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(Uneb 2014) [...] Vinham vindo, com o trazer de co

Português | Literatura | modernismo no Brasil | 3a fase do modernismo no Brasil
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(Uneb 2014)  

[...] Vinham vindo, com o trazer de comitiva.
Aí, paravam. A filha–a moça–tinha pegado a cantar, levantando os braços, a cantiga não vigorava certa, nem no tom nem no se-dizer das palavras–o nenhum. A moça punha os olhos no alto, que nem os santos e os espantados, vinha enfeitada de disparates, num aspecto de admiração. Assim com panos e papéis, de diversas cores, uma carapuça em cima dos espantados cabelos, e enfunada em tantas roupas ainda de mais misturas, tiras e faixas, dependuradas– virundangas: matéria de maluco. A velha só estava de preto, com um fichu preto, ela batia com a cabeça, nos docementes. Sem tanto que diferentes, elas se assemelhavam.
Soroco estava dando o braço a elas, uma de cada lado. Em mentira, parecia entrada em igreja, num casório. Era uma tristeza. Parecia enterro. Todos ficavam de parte, a chusma de gente não querendo afirmar as vistas, por causa daqueles trasmodos e despropósitos, de fazer risos, e por conta de Soroco–para não parecer pouco caso. Ele hoje estava calçado de botinas, e de paletó, com chapéu grande, botara sua roupa melhor, os maltrapos. E estava reportado e atalhado, humildoso. Todos diziam a ele seus respeitos, de dó. Ele espondia: – “Deus vos pague essa despesa...”
O que os outros diziam: que Soroco tinha tido muita paciência. Sendo que não ia sentir falta dessas transtornadas pobrezinhas, era até um alívio. [...]
Tomara aquilo acabasse. O trem chegando, a máquina manobrando sozinha para vir pegar o carro. O trem apitou, e passou, se foi, o de sempre. [...]
Ele se sacudiu, de um jeito arrebentado, desacontecido, e virou, pra ir-s’ embora. Estava voltando para casa, como se estivesse indo para longe, fora de conta.
Mas parou. Em tanto que se esquisitou, parecia que ia perder o de si, parar de ser. Assim num excesso de espírito, fora de sentido. E foi o que não se podia prevenir: quem ia fazer siso naquilo?. Num rompido — ele começou a cantar, alterando, forte, mas sozinho para si-e era a cantiga, mesma de desatino, que as duas tanto tinham cantado. Cantava continuando.

ROSA, João Guimarães. “Soroco sua mãe, sua filha”. Primeiras estórias. 4. ed. Rio de Janeiro: José Olyimpio, s.d. p. 16-18.

Guimarães Rosa, escritor inserido na chamada Geração de 45 — Modernismo Brasileiro —, apresenta uma obra de cunho universalista.

O texto comprova isso porque 

A

se trata de uma prosa poética.

B

revela o pitoresco de uma cidade interiorana.

C

é escrito numa linguagem rica em neologismos.

D

enfoca um tema de caráter intimista e ligado à condição humana.

E

evidencia um problema de ordem social que atinge os mais pobres.