Questões de Português - FUVEST | Gabarito e resoluções

(FUVEST - 2021 - 1 fase) Romance LIII ou das Palavras Areas Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potncia, a vossa! Ai, palavras, ai, palavras, sois de vento, ides no vento, no vento que no retorna, e, em to rpida existncia, tudo se forma e transforma! Sois de vento, ides no vento, e quedais, com sorte nova! (...) Ai, palavras, ai, palavras que estranha potncia, a vossa! Perdo podeis ter sido! -sois madeira que se corta, -sois vinte degraus de escada, -sois um pedao de corda... -sois povo pelas janelas, cortejo, bandeiras, tropa... Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potncia, a vossa! reis um sopro na aragem... -sois um homem que se enforca! Ceclia Meireles, Romanceiro da Inconfidncia. A estranha potncia que a voz lrica ressalta nas palavras decorre de uma combinao entre

(FUVEST - 2021 - 1 fase) Alferes, Ouro Preto em sombras Espera pelo batizado, Ainda que tarde sobre a morte do sonhador Ainda que tarde sobre as bocas do traidor. Raios de sol brilharo nos sinos: Dez vias dar. Ai Marlia, as liras e o amor No posso mais sufocar E a minha voz ir Pra muito al do desterro e do sal, Maior que a voz do rei. Aldir Blance e Joo Bosco, trecho da cano Alferes, de 1973. A imagem de Tiradentes - a quem Ceclia Meireles qualificou o Alferes imortal, radiosa expresso dos mais altos sonhos desta cidade, do Brasil e do prprio mundo, em palestra feita em Ouro Preto - torna a aparecer como smbola da luta pela liberdade em vrios momentos da cultura nacional. Os versos do letrista Aldir Blacn evocam, em novo contexto, o mrtir sonhador para resistir ao discurso

(FUVEST - 2021 - 1 FASE) I - Traste-me, Sem Medo. Tu traste-me. (...) Sabes o que tu s, afinal, Sem Medo? s um ciumento. Chego a pensar se no s homossexual. Tu queria-mes s, como tu. Um solitrio do Mayombe. (...) Desprezo-te. (...) Nunca me vers atrs de uma garrafa vazia. (...) Cada sucesso que eu tiver, ser a paga da tua bofetada, pois no serei um falhado como tu. Pepetela,Mayombe. Adaptado. II - Peo-te perdo, Sem Medo. No te compreendi, fui um imbecil. E quis igualar o inigualvel. Pepetela,Mayombe. Esses excertos deMayombereferem-se a conversas entre as personagens Comissrio e Sem Medo em momentos distintos do romance. Em I e II, as falas do Comissrio revelam, respectivamente,

(FUVEST - 2021 - 1 fase) Leusipo perguntou o que eu tinha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meu paternalismo ingnuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convenc-lo de que no havia motivo para preocupao. Tudo o que eu queria saber j era conhecido. E ele me perguntava: Ento, por que voc quer saber, se j sabe? Tentei lhe explicar que pretendia escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de fico (e mostrava o que tinha nas mos), que seria tudo historinha, sem nenhuma consequncia na realidade. Ele seguia incrdulo. Fazia-se de desentendido, mas na verdade s queria me intimidar. As minhas explicaes sobre o romance eram inteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que no acreditavam em deuses, a fico servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos ndios, e antes mesmo de terminar a frase, j no sabia se o idiota era ele ou eu. Ele no dizia nada a no ser: O que voc quer com o passado?. Repetia. E, diante da sua insistncia bovina, tive de me render evidncia de que eu no sabia responder sua pergunta. Bernado Carvalho, Nove noites. Adaptado. Sem prejuzo de sentido e fazendo as adaptaes necessrias, possvel substituir as expresses em destaque no texto, respectivamente, por

(FUVEST - 2021 - 1 fase) Leusipo perguntou o que eu tinha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meupaternalismoingnuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convenc-lo de que no havia motivo para preocupao. Tudo o que eu queria saber j era conhecido. E ele me perguntava: Ento, por que voc quer saber, se j sabe? Tentei lhe explicar que pretendia escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de fico (e mostrava o que tinha nas mos), que seria tudohistorinha, sem nenhuma consequncia na realidade. Ele seguia incrdulo. Fazia-se dedesentendido, mas na verdade s queria me intimidar. As minhas explicaes sobre o romance eram inteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que no acreditavam em deuses, a fico servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos ndios, e antes mesmo de terminar a frase, j no sabia se o idiota era ele ou eu. Ele no dizia nada a no ser: O que voc quer com o passado?. Repetia. E, diante da sua insistnciabovina, tive de me render evidncia de que eu no sabia responder sua pergunta. Bernado Carvalho,Nove noites. Adaptado. As respostas do narrador s perguntas de Leusipo so uma tentativa de disfarar o carter

(FUVEST - 2021 - 1 fase) Leusipo perguntou o que eu tinha ido fazer na aldeia. Preferi achar que o tom era amistoso e, no meupaternalismoingnuo, comecei a lhe explicar o que era um romance. Eu tentava convenc-lo de que no havia motivo para preocupao. Tudo o que eu queria saber j era conhecido. E ele me perguntava: Ento, por que voc quer saber, se j sabe? Tentei lhe explicar que pretendia escrever um livro e mais uma vez o que era um romance, o que era um livro de fico (e mostrava o que tinha nas mos), que seria tudohistorinha, sem nenhuma consequncia na realidade. Ele seguia incrdulo. Fazia-se dedesentendido, mas na verdade s queria me intimidar. As minhas explicaes sobre o romance eram inteis. Eu tentava dizer que, para os brancos que no acreditavam em deuses, a fico servia de mitologia, era o equivalente dos mitos dos ndios, e antes mesmo de terminar a frase, j no sabia se o idiota era ele ou eu. Ele no dizia nada a no ser: O que voc quer com o passado?. Repetia. E, diante da sua insistnciabovina, tive de me render evidncia de que eu no sabia responder sua pergunta. Bernado Carvalho,Nove noites. Adaptado. Na cena apresentada, que explora o desconforto gerado pela difcil interlocuo com o indgena, o narrador

(FUVEST - 2021 - 1 Fase) O primeiro captulo de Quincas Borba j apresenta ao leitor um elemento que ser fundamental na construo do romance:

(FUVEST - 2021 - 1 Fase) Claro enigma apresenta, por meio do lirismo reflexivo, o posicionamento do escritor perante a sua condio no mundo. Considerando-o como representativo desse seu aspecto, o poema Remisso

(FUVEST - 2021 - 1 Fase) O efeito de humor presente nas falas das personagens decorre

(FUVEST - 2021 - 1 Fase) Na orao queela dura (v.4), o pronome sublinhado

(FUVEST - 2021 - 1 Fase) Psicanlise do acar O acar cristal, ou acar de usina, mostra a mais instvel das brancuras: quem do Recife sabe direito o quanto, e o pouco desse quanto, que ela dura. Sabe o mnimo do pouco que o cristal se estabiliza cristal sobre o acar, por cima do fundo antigo, de mascavo, do mascavo barrento que se incuba; e sabe que tudo pode romper o mnimo em que o cristal capaz de censura: pois o tal fundo mascavo logo aflora quer inverno ou vero mele o acar. S os bangus* que-ainda purgam ainda o acar bruto com barro, de mistura; a usina j no o purga: da infncia, no de depois de adulto, ela o educa; em enfermarias, com vcuos e turbinas, em mos de metal de gente indstria, a usina o leva a sublimar em cristal o pardo do xarope: no o purga, cura. Mas como a cana se cria ainda hoje, em mos de barro de gente agricultura, o barrento da pr-infncia logo aflora quer inverno ou vero mele o acar. Joo Cabral de Melo Neto, A Educao pela Pedra. * bangu: engenho de acar primitivo movido a fora animal Os ltimos quatro versos do poema rompem com a srie de contrapontos entre a usina e o bangu, pois

(FUVEST - 2021 - 2 fase) O texto a seguir fragmento de um artigo de divulgao cientfica. A preferncia pela mo esquerda ou direita provavelmente resultado de um processo complexo, que envolve fatores genticos e ambientais. O novo estudo, fruto de uma colaborao internacional, a maior anlise gentica focada em canhotos da histria: utilizou dados de 1,7 milho de pessoas, extrados de bancos como o UK Biobank e a empresa privada 23andMe. Comparando os genomas de destros, canhotos e ambidestros, a equipe descobriu que h 41 pares de bases ligados s chances de uma pessoa ser canhota, e sete relacionados a ambidestros. Um par de bases , grosso modo, uma letrinha do DNA (A, T, C ou G). Cada gene contm as instrues para fabricar uma protena. Uma mudana em uma nica letrinha do gene capaz de mudar a sequncia de tijolinhos que constroem essa protena, e, por tabela, sua funo. Ou seja: o que os geneticistas encontraram foram 41 letrinhas de DNA que aparecem s em pessoas canhotas. Da at saber o que exatamente essas letrinhas mudam outra histria. B. Carbinatto, Estudo identifica 41 variaes no genoma associadas a pessoas canhotas. Adaptado. a) Retire do texto duas caractersticas lingusticas que permitem classific-lo como artigo de divulgao cientfica b) Quais os sentidos, no texto, gerados pelo emprego do diminutivo nas palavras letrinha(s) e tijolinhos? Explique.

(FUVEST - 2020 - 2 fase) Quarenta e seis anos depois, a vietnamita que comoveu o mundo quer que sua foto contribua para a paz S vi esse registro muito tempo depois. Passei 14 meses no hospital, tratando as queimaduras. Quando voltei para casa, meu pai me mostrou a foto, recortada de um jornal vietnamita: Aqui est sua foto, Kim. Olhei a foto e, meu Deus, como fiquei envergonhada! Como eu estava feia! E pelada! Todos estavam vestidos, e eu, uma menina, estava sem roupa. Vi a agonia e dor em meu rosto. Fiquei com raiva. Por que ele tirou aquela foto de mim? Era melhor no ter tirado nenhuma! Eu era s uma criana, mas tinha de lidar com muita dor. Quanto mais famosa a imagem ficava, mais eu precisava encarar minha tragdia. Kim Phuc Phan Thi, em depoimento a Ruan de Sousa Gabriel, 19/09/2018. Disponvel em https://epoca.globo.com/. a) Justifique o emprego das sentenas exclamativas, explicitando o motivo do espanto de Kim. b) A partir da expresso minha tragdia, que encerra o depoimento, analise os dois nveis de apreenso do evento trgico, considerando o momento do primeiro contato de Kim com oregistro fotogrfico e o momento do testemunho.

(FUVEST - 2020 - 2 fase) A reinveno da vrgula No comeo de 1902, Machado de Assis ficou desesperado por causa de um erro de reviso no prefcio da segunda edio de suas Poesias completas. Dizem que chegou a se ajoelhar aos ps do Garnier implorando para que o editor tirasse o livro de circulao. O aristocrtico e impoluto Machado, quem diria. Mas a gralha era mesmo feia. O tipgrafo trocou o E por A na palavra cegara, o revisor deixou passar, e vocs imaginam no que deu. No nosso caso, o erro no foi nada de mais, nem erro foi para falar a verdade, apenas um acrscimo besta de pontuao, talvez dispensvel, ainda que de modo algum incorreto. Vai o revisor, fiel ortodoxia da gramtica normativa, e espeta duas vrgulas para isolar um adjunto adverbial deslocado, coisa de pouca monta, diria algum, mas suficiente para o autor sair bradando aos quatro ventos que lhe roubaram o ritmo da sentena. Um editor experiente traria um cafezinho bem doce, a conter o mpeto dramtico do autor de primeira viagem, talvez caoando, deixa de onda, a lembrlo valhame Deus! que ele no nenhum Bruxo do Cosme Velho*. E assim lhe cortando as asas antes do voo. * Referente a Machado de Assis. Disponvel em https://jornal.usp.br/artigos/areinvencaodavirgula/. Adaptado. a) Qual o sentido da palavra espeta, destacada no texto, e qual o efeito que ela produz? b) Explique o significado, no texto, da expresso cortando as asas antes do voo

(FUVEST - 2020 - 2 fase) Tenho utilizado o conceito de precariado num sentido bastante preciso que se distingue, por exemplo, do significado dado por Guy Standing e Ruy Braga. Para mim, precariado é a camada média do proletariado urbano constituída por jovens adultos altamente escolarizados com inserção precária nas relações de trabalho e vida social. Para Guy Standing, autor do livro The Precariat: The new dangerous class, o precariado é uma nova classe social (o título da edição espanhola do livro é explícito: Precariado: una nueva clase social). Ruy Braga o critica, com razão, salientando que o precariado não é exterior à relação salarial que caracteriza o modo de produção capitalista, isto é, o precariado pertence sim à classe social do proletariado, sendo tão somente o proletariado precarizado. (...) Por outro lado, embora Ruy Braga (no livro A política do precariado) esteja correto em sua crítica do precariado como classe social exterior à relação salarial, ele equivoca se quando identifica o precariado meramente com o proletariado precarizado, perdendo, deste modo, a particularidade heurística do conceito capaz de dar visibilidade categorial às novas contradições do capitalismo global. Giovanni Alves, O que é precariado?. Disponível em https://blogdaboitempo.com.br/. Adaptado. a) Explique o processo de formao da palavra precariado, associandoo ao seu significado. b) Qual a funo sinttica da expresso com razo e o seu sentido na construo do texto