(FMC - 2013)
Leia o soneto seguinte, de Augusto dos Anjos.
A ideia
De onde ela vem?! De que matéria bruta
Vem essa luz que sobre as nebulosas
Cai de incógnitas criptas misteriosas
Como as estalactites duma gruta?!
Vem da psicogenética e alta luta
Do feixe de moléculas nervosas,
Que, em desintegrações maravilhosas,
Delibera, e depois, quer e executa!
Vem do encéfalo absconso que a constringe,
Chega em seguida às cordas do laringe,
Tísica, tênue, mínima, raquítica...
Quebra a força centrípeta que a amarra,
Mas, de repente, e quase morta, esbarra
No mulambo da língua paralítica!
(ANJOS, A. Eu e outras poesias. São Paulo: Martins Fontes, 1994. p.13)
Com base nesse soneto, pode-se afirmar sobre a poesia de Augusto dos Anjos
Utilizando recursos precários de expressão, valoriza o poder da linguagem.
Fazendo uso da alegoria, aborda a decadência da sociedade escravocrata.
Por meio da força verbal, expressa aspectos agônicos do homem.
De posse de um léxico trivial, recupera as fontes clássicas do lirismo.