia, de excessivo prolongamento da mesma e da excessiva indulgncia para com esse perodo tido como de intensos processos conflituosos e persistentes esforos de auto-afirmao. Desde adolescente, sempre olhei com desprezo esse tratamento que se pretende dar adolescncia (ou 20pelo menos a certa camada social adolescente): um cuidado especial, semelhante ao que se d s mulheres grvidas. Pois exatamente esse pisar em ovos da sociedade que acaba por transformar a adolescncia num grande vazio, numa gravidez do nada, numa angustiante fase de absoro dos valores sociais e de integrao social. Se os adolescentes se ocupassem mais, sofreriam menos ou pelo menos amadureceriam de verdade, 25solidrios, ocupados com o sofrimento real dos outros. Mas no, ficam vagabundando pelos semforos das cidades, catando moedas para festas e outras leviandades. E o que pior, sentindo-se deuses por terem conseguido decorar um punhado de frmulas e datas e resumos de livros que os fizeram passar no teste para entrar na universidade. A mim que trabalhava e estudava ao mesmo tempo desde os 15 anos causava alarme o esprito de 30vagabundagem que, cultuado na adolescncia, vi prolongar-se na realidade alienada de uma universidade pblica. Na Universidade de So Paulo, onde estudei, os filhos dos ricos ainda passam anos na hibernao adolescente sustentada pelo dinheiro pblico. (Marilene Felinto. In: Folha de S. Paulo, 25/02/1997.) A expresso E o que pior (Texto 2, linha 27) compara, respectivamente, os seguintes atributos da adolescncia:

Questão 33
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(ITA - 2007 - 1 FASE) TEXTO 1 O ritual brasileiro do trote 1Estamos na poca dos trotes em calouros de universidade, um ritual coletivo to brasileirinho quanto o Carnaval e a carnavalizao da Justia nas CPIs. O trote medieval como a universidade e quase deixou de existir em lugar civilizado. No Brasil, um meio de reafirmar, na passagem para a vida adulta, que o jovem estudante pertence mesmo a uma sociedade 5autoritria, violenta e de privilgio. Submisso e humilhao so a essncia do rito, mas expressivas mesmo so suas formas: o calouro muita vez obrigado a assumir o papel de pobre brasileiro. A humilhao tambm faz parte da iniciao universitria americana, embora nesse caso o rito marque a entrada na irmandade, sinal de exclusivismo e vivncia de segredos de uma elite que se ressente da falta de aristocracia e de mistrios em sua sociedade ideologicamente 10igualitria e laica. De incio, como em muito ritual, o jovem descaracterizado e marcado fisicamente. sujo de tinta, de lama, at de porcarias excrementcias; raspam sua cabea. Ao mesmo tempo que apaga simbolicamente sua identidade, a pichao do calouro lhe confere a marca do privilegiado universitrio (so poucos e tm cadeia especial!). Pais e estudantes se orgulham da marca suja e da violncia. 15Na mmica da humilhao dos servos, o jovem colocado em fila, amarrado ou de mos dadas, e conduzido pelas ruas, como se fazia com escravos, como a polcia faz com favelados. jogado em fontes imundas, como garotos de rua. Deve esmolar para seu veterano-cafeto. Na aula-trote, o veterano vinga-se do professor autoritrio ao encenar sua raiva e descarreg-la no calouro, com o que a estupidez se reproduz. Como universidade at outro dia era privilgio oligrquico, o trote nasceu na oligarquia, imitada pelos 20arrivistas. Da oligarquia veio ainda o ritual universitrio do assalto a restaurantes (pindura), rito de iniciao pelo qual certa elite indica que se exclui da ordem legal dos comuns. De vez em quando, ferem, aleijam ou matam um garoto na cretinice do trote. Ningum punido. Os oligarcas velhos relevam: acidente. No, no: tudo de propsito. (Vinicius Torres Freire. In: Folha de S. Paulo, 13/02/2006.) Arrivista. Pessoa inescrupulosa, que quer vencer na vida a todo custo. (Dicionrio Aurlio Eletrnico. Verso 2.0.) TEXTO 2 Vagabundagem universitria comea no trote 1Todo comeo de ano a mesma cena: calouros de universidades, as cabeas raspadas e as caras pintadas, incitados ou obrigados por veteranos, ocupam os sinais de trnsito pedindo dinheiro aos motoristas. uma das formas do chamado trote, o mais artificial dos ritos de iniciao da mais artificial das instituies contemporneas a universidade. 5O trote nada mais do que o retrato da alienao em que vivem esses adolescentes das classes favorecidas. Com tempo de sobra, eles no tm em que empregar tanta liberdade. Ou querem dizer que essas simples caras pintadas tm qualquer simbologia semelhante das mscaras de dana das tribos primitivas estudadas por Lvi-Strauss? Para aquelas tribos ndias, as mscaras eram o atestado da onipresena do sobrenatural e da pujana dos 10mitos. Mas esses adolescentes urbanos no tm tanta complexidade. Movido a MTV e shopping centers, o esprito deles vive nas trevas. A ausncia de conhecimento e saber limita-lhes os desejos e as atitudes. Em tempos mais admirveis, ou em sociedades mais ideais, essa massa de vagabundos estaria ajudando a cortar cana nos campos, envolvidos com a reforma agrria, em programas de assistncia social nas favelas ou com crianas de rua, ou mesmo explorando os sertes e florestas do pas, como faziam os estudantes do extinto 15projeto Rondon. Hoje, mais do que nunca, h uma tendncia caracterstica da mentalidade das elites da economia capitalista de adulao da adolescncia, de excessivo prolongamento da mesma e da excessiva indulgncia para com esse perodo tido como de intensos processos conflituosos e persistentes esforos de auto-afirmao. Desde adolescente, sempre olhei com desprezo esse tratamento que se pretende dar adolescncia (ou 20pelo menos a certa camada social adolescente): um cuidado especial, semelhante ao que se d s mulheres grvidas. Pois exatamente esse pisar em ovos da sociedade que acaba por transformar a adolescncia num grande vazio, numa gravidez do nada, numa angustiante fase de absoro dos valores sociais e de integrao social. Se os adolescentes se ocupassem mais, sofreriam menos ou pelo menos amadureceriam de verdade, 25solidrios, ocupados com o sofrimento real dos outros. Mas no, ficam vagabundando pelos semforos das cidades, catando moedas para festas e outras leviandades. E o que pior, sentindo-se deuses por terem conseguido decorar um punhado de frmulas e datas e resumos de livros que os fizeram passar no teste para entrar na universidade. A mim que trabalhava e estudava ao mesmo tempo desde os 15 anos causava alarme o esprito de 30vagabundagem que, cultuado na adolescncia, vi prolongar-se na realidade alienada de uma universidade pblica. Na Universidade de So Paulo, onde estudei, os filhos dos ricos ainda passam anos na hibernao adolescente sustentada pelo dinheiro pblico. (Marilene Felinto. In: Folha de S. Paulo, 25/02/1997.) Leia os fragmentos dos Textos 1 e 2. I. [...] um ritual coletivo to brasileirinho [...]. (Texto 1, linha 1) II. De incio, como em muito ritual, o jovem descaracterizado e marcado fisicamente. (Texto 1, linha 11) III. Se os adolescentes se ocupassem mais, sofreriam menos [...]. (Texto 2, linha 24) IV. [...] terem conseguido decorar um punhado de frmulas e datas e resumos de livros [...]. (Texto 2, linhas 27 e 28) H depreciao por parte dos autores em: