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VestibularEdição do vestibular
Disciplina

(UEFS-2014- Meio do ano)TEXTO:Zé Brasil era um pob

(UEFS-2014 - Meio do ano)

TEXTO:
Zé Brasil era um pobre coitado. Nasceu e sempre viveu em casebres de sapé e barro, desses de chão batido e sem mobília nenhuma... Nem cama tinha. Livros, só folhinhas – para ver as luas e se ia chover ou não, e  aquele livrinho do Fontoura com a história do Jeca Tatu. Coitado desse Jeca! dizia Zé Brasil, olhando para aquelas figuras. Tal qual eu. Tudo que ele tinha, eu também tenho.

A vida de Zé Brasil era a mais simples. Levantar de madrugada, tomar um cafezinho ralo (“escolha” com  rapadura), com farinha de milho (quando tinha) e ir para a roça pegar no cabo da enxada. O almoço ele o comia lá mesmo, levado pela mulher; arroz com feijão e farinha de mandioca, às vezes um torresmo ou um pedacinho de carne seca para enfeitar. Depois cabo da enxada  outra vez, até a hora do café do meio-dia. E novamente a enxada, quando não a foice ou o machado. A luta com a terra sempre foi brava.

A gente da cidade – como são cegas as gentes das cidades!... Esses doutores, esses escrevedores nos  jornais, esses deputados, paravam ali e era só crítica: vadio, indolente, sem ambição, imprestável... não havia o que não dissessem do Zé Brasil. Mas ninguém punha atenção nas doenças que derreavam aquele pobre homem – opilação, sezões, quanta verminose há,  malária. E cadê doutor? Cadê remédio? Cadê jeito? O jeito era sempre o mesmo: sofrer sem um gemido e ir trabalhando doente mesmo, até não aguentar mais e cair como cavalo que afrouxa. E morrer na velha esteira – e feliz se houver por ali alguma rede em que o  corpo vá para o cemitério, senão vai amarrado com cipó.

Mas você morre, Zé, e sua alma vai para o céu, disse um dia o padre – e Zé duvidou. Está aí uma coisa que só vendo! Minha ideia é que nem deixam minha alma entrar no céu. Tocam ela de lá, como aqui, na vida, o coronel Tatuíra já me tocou das terras dele.

LOBATO. Monteiro. In: LAJOLO, Marisa (org.). Literatura Comentada. 2. ed. São Paulo: Nova Cultural,  1988. p. 123. Adaptado. 

Segundo o narrador, Zé Brasil é 

A

 o homem do campo que, excluído do processo civilizatório, é explorado e esquecido na sua condição de miséria e doença. 

B

o caboclo que não se conforma com a situação  em  que se encontra, lutando para se legitimar como integrante da sociedade brasileira. 

C

o sertanejo que vive limitado à cultura rural e a hábitos ultrapassados, distanciando-se, por opção, da contemporaneidade e do progresso urbano. 

D

 o caipira que compreende a dinâmica econômica urbana e sustenta a estrutura de seu país, ciente de que, quando morrer, deixará uma lacuna insubstituível. 

E

 o indivíduo simplório que se alimenta mal e preserva hábitos que comprometem sua saúde, contraindo doenças inadmissíveis para a realidade brasileira do início do século XX.