(Uema 2016)
A incivilidade gourmet
(...) Em entrevista à Folha de S. Paulo, o sociólogo espanhol Manuel Castells chegou a tempo de enfiar o dedo nas escancaradas escaras da sociedade brasileira. (...) “A imagem mítica do brasileiro simpático só existe no samba. Na relação entre pessoas, sempre foi violento. A sociedade brasileira não é simpática, é uma sociedade que se mata”.
Continua a matéria, “para os leitores de Sergio Buarque de Holanda, o sociólogo espanhol apenas redescobre as raízes da sociedade brasileira plantadas nos terraços da escravidão, entre a casa-grande e suas senzalas. (...) Sob a capa do afeto, o cordialismo esconde as crueldades da discriminação e da desigualdade.”
BELLUZZO, Luiz Gonzaga. A incivilidade gourmet. Carta Capital, Ano XXI, Nº 854.
A matéria retratada aponta como ilusória a ideia de que o brasileiro teria como característica a cordialidade, sendo, ao contrário, preconceituoso e agressivo. As frases expressivas da arrogância discriminativa presente no cotidiano da sociedade brasileira estão indicadas em
“Você não pode discutir comigo porque não fez faculdade.” “Quem poderia resolver essa situação?”
“E você, quem é mesmo?” “Um momento enquanto verifico o seu processo.”
“A culpa é da Princesa Isabel.” “Este é o número do seu protocolo, agora é só esperar”.
“Eu sou o doutor Fulano de Tal.” “O senhor será o próximo a ser atendido.”
“O senhor sabe com quem está falando?” “Coloque-se no seu lugar.”