(Cftmg 2020) Poesia, minha tia, ilumine as certezas dos homens e os tons de minhas palavras. É que arrisco a prosa mesmo com balas atravessando os fonemas. É o verbo, aquele que é maior que o seu tamanho, que diz, faz e acontece. Aqui ele cambaleia baleado. Dito por bocas sem dentes e olhares cariados, nos conchavos de becos, nas decisões de morte. A areia move-se no fundo dos mares. A ausência de sol escurece mesmo as matas. O líquido-morango do sorvete mela as mãos. A palavra nasce no pensamento, desprende-se dos lábios adquirindo alma nos ouvidos, e às vezes essa magia sonora não salta à boca porque é engolida a seco. Massacrada no estômago com arroz e feijão a quase palavra é defecada ao invés de falada.
Falha a fala. Fala a bala.
Paulo Lins. Fragmento de Cidade de Deus. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.
Esse fragmento de texto ressalta a importância da literatura como forma de
manifestação de grupos marginalizados.
documentação da desigualdade social.
descrição da violência cotidiana.
validação da cultura dominante.