(UFMS - 2018)
Leia o texto a seguir:
Último poema
Agora deixa o livro
volta os olhos
para a janela
a cidade
a rua
o chão
o corpo mais próximo
tuas próprias mãos:
aí também
se lê
MARQUES, Ana Martins. O livro das semelhanças. São Paulo: Companhia das Letras, 2015, p. 29.
Em O livro das semelhanças (2015), a poeta Ana Martins Marques aproxima-se de uma espécie de estética do cotidiano, em poemas nos quais a sensibilidade pode ser objeto da poesia a partir de relações estabelecidas com sensações ou objetos do senso comum. Em “Último poema”, o eu lírico:
volta-se para a materialidade das coisas de modo a separar, em universos descontínuos, o literário e a vida.
convoca o leitor a enxergar a poesia além do livro, contida no mundo e no próprio corpo e que carece do olhar para ser percebida.
decreta o fim da poesia de modo panfletário o que, metonimicamente, relaciona-se com o fim do livro na era digital.
explicita que está nas mãos do leitor a responsabilidade sobre a interpretação, prescindindo da leitura.
manifesta-se centrado em sua subjetividade a partir de uma oposição maniqueísta entre o exterior e o interior, sendo este hierarquicamente superior àquele.