(Uepa 2014) Produzir e divulgar livros em Portugal, no século XV, estava longe de ser uma tarefa tranquila. Em 1451, no mesmo ano em que Johannes Gutenberg (1400-1468) revolucionou a Europa com a prensa mecânica, o rei Afonso V (1432-1481) promulgava um alvará mandando queimar livros falsos ou heréticos, difundidos ainda como manuscritos. Foi sob este clima de forte repressão cultural que o país adotou a tipografia, por volta de 1490. Durante o reinado de D. Manuel I, entre 1495 e 1521, o ofício ganhou impulso, graças à ação empreendedora de Valentin Fernandes, um alemão de nome lusitano. Essa expansão, porém, não significou o fim da repressão.
(ZILBERMAN, Regina. “Letras entre a cruz e a espada”. In: Revista História. Ano 2, nº 19, 2005, p.68).
A censura à publicação de livros no Império Português do século XVI, no contexto de expansão da arte tipográfica na Europa, se explica pelo fato de(a):
difusão das ideias humanistas através de obras de grande tiragem produzidas por escritores renascentistas portugueses como Luís de Camões e Gil Vicente, ferozes opositores da doutrina católica.
preocupação geopolítica de controlar a difusão de ideias religiosas e políticas nas colônias americanas, de modo a conter a notória expansão religiosa protestante na América Portuguesa, como ocorreu com a instalação da França Antártica.
criação da tipografia ser avaliada pelo Tribunal do Santo Ofício como uma ameaça ao domínio ideológico católico na Península Ibérica, já abalado pela forte presença religiosa islâmica.
nova tecnologia ser vista pelo estado português de forma ambivalente: tanto como revolução cultural quanto como instrumento de subversão dos princípios morais da sociedade civil e religiosa.
invenção dos tipos móveis ter sido feita por um alemão protestante, o que assinalava o perigo do domínio político-religioso alemão da nova tecnologia, num contexto de disputa por espaços coloniais entre as potências europeias.