(UECE - 2002)
HERANÇA
Vamos brincar de Brasil?
Mas sou eu quem manda
Quero morar numa casa grande ...
Começou desse jeito a nossa história.
Negro fez papel de sombra.
E foram chegando soldados e frades
Trouxeram as leis e os Dez-Mandamentos
Jabuti perguntou:
“- Ora é só isso?”
Depois vieram as mulheres do próximo
Vieram imigrantes com alma a retalho
Brasil subiu até o 10º andar
Litoral riu com os motores
Subúrbio confraternizou com a cidade
Negro coçou piano e fez música
Vira-bosta mudou de vida
Maitacas se instalaram no alto dos galhos
No interior
o Brasil continua desconfiado
A serra morde as carretas
Povo puxa bendito pra vir chuva
Nas estradas vazias
cruzes sem nome marcam casos de morte
As vinganças continuam
Famílias se entredevoram nas tocaias
Há noites de reza e cata-piolho
Nas bandas do cemitério
Cachorro magro sem dono uiva sozinho
De vez em quando
a mula-sem-cabeça sobe a serra
ver o Brasil como vai
Raul Bopp
No poema “Herança”,
revelam-se as influências dos povos que deram origem ao brasileiro
superestima-se a voz do colonizador português
minimiza-se a importância do negro na formação do povo brasileiro
subestima-se a influência do índio em nossa cultura