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(ENEM - 2016)Prolas absolutasH, no seio de uma ost

Português | Interpretação de texto | noção de texto | fatores linguísticos e pragmáticos | fatores semânticos e linguísticos da textualidade
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(ENEM - 2016)

Pérolas absolutas

Há, no seio de uma ostra, um movimento – ainda que imperceptível. Qualquer coisa imiscuiu-se pela fissura, uma partícula qualquer, diminuta e invisível. Venceu as paredes lacradas, que se fecham como a boca que tem medo de deixar escapar um segredo. Venceu. E agora penetra o núcleo da ostra, contaminando-lhe a própria substância. A ostra reage, imediatamente. E começa a secretar o nácar. É um mecanismo de defesa, uma tentativa de purificação contra a partícula invasora. Com uma paciência de fundo de mar, a ostra profanada continua seu trabalho incansável, secretando por anos a fio o nácar que aos poucos se vai solidificando. É dessa solidificação que nascem as pérolas.

As pérolas são, assim, o resultado de uma contaminação. A arte por vezes também. A arte é quase sempre a transformação da dor. [...] Escrever é preciso. É preciso continuar secretando o nácar, formar a pérola que talvez seja imperfeita, que talvez jamais seja encontrada e viva para sempre encerrada no fundo do mar. Talvez estas, as pérolas esquecidas, jamais achadas, as pérolas intocadas e por isso absolutas em si mesmas, guardem em si uma parcela faiscante da eternidade.

SEIXAS, H. Uma ilha chamada livro. Rio de Janeiro: Record, 2009 (fragmento).

Considerando os aspectos estéticos e semânticos presentes no texto, a imagem da pérola configura uma percepção que

A

reforça o valor do sofrimento e do esquecimento para o processo criativo.

B

ilustra o conflito entre a procura do novo e a rejeição ao elemento exótico.

C

concebe a criação literária como trabalho progressivo e de autoconhecimento.

D

expressa a ideia de atividade poética como experiência anônima e involuntária.

E

destaca o efeito introspectivo gerado pelo contato com o inusitado e com o desconhecido