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VestibularEdição do vestibular
Disciplina

(FUVEST - 2002 - 1a fase)TEXTOSua histria tem pouc

(FUVEST - 2002 - 1a fase)

TEXTO

Sua história tem pouca coisa de notável. Fora Leonardo algibebe1 em Lisboa, sua pátria; aborrecera-se porém do negócio, e viera ao Brasil. Aqui chegando, não se sabe por proteção de quem, alcançou o emprego de que o vemos empossado, e que exercia, como dissemos, desde tempos remotos. Mas viera com ele no mesmo navio, não sei fazer o quê, uma certa Maria da hortaliça, quitandeira das praças de Lisboa, saloia2 rechonchuda e bonitota. O Leonardo, fazendo-se-lhe justiça, não era nesse tempo de sua mocidade mal apessoado, e sobretudo era maganão3. Ao sair do Tejo, estando a Maria encostada à borda do navio, o Leonardo fingiu que passava distraído por junto dela, e com o ferrado sapatão assentou-lhe uma valente pisadela no pé direito. A Maria, como se já esperasse por aquilo, sorriu-se como envergonhada do gracejo, e deu-lhe também em ar de disfarce um tremendo beliscão nas costas da mão esquerda. Era isto uma declaração em forma, segundo os usos da terra: levaram o resto do dia de namoro cerrado; ao anoitecer passou-se a mesma cena de pisadela e beliscão, com a diferença de serem desta vez um pouco mais fortes; e no dia seguinte estavam os dois amantes tão extremosos e familiares, que pareciam sê-lo de muitos anos.

(Manuel Antônio de Almeida, Memórias de um sargento de milícias)

Glossário:
1algibebe: mascate, vendedor ambulante.
2saloia: aldeã das imediações de Lisboa.
3maganão: brincalhão, jovial, divertido.

 

Neste excerto, o modo pelo qual é relatado o início do relacionamento entre Leonardo e Maria

A

manifesta os sentimentos antilusitanos do autor, que enfatiza a grosseria dos portugueses em oposição ao refinamento dos brasileiros.

B

revela os preconceitos sociais do autor, que retrata de maneira cômica as classes populares, mas de maneira respeitosa a aristocracia e o clero.

C

reduz as relações amorosas a seus aspectos sexuais e fisiológicos, conforme os ditames do Naturalismo.

D

opõe-se ao tratamento idealizante e sentimental das relações amorosas, dominante no Romantismo.

E

evidencia a brutalidade das relações inter-raciais, própria do contexto colonial-escravista.