(UFRJ - 2004)
Saímos à varanda, dali à chácara, e foi então que notei uma circunstância. Eugênia coxeava um pouco, tão pouco, que eu cheguei a perguntar-lhe se machucara o pé. A mãe calou-se; e a filha respondeu sem titubear:
- Não, senhor, sou coxa de nascença.
O pior é que era coxa. Uns olhos tão lúcidos, uma boca tão fresca, uma compostura tão senhoril; e coxa! Esse contraste faria suspeitar que a natureza é às vezes um imenso escárnio. Por que bonita, se coxa? Por que coxa, se bonita?
Essa voz saía de mim mesmo, e tinha duas origens: a piedade, que me desarmava ante a candura da pequena, e o terror de vir a amar deveras, e desposá-la. Uma mulher coxa!
Foi na varanda, na tarde de uma segunda-feira, ao anunciar-lhe que na seguinte manhã partiria:
- Adeus, suspirou ela, faz bem em fugir ao ridículo de casar comigo.
Ia dizer-lhe que não; ela retirou-se lentamente, engolindo as lágrimas. Alcancei-a a poucos passos, e jurei-lhe por todos os santos do céu que eu era obrigado a partir, mas que não deixava de lhe querer muito; tudo hipérboles frias, que ela escutou sem dizer nada.
Adap. de: ASSIS, M. de. Memórias Póstumas de Brás Cubas. São Paulo: Ática, 1991, 17ª ed., p. 53-55.
"Eugênia coxeava um pouco, tão pouco, que eu cheguei a perguntar-lhe se MACHUCARA o pé."
A forma verbal destacada pode ser substituída, sem alteração de sentido, pela forma composta
teria machucado.
tivesse machucado.
tinha machucado.
tem machucado.
teve machucado.