(UFF - 2010)
INIMIGO OCULTO
dizem que
em algum ponto do cosmos
(Le silence éternel de ces espaces infinis m’effraie)*
um pedaço negro de rocha
do tamanho de uma cidade
- voa em nossa direção –
perdido em meio a muitos milhares de asteroides
impelido pelas curvaturas do
espaço-tempo
extraviado entre órbitas
e campos magnéticos
voa
em nossa direção
e quaisquer que sejam os desvios
e extravios
de seu curso
deles resultará
matematicamente
a inevitável colisão
não se sabe se quarta-feira próxima
ou no ano quatro bilhões e cinquenta e dois
da era cristã
Ferreira Gullar
*(O silêncio eterno desses espaços infinitos me assusta)
Identifique a opção que apresenta a explicação adequada para o efeito de sentido resultante do uso linguístico especificado.
Nos versos “um pedaço negro de rocha” / “voa em nossa direção” (versos 4-6), o uso do pronome possessivo “nossa” rompe o vínculo entre o eu lírico e os leitores.
Em “dizem que” (verso 1), a expressão do sujeito gramatical, na terceira pessoa do plural, sem antecedente textual claro, evidencia que o eu lírico se vale de uma outra voz para expressar o fato.
Nos versos “e quaisquer que sejam os desvios / e extravios / de seu curso” (versos 14-16), o pronome possessivo “seu” se reporta ao verso “em algum ponto do cosmos”. (verso 2)
O apagamento do objeto direto oracional em “não se sabe se” (verso 20) inviabiliza a referência a “inimigo oculto”. (título)
A combinação da preposição “de” com o pronome “eles”, empregado como pronome possessivo em “deles resultará” (verso 17), encaminha textualmente as consequências das “curvaturas do espaço-tempo”. (versos 8-9)