(G1 - cftmg 2020)
Foi uma experiência estranha, que começou diante da tela do computador e me jogou num estado de excitação mental absurdo. A sombra tinha uma inquietação contagiante. Tive até sintomas físicos. Um batimento acelerado no coração e um formigamento maluco, que começou nas minhas mãos, foi para os meus braços e chegou até as minhas pernas.
Uma certa hora, de repente, senti um tranco. Era a sombra, despregando de mim e ganhando liberdade total. Ela subiu no ar, enquanto eu dedilhava o teclado. Olhei perplexo para o seu rosto escuro e vazio. Flutuando, ela desceu até mim e pegou a minha mão. A sombra indomável imediatamente me suspendeu como se eu fosse um balão de gás.
Era incrível porque, mesmo estando longe do chão, e ganhando cada vez mais altura com a minha sombra mágica, parecia que os botões do teclado do meu computador continuavam sendo apertados, e sendo apertados por mim.
LACERDA, Rodrigo. O Fazedor de Velhos. São Paulo: Companhia das Letras, 2017. p. 122.
No fragmento, a descoberta da vocação para a literatura manifesta-se como
revelação do desdobramento do eu.
inquietação de natureza mística e religiosa.
expressão de traços sombrios da personalidade.
consciência da dificuldade do trabalho de escrita.